quarta-feira, 30 de junho de 2010

Afinal, roubam água da Amazônia?

A visagem e a verdade

A advogada Ilma Barcelos, da OAB do Espírito Santo, recolocou em circulação uma das denúncias que constantemente vai e volta, sem perder ímpeto nem ganhar credibilidade: de que navios estrangeiros estariam roubando água na Amazônia. Segundo ela, cada navio carregaria em seus porões 250 milhões de litros por viagem. Essa água seria comercializada na Europa e no Oriente Médio.
Em minha primeira coluna neste espaço, tentei mostrar que essa pirataria ainda é fantasia. Principalmente porque não é econômica. Várias autoridades seguiram raciocínios idênticos ao serem questionadas sobre a denúncia. O porta-voz da Marinha garantiu que a água captada pelos navios é autorizada por convenção internacional e praticada em todos os países. Serve de lastro para que as embarcações tenham segurança em sua navegação. Assegurou que jamais o governo recebeu denúncia concreta sobre práticas ilícitas desse carregamento.
Já a Agência Nacional de Águas (ANA) recorreu aos argumentos econômicos para desmentir a prática de hidropirataria. Seu representante alegou não ser viável como negócio: o custo do frete da água levada da Amazônia para a Europa ou o Oriente Médio e do seu tratamento seria de três a cinco vezes superior ao custo da dessalinização da água usada em Israel ou na Arábia Saudita, onde o processo é utilizado. Ainda que o Brasil legalizasse e autorizasse os navios a levarem a água de graça, o custo do transporte e beneficiamento tornaria inviável a operação.
Há ainda um detalhe técnico relevante: 250 milhões de litros representam uma quantidade pequena de água bruta (ainda não potável) para venda, mas constituem volume expressivo para um navio. É tonelagem muito superior à dos cargueiros que costumam operar na bacia amazônica.
A advogada Ilma Barcelos desdenhou das explicações. Para ela, a hidropirataria só não se comprova porque a fiscalização dos órgãos públicos é falha.  Está disposta a contribuir para comprovar o que disse: vai formalizar uma denúncia à Marinha. Disse para a imprensa que já tinha “certeza absoluta que essas questões seriam negadas porque ninguém vai assumir que é incompetente em algum órgão”.
Como a denúncia repercutiu, circulando por redes na internet (não pela primeira vez e certamente não pela última), o deputado Lupércio Ramos (PMDB-AM) pediu a realização de audiência pública na Câmara Federal para tratar da questão. Também cobrou dos órgãos de defesa e de segurança a ampliação do sistema de fiscalização na Amazônia.  “O país precisa começar a discutir o direito de uso da água.  Nós devemos estar em alerta em relação à Amazônia, porque temos lá um patrimônio extraordinário”, justificou o parlamentar.
Para bem administrar esse patrimônio, porém, é preciso inventariá-lo, classificá-lo e usá-lo de forma correta, o que pressupõe conhecimento de causa. Aí é que mora o problema. A Amazônia é um tema tão universal quanto o futebol. Todos acham que entendem dela e dão seus palpites como se fossem a expressão absoluta da verdade. O contencioso amazônico é uma reunião de barbaridades.
É evidente, ao mais elementar iniciado em questões amazônicas, que não há a pirataria apontada pela advogada capixaba. Simplesmente porque ainda não dá lucro praticá-la. E porque, para colocá-la em curso, são requeridos providências e procedimentos que ninguém ainda identificou. Há irregularidades na navegação amazônica e ela é pessimamente fiscalizada. Mas a hidropirataria é um hidromito, ao menos por ora, como observou com sarcasmo o representante da ANA.
O brasileiro tem como seu patrimônio a maior bacia hidrográfica do planeta e o dilapida todos os dias na Amazônia. É um bem que atrai o interesse mundial, mas para outros fins, não como fonte de água potável – ou ainda não. Há um negócio muito mais atrativo, um dos mais rentáveis nos últimos anos em qualquer parte: a água engarrafada.
Ela é apresentada como se fosse água mineral, mas na maioria dos casos ou vem da rede pública ou de drenagens superficiais (não de uma fonte de água pura). Esta é uma autêntica pirataria, que rende bilhões de dólares de super-lucros indevidos. E é praticada à vista de todos sem provocar o impacto das denúncias da advogada capixaba.
Histórias chocantes e sensacionalistas, mesmo quando usadas como inspiração para defender a Amazônia, têm um efeito nocivo, principalmente por desviar a atenção do real para fantasias. Em 1976 um cientista denunciou que a Volkswagen havia posto fogo em um milhão de hectares na fazenda que possuía no sul do Pará. O incêndio havia sido detectado pelo satélite americano Skylab, o maior já registrado pelo homem.
A queimada era, na verdade, de 10 mil hectares, 100 vezes menor. Todos se desinteressaram pelo caso. Ainda assim, era a maior queimada feita em uma única temporada de fogo na Amazônia. A boa intenção do denunciante teve efeito reverso ao pretendido. O exagero foi o boi de piranha para a Volks desviar sua manada para longe da atenção da opinião pública.
Pouco depois surgiu a história de que submarinos emergiam à noite na sede do Projeto Jari, do milionário americano Daniel Ludwig, no Pará, para carregar ouro e minerais estratégicos. Muita gente acreditou e até um senador exigiu todo um aparato de segurança nacional do governo militar para ir a Monte Dourado verificar essas e outras denúncias.
Se esses submarinos conseguissem navegar pelas águas barrentas do Amazonas, evitando as toras de madeira que ele arrasta na época de cheias, até que seria um troféu justo ficarem com o ouro e os demais minérios. Um submarino cabe melhor numa fábula, porque fica escondido debaixo d’água. O problema é o outro lado do enredo. Um navio de carga faria um serviço muito melhor e mais econômico. Mas não se encaixaria na fantasia.
Também se dizia que, no meio do minério de ferro da Serra dos Carajás, as multinacionais estariam levando ouro ou urânio. Ferro se mede por milhões de toneladas para ser comercial. Ouro, em gramas. Urânio, em quilos. Um processo que permitisse separar ouro e urânio na extração de ferro seria uma revolução tecnológica.
Aos exploradores dos recursos naturais de Carajás, no Pará, basta o minério de ferro, o melhor que existe na crosta terrestre. Transportado, à razão de 90 milhões de toneladas anuais (volume que dobrará até o meio da década), para a Ásia e a Europa pelo maior trem de carga do mundo, em nove viagens diárias, é um autêntico negócio da China (para a China). Sem qualquer vestígio de outro bem.
Há muita pirataria e ilegalidade na Amazônia. Haveria muito menos se houvesse melhor fiscalização. Mais importante seria se houvesse melhor conhecimento, maior valorização do homem, mais retenção de suas riquezas em proveito de quem a habita. Valorizado, o amazônida cuidaria de separar o joio do trigo.
Ao invés de enfrentar fantasmas ao meio-dia ou zanzar atrás de bruxas circulando com vassouras pelo espaço, ele submeteria cada questão ao teste de consistência e à prova da verdade. Com a lição aprendida, talvez se colocasse em condições de escrever uma história melhor para a região. Sem fantasmagorias, mas também sem exploração.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

