sexta-feira, 11 de abril de 2014

Eram os deuses geométricos?

Eram os deuses geométricos?

Novos sítios arqueológicos na Amazônia poderão revelar surpresas sobre o passado dos habitantes da América do Sul antes da chegada dos colonizadores.


O desmatamento no sudeste do Acre já revelou 270 geoglifos indígenas. O tamanho dos aterros sugere que as antigas sociedades amazônicas eram mais numerosas do que se supunha.
Equipes multidisciplinares do Brasil, dos Estados Unidos, da Finlândia e do Reino Unido estão pesquisando na Amazônia o passado dos povos que habitaram a região muito antes da formação da maior floresta do planeta. Baseados em imagens aéreas, os cientistas estudam centenas de geoglifos - imensas figuras circulares, quadradas, retangulares, octogonais ou com outras formas geométricas desenhadas no solo do Acre, de Rondônia, do sul do Amazonas e do norte da Bolívia. A análise dessas colossais estruturas de terra sugere que uma civilização maior e mais desenvolvida do que se supunha já vivia na região antes do Descobrimento do Brasil.
A versão histórica predominante é de que a Amazônia era povoada por pequenas tribos de índios, que viviam em terra firme, em locais distantes dos rios. No entanto, as fotografias aéreas e as imagens de satélite desmistificam essa teoria, pois mostram que os geoglifos foram erguidos tanto em solo firme quanto em terrenos próximos aos rios. A descoberta também coloca em xeque a teoria de que os povos amazônicos viviam em sociedades simples, que nada produziam de perene além de cerâmicas.
O questionamento sobre as "limitações materiais" das culturas amazônicas começou na década de 1990, quando o geógrafo e paleontólogo Alceu Ranzi, ao sobrevoar a região, viu várias dessas estruturas. Ao constatar que estava diante de um fenômeno regional e as vastas construções eram artificiais, batizou-as com o nome de geoglifos, cujo significado quer dizer desenho na terra. Hoje, sabe-se que os geoglifos amazônicos foram erguidos a partir da escavação de um fosso. A terra escavada ia sendo colocada cuidadosamente na parte externa e formava uma mureta. Desse modo, criava-se um desenho geométrico, em alto e baixo relevo.
Trata-se de uma construção engenhosa. Os aterros geométricos desenhados na terra têm de 113 a 200 metros de largura e de 30 centímetros a 5 metros de profundidade. Em 1977, foram vistos pela primeira vez no Acre, quando o arqueólogo Ondemar Dias fez um levantamento deles no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica, do qual participaram Ranzi e o arqueólogo Franklin Levy.
Na ocasião, a equipe identificou 8 geoglifos circulares, mas a pesquisa não foi divulgada. Entre 1986 e 1999, Ranzi identificou 24 novas estruturas. A descoberta só foi possível devido ao desmatamento da região nos últimos 40 anos. Até a década de 1970 os grandes projetos agropecuários não haviam invadido a Amazônia Ocidental, a floresta estava intacta e os geoglifos permaneciam escondidos pela copa de árvores, o que impossibilitava a observação.
Em 2000, as pesquisas se intensificaram, assim como os sobrevoos para a obtenção de fotos aéreas visando ao registro. Imagens de satélite e do Google Earth permitiram a localização de novos geoglifos sem a necessidade de usar aviões. Hoje, graças às novas tecnologias, já foram identificadas 270 construções. Contudo, os pesquisadores afirmam que, em razão da dificuldade de se observar a Amazônia via satélite, os geoglifos encontrados podem ser apenas 10% do total existente na região.
Rituais religiosos
Os pesquisadores ainda não sabem qual a finalidade dessas imensas obras dos antigos povos amazônicos. Alguns acreditam que tinham um significado simbólico ou religioso. Outros acham que a remoção da vegetação que realizaram pode ter tido algum tipo de função militar. De qualquer modo, descobrir quais foram as culturas amazônicas responsáveis pela construção dos geoglifos faz parte dos objetivos dos projetos multidisciplinares em andamento.
