quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Impulso de retribuir sorriso é influenciado pelo status social do outro, diz estudo

Impulso de retribuir sorriso é influenciado pelo status social do outro, diz estudo


Sorriso genérico
A pesquisa sugere que sentimentos subjetivos de poder interferem no sorriso das pessoas.
O impulso de devolver, ou não, um sorriso de outra pessoa parece depender, em parte, de quão poderosa uma pessoa se sente e também do status social da pessoa que sorriu primeiro.
Indivíduos que se sentem poderosos reprimem seu impulso de imitar o comportamento do outro e sorrir de volta se o outro possui status elevado. Já aqueles que não se sentem poderosos tendem a devolver os sorrisos de todos, independentemente do status social de quem sorriu.
Essas são as conclusões de um estudo feito por Evan Carr, pesquisador do departamento de psicologia da University of California, em San Diego. O trabalho de Carr foi apresentado no início da semana durante um encontro anual da Society for Neuroscience em New Orleans, na Flórida, Estados Unidos.
Imitar o outro é um comportamento social que cumpre um papel importante no aprendizado, na compreensão e na comunicação entre duas pessoas. Carr quis examinar como o poder e o status influenciam a imitação de expressões faciais.
"Já foi demonstrado que a imitação ajuda a construir relacionamentos", disse Carr.
O trabalho do pesquisador revelou, em mais detalhes, como funciona esse mecanismo: "Poder e status parecem afetar a forma como, inconscientemente, usamos essa estratégia".
"Esses resultados mostram como as hierarquias sociais com frequência se formam sem aparecer no radar - com rapidez, eficiência e sem que as pessoas deem conta".
A equipe acredita que seu estudo traz contribuições importantes para pesquisas sobre emoções, relacionamentos e hierarquias sociais.
Imitação Inconsciente
Os pesquisadores pediram aos 55 participantes do estudo que escrevessem textos relatando acontecimentos agradáveis e desagradáveis de suas vidas. O objetivo era induzir no autor do texto sentimentos de poder ou de falta de poder.
(A equipe define o sentimento de poder como uma sensação subjetiva que um indivíduo sente de que ele é capaz de controlar ou influenciar as ações de outras pessoas.)
Depois de escrever os textos, os voluntários assistiram a vídeos alegres ou tristes mostrando pessoas de status alto (por exemplo, um médico) ou baixo (por exemplo, um funcionário de uma lanchonete).
Enquanto os participantes assistiam aos vídeos, a equipe mediu as respostas de dois músculos em seus rostos: o zigomático maior - o músculo do sorriso - que eleva os cantos da boca e o corrugador do supercílio - o músculo do cenho franzido - que franze a testa.
As medições permitiram que a equipe avaliasse mudanças sutis nos músculos faciais dos participantes, revelando que indivíduos que se sentiam poderosos apresentaram pouco movimento no músculo do sorriso em resposta a vídeos felizes mostrando pessoas de status alto.
Vídeos felizes mostrando pessoas de status baixo ativaram, com muito mais frequência, os músculos do sorriso em participantes que se sentiam poderosos.
O padrão mudou em relação a pessoas que se sentiam pouco poderosas. Nelas, o músculo do sorriso ficou ativo em resposta a vídeos felizes mostrando pessoas de vários status sociais - ou seja, pessoas que se sentiam pouco poderosas pareciam inclinadas a sorrir para todos.
O comportamento do músculo responsável pelo cenho franzido foi o mesmo em todos os participantes: o músculo apresentou maior atividade em resposta a pessoas de status alto com cenho franzido e também ficou ativo, embora com menor intensidade, em resposta a pessoas de status baixo com cenho franzido.
Para a equipe americana, os resultados sugerem que sentimentos subjetivos de poder ou de ausência de poder - que podem ser observados em comportamentos não verbais, como a imitação - podem ter grande impacto sobre a percepção das emoções do outro.

BBC Brasil

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A fé cura

A fé cura


Pesquisas sugerem novíssimas evidências de que a religiosidade tem o poder de auxiliar na cura de vários problemas de saúde — de tumores a depressão

por RAQUEL DE MEDEIROS | design GUILHERME COLUGNATTI | fotos DERCÍLIO


A recuperação de pacientes com câncer está diretamente ligada à sua religiosidade. Taxativo assim é o resumo dos resultados de um estudo realizado na Universidade de São Paulo, que foi divulgado há pouco. “Para começar, os pacientes que têm uma crença religiosa se mostram mais confiantes para lutar contra a doença”, explica a psicóloga Joelma Ana Espíndula, que liderou a pesquisa. O trabalho ouviu 12 voluntários em tratamento e 11 especialistas em oncologia do Hospital Beneficência Portuguesa, em Ribeirão Preto, no interior paulista. O surpreendente é que até mesmo os profissionais de saúde entrevistados ressaltaram a importância da religião para a melhora do quadro dos doentes. “A maioria deles acredita que a fé ajuda a superar um problema grave. Os médicos dizem que o sistema imunológico desses indivíduos aparenta ser mais resistente, e talvez por isso eles apresentem uma recuperação mais satisfatória”, conclui Joelma.