VOCÊ SABIA QUE MELÃO PODE INIBIR CRESCIMENTO DO CÂNCER DE MAMA?


É verdade! De acordo com estudo publicado na revista americana Pesquisa do Câncer (tradução livre do inglês) o Melão-de-São-Caetano ou mais conhecido como Melão Amargo, ou Melãozinho atua diretamente nas reações químicas que favorecem o crescimento do câncer de mama. A partir de observações laboratoriais percebeu-se que o extrato da fruta fazia as células cancerígenas se destruírem como também estimulava a divisão dessas células.
Para os pesquisadores o melãozinho que por muito tempo foi utilizado pela medicina popular para tratar diabetes e infecções pode agora ser utilizado como suplemento alimentar por pacientes com câncer de mama.
Apesar dos primeiros resultados animadores os responsáveis pelo estudo afirmam que não há provas substanciais de que a ingestão da fruta combata de fato o câncer. Os estudos foram realizados apenas em laboratório necessitando de experiências em humanos para que se confirme a sua eficácia no combate à doença e também os efeitos colaterais resultante do uso da droga produzida a partir do fruto.
De origem asiática, o Melão Amargo foi trazido da África pelos escravos que o batizaram de Melão-de-São-Caetano por ser parecido com um melão e por terem plantado as primeiras mudas ao redor de uma capelinha em que o padroeiro era São Caetano.
Você sabia? Tome ciência!

sábado, 12 de junho de 2010

Como nos tornamos gordos?