Outra incógnita é a grandiosidade das estruturas do Acre. Para Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida (EUA), os geoglifos tinham finalidades cerimoniais. Uma das razões de sua monumentalidade seria a comunicação com seres superiores. "Não temos inferências para afirmar que os geoglifos estavam alinhados ou direcionados para algum corpo celeste", diz Denise Pahl Schaan, pesquisadora do CNPq e coordenadora do grupo de pesquisa Geoglifos da Amazônia Ocidental.
"As imensas valetas serviam para circundar um espaço aberto interno que era usado para encontros, rituais religiosos e moradia em alguns casos", prossegue Denise. Segundo ela, os construtores dos geoglifos constituíram as primeiras sociedades sedentárias do Acre. Eles habitaram a região há mais de 2.000 anos e, possivelmente, foram povos agricultores.
Os maiores inimigos dos geoglifos são as plantações de cana, o pisoteio do gado, as máquinas agrícolas, os assentamentos de terra e as estradas.
Co-organizadora do livro Geoglifos - Paisagens da Amazônia Ocidental, Denise lembra que, em 1887, o então governador de Manaus (AM) ordenou ao coronel Antonio Labre subir o Rio Madeira e encontrar uma rota por terra em meio aos entrepostos de produção de borracha no Rio Madre de Diós e algum ponto navegável do Rio Acre. Ao seguir por terra até o Rio Acre, Labre passou por várias vilas da etnia araona (da família linguística tacana).
Na fronteira do Estado, o militar encontrou uma vila povoada por umas 200 pessoas e ficou impressionado com a sua organização social. Ali aprendeu que aqueles povos adoravam deuses de formato geométrico, esculpidos em madeira. As efígies eram mantidas em templos no meio da floresta. O pai dos deuses tinha forma elíptica e chamava-se Epymará. "Labre não descreveu os templos, mas tudo nos leva a cogitar sobre as possíveis funções religiosas dos geoglifos, encontrados não muito longe das antigas aldeias araonas", comenta Denise.
Savana
A ocorrência de geoglifos no Acre também é um forte indicativo de ausência da floresta. Posteriormente, a mata ocupou e recobriu a paisagem cultural dos povos construtores dos aterros. Denise diz que é provável que na região existissem áreas abertas, de savana, mas os cientistas ainda não têm certeza. Por isso, coletaram amostras para realizar análises que deverão esclarecer o assunto. O material está sendo analisado no Reino Unido, na Universidade de Exeter.
Para realizar as pesquisas, os cientistas recorrem ao sensoriamento remoto, técnica que utiliza imagens de satélites, fotografias aéreas e sobrevoos com pequenos aviões, além de um georradar da Universidade Federal do Pará. "A disponibilidade de imagens de satélite tem sido fundamental para os nossos estudos, assim como softwares para cruzamento de dados culturais e geográficos, como o ArcGis. Além das imagens gratuitas do Google Earth, o governo do Acre nos fornece imagens do satélite Formosat", afirma Denise.
Os cientistas também visitam os sítios identificados para tirar medidas, fazer coletas e registros. O estudo contribui para novas interpretações sobre como os antigos amazônidas viviam e como era a sua organização sociopolítica. "Esse conhecimento é fundamental para subsidiar programas de preservação do patrimônio arqueológico da região", explica Denise.
Apesar de sua relevância, os geoglifos estão ameaçados. Seus maiores inimigos são as plantações de cana, o pisoteio do gado, as máquinas agrícolas, os assentamentos de terra e as estradas, que já danificaram muitos deles.
Texto: fabiola@planetanaweb.com.br
Para saber mais
Geoglifos - Paisagens da Amazônia Ocidental, organizadores Denise Pahl Schaan, Alceu Ranzi e Antonia Damasceno Barbosa, 100 págs., R$ 50. Exemplares podem ser adquiridos pelo e-mail: ppgacampos@ufpa.br.

Viagem sem volta a Marte

Viagem sem volta a Marte

Duzentas mil pessoas se candidataram para participar do projeto para colonizar o Planeta Vermelho. Cientistas criticam a seleção de pessoal por meio de reality show de tevê.