Outro estudo, que leva a assinatura da Universidade de Toronto, no Canadá, revela que a fé é um santo remédio contra a ansiedade e a depressão. Ele prova que pessoas religiosas ou que apenas acreditam na existência de Deus são menos angustiadas e sentem menor culpa em relação aos próprios erros. Os especialistas avaliaram a mente de 51 universitários por meio de testes e da eletroencefalografia, método que se vale de eletrodos dispostos na cabeça para medir as correntes elétricas do cérebro. A maioria dos participantes era cristã, mas no grupo também havia muçulmanos, hindus, budistas e ateus.

“Nossa principal descoberta foi perceber que há um elo entre as crenças religiosas e a atividade de uma parte da massa cinzenta chamada de córtex cingulado anterior”, conta a SAÚDE! o psicólogo Michael Inzlicht, que coordenou a pesquisa. “Quanto mais as pessoas acreditam em Deus, menos atuante é essa região.” Só para ter uma ideia, o córtex cingulado anterior costuma trabalhar em dobro em indivíduos pra lá de ansiosos.

O sentido que a religião dá para a vida dos pacientes pode ser a chave para explicar esse fenômeno. “Suspeitamos que se trata de uma proteção contra a ansiedade e a depressão porque ela dá um significado para a vida”, afirma Inzlicht. A oncologista Nise Yamaguchi, de São Paulo, compartilha da mesma opinião. “A performance física de um indivíduo depende de aspectos emocionais, mentais e espirituais. Quem acredita que a vida continua após a morte tem uma postura diferente da pessoa que não crê na continuidade”, diz Nise, uma das mais conceituadas especialistas em câncer do país. “Entre meus pacientes, percebo nitidamente o seguinte: aqueles que querem educar filhos ou deixar um legado lutam em dobro para recobrar suas forças.” Para dom João Evangelista Kovas, prior do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, as benesses da fé são amplas, mas não livram totalmente os homens de uma enfermidade. “Entre seus inúmeros benefícios, está inclusive a aquisição de mais saúde. Isso não quer dizer, porém, que aquele que tem fé não fique doente nem passe por dificuldades na vida. A condição humana presente é em muitos aspectos limitada.”
 DEVOÇÃO AOS SANTOS

A aposentada Maria Dolores Cantero Montejano, 69 anos, de Mombuca, no interior de São Paulo, teve dois grandes sustos há cerca de dois meses. Tudo começou com uma falta de ar, e o que era para ser uma simples consulta acabou na UTI. Ela foi diagnosticada com um aneurisma e uma infiltração pulmonar. Devota de São Frei Galvão e de Madre Paulina, Maria Dolores levou a imagem da santa para o hospital. “Rezei muito. Os médicos falaram que não sabiam como eu estava viva”, recorda-se. Depois de uma radiografia, a dona de casa teve outra surpresa desagradável: descobriu que estava com duas vértebras fraturadas. “Devo ter quebrado em julho do ano passado, quando levei um tombo e caí da escada”, diz Maria. “Agora não posso varrer o chão nem arrumar a cama. Preciso ficar de repouso para melhorar, mas consigo andar. Continuo com muita fé nos meus santos”, finaliza.

“Inúmeras pesquisas científicas mostram que pessoas espiritualizadas são fisicamente mais saudáveis, requerem menos assistência médica e, mesmo quando adoecem, têm recuperação mais rápida e menor taxa de mortalidade”, diz Marcelo Saad, fisiatra e coordenador do Comitê sobre Religiosidade-Espiritualidade em Saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. Estudioso do assunto, ele também revela que os indivíduos mais religiosos têm maior adaptação ao estresse, menor pendor ao abuso de drogas e álcool, além de apresentarem risco reduzido de desenvolver depressão ou cometer suicídio.

As orações da religião católica, assim como a meditação budista, podem baixar a pressão e fortalecer as nossas defesas à medida que acalmam a mente

A explicação pode estar em substâncias produzidas pelo corpo nos momentos em que rezamos, ocasiões que não deixam de ser agradáveis. “Nessas horas, o organismo secreta a serotonina, que é conhecida como o hormônio da felicidade”, explica Nise Yamaguchi.

E a serotonina é antagonista de outros hormônios, que entram em cena em situações de muita tensão, como o cortisol e a adrenalina. O problema é quando essa dupla vive em alta. Daí, potencializa baques na imunidade e faz a pressão subir que nem foguete. “Essas substâncias estão envolvidas na origem ou no agravamento de vários males. O câncer, por exemplo, é como um defeito que escapou à vigilância imunitária”, teoriza Saad. Em quem tem fé, entre outras coisas por causa da compensação da serotonina, os níveis do duo por trás de tanto nervosismo ficam mais baixos.

Apesar do entendimento crescente sobre o impacto da religião sobre as funções orgânicas, a ciência ainda engatinha nesse campo. “Estamos numa fase de questionamentos, e qualquer explicação mais específica de mecanismos é prematura. Ninguém, no entanto, pode duvidar de que a fé auxilia na recuperação de pacientes”, afirma o psicobiologista José Roberto Leite, da Universidade Federal de São Paulo. Além disso, muitas vezes a religiosidade pressupõe que a pessoa está dentro de um grupo de relacionamento, ou seja, aberta à interação social e à troca de afeto, o que é bastante significativo. “Um dos grandes poderes da fé pode estar nessa força de um indivíduo apoiando o outro”, completa Leite.
Revista saude é vital