Para a jornalista inglesa Felicity Lawrence, a indústria da alimentação transformou tanto a nossa comida que mal sabemos o que estamos ingerindo

por Eduardo Szklarz

A jornalista inglesa Felicity Lawrence percebeu que havia algo errado com seu gato. O bichano não parava de engordar. Ela resolveu saber por que e descobriu que era culpa da ração, que levava quase os mesmos ingredientes das comidas prontas do supermercado: farinha de milho, derivados de soja, arroz, gordura vegetal hidrogenada, concentrado de proteínas, beterraba desidratada, um plus de ômega 3 e um delicioso sabor de atum. Gatos de antigamente não comiam essas coisas – e nós tampouco. Felicity resolveu investigar o tema e descobriu que a incidência de diabetes em gatos cresce pelo mesmo motivo que a diabetes em seres humanos. “Nossa dieta mudou completamente nos últimos 50 anos. Parece que nunca tivemos tanta escolha, mas na verdade um pequeno grupo de ingredientes – alguns nem usados como comida no passado – está presente em quase tudo o que comemos”, diz Felicity. “Mais de 60% da comida processada na Inglaterra contém soja em alguma forma, de queijos a sorvetes, de biscoitos a barras de cereal.” Segundo ela, acreditamos na aura saudável dos nutrientes que surgem todo dia nas embalagens, sem saber que essa dieta industrial tem provocado obesidade, diabetes, câncer e doenças do coração.

Como foi que nos tornamos gordos?

A obesidade pode ter várias causas, como a predisposição genética, mas certamente a combinação entre a dieta industrializada e a queda na atividade física desempenha um enorme papel. Isso aconteceu sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial, grandes companhias começaram a produzir comida barata e pouco nutritiva. Nessas décadas, os engenheiros de alimentos ficaram mais preocupados com o barateamento dos produtos e dos processos de produção que com a saúde dos consumidores. O que comemos hoje é resultado disso. Alimentos processados têm alto teor de energia, baixo valor nutricional e não produzem uma sensação de saciedade. Você come e, como não se sente satisfeito, vai para outra porção. Assim acaba ingerindo grande quantidade de caloria em pouco tempo.

O que provocou essa transformação na nossa forma de comer?

A correria do trabalho contribuiu, pois não temos muito tempo para fazer nossa própria comida. Mas talvez o fator mais importante seja o sistema adotado pela indústria de alimentos, que nos impede de saber como as comidas são produzidas. Quando vai a um supermercado, você encontra pedaços de carne, frango e porco, tudo empacotado, e não tem nenhuma idéia de onde vem tudo aquilo. Na verdade, comemos os mesmos ingredientes, mas achando que são alimentos diferentes. Nas últimas décadas, o jeito como consumimos gordura mudou drasticamente. Antes, sabíamos que estávamos ingerindo uma comida gordurosa. Hoje, a indústria de alimentos tornou a gordura algo invisível. Com o advento da gordura hidrogenada, um alimento novo que de repente apareceu em centenas de produtos, compramos alimentos sem saber o que eles realmente são. E quem decidiu isso não fomos nós, mas os custos, a facilidade de produção e até a política internacional.

Como assim?

O milho, por exemplo, está em quase um terço das comidas processadas no Reino Unido. A soja e seus derivados são usados em dois terços delas. Farelo de soja, proteína de soja, proteína vegetal hidrolisada, proteína texturizada de soja, óleo de soja e emulsificante lecitina de soja estão em barras de cereais, cornflakes, biscoitos, chocolates, sucos, salsichas, carnes processadas, margarinas, sorvetes, maioneses, queijos, massas de bolo e muitas outras comidas. O óleo de soja, um alimento que mal existia nos EUA no começo do século 20, é hoje responsável por 20% das calorias que os americanos ingerem. E isso vem de só 10% da soja do mundo, já que os outros 90% são usados como alimento em granjas. Também encontramos açúcar em suas várias formas (sacarose, oligofrutose, entre outras), farinha de arroz, óleo de milho, óleo de palma e diversos tipos de gorduras. Para a indústria da comida, essa é uma trilha ideal: começamos comendo papinha de bebê, passamos aos cereais empacotados e daí a comidas prontas. Ou seja, os mesmos ingredientes, só que em formas diversas.