Viagem sem volta a Marte
 
Duzentas mil pessoas já se candidataram para participar do projeto Mars One, que em 2023, pretende levar astronautas para colonizar o Planeta Vermelho. A iniciativa desperta apoio e crítica dos cientistas. Sobretudo por selecionar pessoal em competições de reality show de tevê.
 
Quem quer encarar uma viagem de sete meses até Marte, enfrentar problemas como raios cósmicos e microgravidade e ficar por lá o resto da vida, à temperatura de menos 60º  centígrados e sem oxigênio no ar? Até agora, essa proposta, feita pelo projeto Mars One, já seduziu 202.586 pessoas de todo o mundo que, de abril a agosto, se candidataram a integrar a primeira expedição para colonizar Marte. Segundo a coordenação do projeto, representantes de mais de 140 países inscreveram-se para a jornada sem volta. Os Estados Unidos lideram no número de candidatos (24% do total), seguidos por Índia (10%), China (6%), Brasil (5%) e Grã-Bretanha (4%). Em princípio, todos se consideram aptos a integrar a missão. O portal do projeto (www.mars-one.com) fornece informações básicas sobre as condições físicas e psíquicas necessárias, a idade mínima (18 anos) e uma lista de requisitos  fundamentais como “resiliência, adaptabilidade, curiosidade, habilidade para confi ar, criatividade e engenhosidade”.
O Comitê de Seleção do Mars One já começou a avaliar as candidaturas. Notifi cados no fim deste ano, os escolhidos deverão apresentar um atestado médico sobre sua saúde e serão entrevistados, em 2014, por um membro do comitê. Em 2015, seis equipes, cada uma com quatro integrantes, serão selecionadas para sete anos de treinamento, e em 2023 a primeira delas deverá chegar a Marte. Outros grupos a seguirão, a intervalos de dois anos, escolhidos por programas regulares de recrutamento que formarão novas equipes.
O Mars One é um sonho antigo do engenheiro mecânico holandês Bas Lansdorp, que em 2011 vendeu sua participação numa companhia de energia eólica para se dedicar ao plano ambicioso de colonizar Marte. No projeto, ele conta com uma equipe na qual desponta o americano Norbert Kraft, com quase 20 anos de trabalho na Nasa e em outras agências espaciais. Médico-chefe da missão, Kraft é especialista no desenvolvimento de programas fisiológicos e psicológicos para combater os efeitos negativos de voos de longa duração. O Mars One conta ainda com consultores internacionais nas áreas relacionadas à missão, como a brasileira ais Russomano, professora-adjunta da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especializada em medicina aeroespacial, e com “embaixadores” que ajudam a disseminar a iniciativa, como o holandês Gerard ’t Hooft, Prêmio Nobel de Física em 1999.

Evento midiático

Um objetivo o projeto já conquistou: atrair a atenção global do meio acadêmico e da sociedade. “Fiquei ciente do projeto pela internet”, afirma a brasileira ais, que acertou sua participação como consultora numa conversa pessoal com o próprio Lansdorp. A imprensa tem dado ampla divulgação à iniciativa – como a PLANETA está fazendo. “Desde que iniciamos o Mars One, em março de 2011, recebemos apoio de cientistas, engenheiros, empresários e companhias aeroespaciais de todo o mundo”, diz Lansdorp. “O anúncio do nosso plano em maio de 2012 resultou no engajamento do público em geral e no apoio de patrocinadores e investidores.”
A equipe do Mars One garante que a tecnologia disponível já permite viajar para Marte e sobreviver lá. A água, por exemplo, será obtida aquecendo- se as partículas de gelo do subsolo,
condensando o vapor resultante em reservatórios específi cos. Isso também ajudará a produzir ar para a base, juntamente com o nitrogênio e o argônio fi ltrados da atmosfera marciana.
Quando o primeiro grupo chegar a Marte, o sistema de suporte à vida da missão já terá estocado 3 mil litros de água e 120 quilos de oxigênio. Frutas, verduras e legumes cultivados hidroponicamente constituirão o cardápio cotidiano. Além disso, naves levarão abastecimento da Terra em intervalos regulares.