Por que a indústria usa tanto grãos como soja?

Nos últimos 50 anos, os governos implantaram fortes subsídios a certos produtos agrícolas, como milho, soja e açúcar – as chamadas commodities. O resultado foi que elas puderam ser produzidas e vendidas no mercado global a preços baixos. Foi fácil parar de vender vegetais frescos e começar a vender grãos, açúcares e gorduras em produtos manufaturados baratos. Com a atual elevação do valor da soja, temos um problema, porque boa parte da comida processada depende dela.

A comida hoje provoca ansiedade ou prazer?

Ansiedade, e isso se deve, primeiro, porque nos desconectamos da forma como a comida é feita. Estamos muito confusos sobre o que é saudável e o que não é. Recebemos recomendações de todos os lados, muitas vezes determinadas por campanhas de marketing. Um dia temos que parar de comer gorduras saturadas, no outro gorduras trans, e assim por diante. A confusão é tanta que pedimos conselhos de empresas antes de comer, o que gera conseqüências desastrosas para a nossa saúde.

Quais?

O aumento do consumo de comida processada para bebês, por exemplo. Os pais preferem comprá-la porque já não confiam em si próprios. Acham que não podem fazer papinhas do jeito certo. Durante séculos, as pessoas compartilharam os pratos com os filhos, mas agora se submetem a instruções pseudocientíficas antes de decidir o que dar a eles. Também substituem leite materno por leite industrial. Os sabores do leite materno estimulam a bebê a buscar uma dieta variada de alimentos nos anos seguintes. Isso é fundamental para que ela desenvolva uma atitude saudável diante da comida. Do mesmo modo, a margarina já foi indicada como uma opção mais saudável que a manteiga. Hoje, acredita-se no contrário.

Qual o problema dos cereais que comemos no café-da-manhã?

São comidas tipicamente processadas. Quando o grão inteiro passa pelo sistema de processamento pesado, muitos de seus minerais e vitaminas são retirados – porque estragariam antes da venda – ou destruídos pelo calor. No final, as indústrias colocam de volta, para compensar, algumas vitaminas e minerais – que viram campanha de marketing do tipo “enriquecido com vitaminas”, “com ômega 3” ou “com ferro e cálcio”. Mas nada disso é comparável ao valor nutritivo que o grão inteiro tinha no início. Além do menor valor nutritivo, esse é um jeito muito caro de comer. Mais barato é comprar o grão inteiro e fazer o café-da-manhã com ele.

Essa alimentação também faz mal para o mundo?

É claro que esse sistema tem um custo social. De um lado, está a conseqüência para os consumidores – as taxas de obesidade aumentam em todo o mundo. De outro lado, está o interesse dos produtores. Para esse sistema funcionar, é preciso haver uma produção maciça de matéria-prima. Em diversos países, a zona rural virou um campo de produção para a indústria alimentícia. O Brasil é o melhor exemplo. Eu visitei a Amazônia e vi pessoalmente o que acontece. As áreas do sul da Amazônia que eram imensas florestas hoje são enormes plantações de soja.

Você diz que esse modelo de produção foi exportado para o mundo pelos EUA e pelas grandes corporações. Os poderosos são os únicos que nos fazem comer assim?

Não creio que exista uma conspiração. Mas foi por causa dessa estrutura que embarcamos num caminho pouco saudável. Muita gente sofre de doença car­díaca, câncer, diabetes, obesidade e outros problemas relacionados com a dieta. As indústrias de alimento lucram dizendo que estão “agregando valor”, mas na verdade agregam valor aos seus acionistas.

De que forma?

Com um simples grão, elas podem ganhar certa quantidade de dinheiro. Mas podem ganhar mais quando “agregam valor”. Ou seja: usando esse grão para alimentar animais e vendê-los na forma de carne. E podem ganhar ainda mais se processam essa carne para vender comida pronta. Quanto mais agregam valor, mais tiram os nutrientes – e maiores são as suas margens de lucro.

Por outro lado, muitos afirmam que o sistema industrial foi essencial para alimentar as populações maiores nas últimas décadas. Não concorda?

Esse é um dos argumentos. Mas a pergunta é: esse sistema está alimentando bem as pessoas? Segundo diversas fontes, há 1 bilhão de pessoas com sobrepeso no mundo, e muitas sofrem doenças relacionadas com a má alimentação. Ao mesmo tempo, existem também 850 milhões de pessoas que ainda passam fome todos os dias. Parece que esse sistema não está alimentando bem o mundo, e sim concentrando os lucros nas mãos de poucos e a gordura no corpo de muitos.

Alguns especialistas dizem que rotular as comidas como boas ou ruins não causa mais distúrbios alimentares, como anorexia? É verdade?

Podemos falar de alimentação saudável com regras bem simples. Elas só se tornam difíceis quando resolvemos buscar novos produtos que prometem resolver todos os nossos problemas.

Regime de engorda

Para Felicity, esta é a receita que está tornando o mundo obeso

Gordura

A criação da gordura vegetal hidrogenada tornou possível misturarmos gordura com doces, como no sorvete. A popularização dos novos tipos de gordura, como a trans, aconteceu antes de sabermos o efeito que eles teriam no corpo.

+

Soja

Apesar de ser um alimento raro no mundo ocidental até a 2ª Guerra Mundial, ela está hoje em 60% das comidas industrializadas da Inglaterra. Sem contar as carnes vindas de animais alimentados com soja, como a carne de frango.

+

Açúcar

Não pense que ele está apenas em doces e chocolates. Quase todos os alimentos industrializados de hoje levam açúcar, como pizzas, hambúrgueres, salsichas e até alguns tipos de cerveja, em substituição ao malte.

=

Resultado

Mais de 1 bilhão de pessoas têm sobrepeso no mundo. O problema não é só de países ricos, como os EUA. No Brasil, há mais pessoas gordas que famintas. São 27 milhões de adultos com sobrepeso – a maioria deles das classes mais pobres.

Felicity Lawrence

• É repórter especial do jornal inglês The Guardian, especializada em temas do consumidor.

• Ganhou prêmios investigando a relação da produção de alimentos com a mudança climática, as migrações em massa e a exploração da mão-de-obra.

• Nos anos 90, passou dois anos trabalhando com refugiados afegãos na fronteira com o Paquistão.

• Para escrever os livros, ela conversou com africanos que colhem tomate na Itália, ouviu agricultores poloneses e brasileiros de plantações de soja da Amazônia.

• Adora cozinhar receitas tradicionais inglesas para seus 3 filhos: peixe é o prato mais comum.

Como a mente pode, sozinha, curar doenças?

Quem compra um remédio pode achar que só a fórmula do medicamento é que age. Falta um ingrediente essencial nisso: o poder da sua cabeça

por Texto Giovana Girardi

Taí uma situação que vira e mexe deixa muito médico coçando a cabeça. Ao longo de anos de experiência clínica, não é difícil se deparar com histórias de pacientes que apresentam uma melhora acima da esperada ou até mesmo a reversão de um quadro que parecia sem solução. Milagre? Pouco provável. Apesar de ter tudo a ver com crenças. E não importa se a fé é em Deus ou na medicina. O fato de acreditar na cura é, em linhas gerais, o tal poder da mente – mais conhecido entre cientistas como efeito placebo.

Os placebos são muito usados em testes clínicos de novas drogas. Para determinar se uma determinada substância é eficiente, ela é comparada com uma inócua, quimicamente inativa. Assim, num estudo às cegas, metade de um grupo toma pílulas com o novo medicamento e a outra metade, pílulas de farinha. Em teoria, estes indivíduos não deveriam sentir nenhum benefício, mas na prática não é o que ocorre. Em média, cerca de 30% dos participantes que tomam placebo sentem alguma melhoria em sua situação.

RENASCENÇA PLACÉBICA

Desacreditado como mera sugestão do paciente e até ignorado por várias décadas, o efeito ganhou a atenção da ciência no início deste século, quando várias pesquisas começaram a mostrar que ele é realmente efetivo. E não somente nos testes clínicos. Ao “botar fé” que o tratamento recebido vai funcionar, o paciente desencadeia uma série de reações em seu corpo capazes de minimizar dores e melhorar a resposta do sistema imunológico (o exército de defesa do organismo).

Os mecanismos fisiológicos por trás desses resultados ainda não são bem compreendidos, mas alguns trabalhos já lançaram algumas pistas. Um estudo da Universidade de Wisconsin, divulgado em 2004, observou que pacientes mais otimistas quanto ao seu tratamento tendem a apresentar níveis mais baixos de cortisol, hormônio liberado em situação de estresse e que, em altas doses, pode inibir o funcionamento das defesas do organismo.