Embora a equipe demonstre constante otimismo, a missão obviamente contém riscos. “Os principais são a exposição à radiação e à microgravidade durante o voo de sete meses (56
milhões de quilômetros de distância), prejudiciais ao sistema músculo esquelético, e o ambiente hostil de Marte, cujo estresse gera questões psicossociais”, avalia ais Russomano. A radiação, que engloba os raios cósmicos galácticos e solares, é considerada pela Nasa (a agência espacial americana) um obstáculo fundamental às viagens espaciais, por aumentar o risco de câncer.

Não é brincadeira. Baseado na missão que levou o veículo motorizado Curiosity a Marte, em 2012, o Southwest Research Institute, dos EUA, calcula que só a viagem até o planeta vermelho importa na absorção de 330 milisieverts de radiação no organismo, o equivalente a uma tomografia de corpo inteiro a cada cinco ou seis dias, durante um ano. Para controlar
o risco de câncer no espaço, as agências espaciais limitam em 1.000 milisieverts a exposição acumulada de uma pessoa em vida. Portanto, tanto as na ves que levarão os astronautas quanto a base marciana exigirão blindagens bem mais resistentes do que as atuais.

Caça ao dinheiro

Uma pergunta crucial em um projeto de tal porte é o custo. Para Lansdorp, a conta bate em US$ 6 bilhões, muito menos do que os US$ 100 bilhões que a Nasa previu gastar em uma
missão tripulada a Marte, em 2009. Mas vale lembrar que a agência espacial americana queria trazer seus astronautas de volta, enquanto o Mars One afi rma que o custo da viagem de regresso inviabilizaria a iniciativa. De qualquer modo, trata-se de uma dinheirama e, como os patrocinadores apresentados no site não têm grande poderio econômico, o Mars One busca
aproveitar toda oportunidade disponível para fazer caixa.

As inscrições, por exemplo, são pagas. Na primeira versão, a taxa variou de US$ 5 (para candidatos da pobre Somália) a US$ 73 (para pretendentes do rico Catar). Os americanos gastaram US$ 38 per capita; os brasileiros, US$ 13. Como em abril Lansdorp disse esperar um milhão de inscrições, já existe um belo buraco no orçamento. Assistir ao documentário One Way Astronaut (Astronauta sem Volta), disponível no site, custa US$ 2,95 (por visualização online) ou US$ 4,95 (por download). No portal também há uma página de doações e uma loja virtual que oferece agasalhos, camisetas, canecas, pôsteres e adesivos com imagens ligadas à missão.
A grande esperança do projeto para obter financiamento é um reality show de tevê e internet no qual os candidatos terão de vencer desafios relacionados à viagem. “Estamos falando sobre criar um grandioso espetáculo de mídia, muito maior do que os pousos na Lua ou as Olimpíadas”, diz Lansdorp. Convenientemente, um dos “embaixadores” do Mars One é o holandês Paul Römer, cocriador do primeiro reality show Big Brother, levado ao ar em mais de 40 países. “Essa missão a Marte pode ser o maior evento de mídia do mundo”, afi rma ele. “A realidade encontra um show de talentos sem final, com o mundo inteiro assistindo.” Lansdorp está em plena negociação com emissoras e patrocinadores.
A ideia é promover seleções regionais, nas quais competirão entre 20 e 40 candidatos. Os telespectadores selecionariam um dos fi nalistas e os especialistas do Mars One escolheriam
os demais. Os eleitos serão distribuídos pelo Comitê de Seleção em grupos, com pessoas de nacionalidades diferentes (toda a comunicação, então, já será feita em inglês), e participarão
de outro reality show, no qual demonstrarão sua capacidade de viver e trabalhar em equipe em condições complexas, em locais que simulam ambientes marcianos.