Outros estudos apontam que a expectativa de se sentir melhor aumenta no cérebro a liberação de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à sensação de bem-estar. No ano passado, um grupo da Universidade de Michigan mostrou, em artigo na revista científica Neuron, que quanto maior era a confiança de um paciente nos benefícios de um suposto medicamento que ele estava tomando, maior era a liberação de dopamina.

A equipe, liderada por David Scott, observou por meio de imagens de ressonância magnética a ativação de uma região conhecida como núcleo acumbente. Ela faz parte do sistema de recompensa do cérebro, que reage diante de prazeres provocados por alimentos, bebidas, drogas, jogos, amor, dinheiro etc. Simulando o teste de um novo medicamento, os cientistas ofereceram a um grupo de voluntários somente pílulas de farinha. Em seguida, pediram que os participantes avaliassem quão grande era a expectativa deles sobre os efeitos do “remédio”, assim como o alívio da dor sentido após a ingestão da suposta droga inovadora. Os núcleos acumbentes dos mais confiantes foram os que mais se ativaram. E esses pacientes foram os que relataram menos dor após a ingestão do comprimido.

Em geral, essas e outras pesquisas apontam para a capacidade do organismo de combater doenças. A crença na melhora já se mostrou efetiva contra dores em geral, doenças ligadas ao estresse, alguns distúrbios psicológicos (como depressões leves) e até mesmo asma, artrite ou impotência. É o cérebro ajudando a si mesmo.

Efeito nocebo é o nome dado à versão do mal do efeito placebo: o remédio faz mal se a pessoa acreditar nisso.

Humanos podem ter assassinado Neandertal há mais de 50 mil anos

Homen de Neandertal (arquivo)

Neandertais conviveram com humanos modernos

Uma pesquisa da Universidade de Duke, da cidade de Durham, no Estado americano da Carolina do Norte, indica que um homem de Neandertal pode ter sido morto por humanos modernos em um confronto ocorrido há mais de 50 mil anos.

O estudo poderia indicar que os humanos modernos podem ter colaborado para provocar o desaparecimento dos neandertais.

Os pesquisadores analisaram o esqueleto de um neandertal chamado pelos cientistas de Shanidar 3 - um dos nove neandertais descobertos entre 1953 e 1960 em uma caverna no nordeste do Iraque. Ele foi morto há entre 50 mil e 75 mil anos quando tinha entre 40 e 50 anos de idade.

Neste esqueleto foi identificado um ferimento profundo que atingiu uma das costelas no lado esquerdo. Segundo os pesquisadores, este ferimento poderia ter sido causado por uma lança de um tipo usado pelos humanos modernos, mas não por homens de Neandertal.

"O que temos é um ferimento na costela com uma série de possíveis explicações", afirmou Steven Churchill, professor associado de antropologia evolucionária na Universidade de Duke.

"Não estamos sugerindo que ocorreu um ataque relâmpago, com humanos modernos marchando pela terra e executando homens de Neandertal", acrescentou.

"Acreditamos que a melhor explicação para este ferimento é uma arma que pode ser lançada e, levando em conta os que tinham esta arma e os que não tinham, isto implica em pelo menos em um ato de agressão entre as espécies."

Na pesquisa, Churchill e seus colegas usaram um arco e flecha especialmente calibrados, cópias de antigas pontas de lança feitas de pedra e várias carcaças de animais para chegar a esta conclusão.

O estudo foi divulgado pela publicação científica Journal of Human Evolution.

Sem conclusões

O estudo não conclui de forma definitiva quem foi o responsável pela morte de Shanidar 3 ou qual foi a razão.

Aparentemente o ferimento na costela do Neandertal pode ter começado a cicatrizar antes de sua morte. Uma comparação da ferida com registros médicos da época da Guerra Civil Americana, no século 19 - antes da criação dos antibióticos -, sugeriu que ele morreu semanas depois de ser ferido, talvez devido a danos no pulmão associados ao ferimento.

De acordo com Steven Churchill, vestígios arqueológicos sugerem que há 50 mil anos os humanos modernos e não seus primos, os homens de Neandertal, tinham desenvolvido armas de caça que podiam ser lançadas.

Os humanos daquela época usavam atiradores de lanças, punhos de armas que podiam ser trocados e que se conectavam com dardos e lanças, para, de forma efetiva, aumentar o comprimento do braço que quem os atirava e aumentar a força dos projéteis.

Humanos e homens de Neandertal usavam facas feitas de pedra e desenvolveram técnicas para fabricar pontas de flechas e lanças afiadas a partir de pedras. Enquanto a tecnologia da fabricação de armas avançava entre humanos, os homens de Neandertal continuavam usando lanças longas, queeles preferiam manter em suas mãos em vez de lançarem, de acordo com Churchill.

Porcos

Ao analisar o ferimento na costela de Shanidar 3, os estudiosos chegaram à conclusão de que ele não poderia ter sido feito com uma faca pré-histórica, pois tinha sinais de que a lança teria atingido a costela com pouca energia cinética.

Os pesquisadores dispararam projéteis, cópias de pontas de lança pré-histórica, contra carcaças de porcos usadas para substituir o que seria o corpo do homem de Neandertal.

Ao fazer uma comparação com outros estudos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que uma lança do tipo usado pelos homens de Neandertal, teria causado um ferimento maior.

E o ângulo da ferida apresentada por Shanidar 3, 45 graus para baixo, também coincide com a trajetória de uma arma que foi atirada, supondo que Shanidar 3, que tinha cerca de 1,6 m, estivesse em pé no momento em que foi ferido.

Estudo indica que humanos tiveram filhos com neandertais

Características do neandertais teriam se perdido por motivos evolucionários

Um estudo mostrou que todos os humanos, exceto os de ancestralidade puramente africana, tem em seu DNA uma contribuição de 1% a 4% de elementos genéticos de neandertais, indicando que as duas espécies cruzaram entre si e geraram descendentes comuns.

O estudo de quatro anos, liderado pelo instituto alemão Max Planck com colaboração de várias universidades de outros países e divulgado na publicação científica Science, desvendou o genoma, ou código genético, dos homens de Neandertal, espécie extinta há aproximadamente 29 mil anos.

As conclusões surpreenderam especialistas, já que evidências anteriores sugeriam que os neandertais não haviam contribuído para nossa herança genética.

O estudo também confirma que quase a totalidade dos humanos descende de um pequeno grupo de africanos que se espalhou pelo planeta, entre 50 e 60 mil anos atrás.

Cruzamentos

Traços da contribuição genética do neandertal foram encontrados em populações europeias, asiáticas e da Oceania.

"Eles não foram totalmente extintos, vivem um pouco em nós", disse o professor Svante Paabo do Max Planck em Leipzig.

O professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, disse que "o que realmente nos surpreendeu foram as evidências de que ocorreu algum tipo de cruzamento entre neandertais e humanos modernos".

Outros especialistas se disseram surpresos com a relativamente alta quantidade de material genético do neandertal (até 4%) em humanos modernos.

A pesquisa

O genoma sequenciado usou DNA dos restos de três neandertais descobertos em uma caverna na Croácia.

Um dos desafios do projeto foi extrair material genético aproveitável dos ossos, que possuíam dezenas de milhares de anos de idade.

As amostras continham pequenas quantidades de DNA de neandertais, misturados com DNA de bactérias e colônias de fungos que instalaram-se nelas ao longo dos anos.

O DNA de neandertais havia se quebrado em pequenos pedaços e modificado-se quimicamente, mas estas mudanças eram de natureza regular, o que permitiu aos pesquisadores corrigir as imperfeições por meio de programas de computador.

Teorias

A explicação mais plausível para a aproximação genética entre não africanos e neandertais é a de que houve um contato reprodutivo reduzido (ou fluxo de genes) entre as duas espécies.

Este cruzamento pode ter ocorrido quando os humanos deixavam o continente africano, talvez no norte da África ou na península arábica.

Segundo a teoria que diz que o mundo foi povoado a partir da África, o homo sapiens substituiu gradativamente as populações indígenas de outras regiões, como os neandertais.

Pesquisas anteriores indicavam a Europa como o local mais provável para as duas espécies terem se encontrado e possivelmente trocado genes.

Homo sapiens e neandertais conviveram no continente por mais de 10 mil anos.



segunda-feira, 7 de junho de 2010