O desempenho levará à escolha de 24 pessoas, divididas em seis grupos, que serão contratadas pelo Mars One. Em 2015, elas iniciarão o treinamento para a missão. A defi nição sobre qual dos grupos fará a viagem inaugural será outra decisão compartilhada entre o Comitê de Seleção e os espectadores (com mais uma oportunidade de faturar, é claro). “Porque nossa missão é uma missão da humanidade, faremos disso uma decisão democrática”, explica o Mars One em seu site. “As pessoas da Terra votarão em qual grupo terá os primeiros embaixadores da Terra em Marte.”
A retórica não basta para convencer os críticos. Marcos Pontes, o primeiro brasileiro a ir ao espaço, não acredita no sucesso da operação, porque considera inviável o cronograma divulgado pelo Mars One. Para ele, os primeiros exploradores não viveriam mais do que dez anos. “Os tripulantes do projeto irão se sacrifi car pelos outros, pelo futuro”, avalia o astronauta. Numa entrevista à BBC em 2012, Chris Welch, diretor dos Masters Programs da Estação Espacial Internacional, declarou: “Mesmo ignorando a divergência potencial entre a arrecadação do projeto e seus custos e as questões sobre sua viabilidade em longo prazo, a proposta do Mars One não demonstra uma compreensão sufi cientemente profunda dos problemas para propiciar uma confi ança plena de que seria capaz de cumprir seu ambiciosíssimo planejamento”. O tempo vai mostrar, nos próximos anos, qual é o verdadeiro fôlego do sonho de Bas Lansdorp.
Revista Planeta

Guerreiros cibernéticos

Guerreiros cibernéticos

Robôs-soldados estão passando do terreno da ficção para a realidade, como demonstram aparelhos já construídos nos Estados Unidos, Israel e Coreia do Sul.

Robôs-soldados estão passando do terreno da ficção para a realidade, como demonstram aparelhos já construídos nos Estados Unidos, Israel e Coreia do Sul. Mas como eles vão determinar os alvos e atacá-los? Têm discernimento para tanto?
 
Máquinas são funcionários exemplares, como atestam os radares eletrônicos espalhados por cidades e estradas do Brasil. Trabalham 24 horas por dia, concentram-se 100% do tempo na tarefa, não têm férias, não ganham 13º salário e nunca reivindicam. A indústria de armamento e defesa está encantada com esses operários-padrão guerreiros. A evolução tecnológica já permite antever a fabricação de aparelhos com autonomia para combater e decidir, sozinhos, se e quando devem dar cabo da vida de alguém. A evolução, considerada viável em até 20 anos, signifi caria o prenúncio de um mundo controlado por androides, tal como esboçado em fi lmes como O Exterminador do Futuro e Eu, Robô.
De acordo com Steve Goose, diretor da divisão de armas da Human Rights Watch, ONG que atua globalmente na defesa dos direitos humanos, militares de vários países estariam “muito empolgados” com a possibilidade de contar com robôs-soldados, de olho na redução das baixas entre militares de carne e osso. Estados Unidos, China e Rússia são alguns dos interessados nos novos guerreiros cibernéticos. 
Precursores de robôs-soldados, chamados em inglês de killer robots (robôs assassinos), já podem ser vistos em ação. O sistema de defesa Phalanx, da americana Raytheon, instalado em navios da Marinha dos EUA, é capaz de identificar a origem do fogo inimigo e destruir projéteis disparados contra a sua nau.
O drone X47B, da também americana Northrop Grumman, é uma aeronave não tripulada que decola e pousa de aviões cargueiros, entra em combate aéreo sem piloto e reabastece no ar. Ainda não realiza bombardeios, mas, providencialmente, possui dois compartimentos para bombas. O drone- bomba Harpy, fabricado por Israel, possui um banco de dados que reconhece qualquer sinal de  radar não registrado como “amigo” e lança-se contra ele, destruindo o aparelho. 

A Samsung fabricou o robô de vigilância SGR-A1, que detecta movimentos incomuns, ameaça intrusos e abre fogo, quando autorizado por um controlador humano. Ele está sendo avaliado para substituir soldados no lado sul-coreano da zona desmilitarizada entre as Coreias.
Drones à parte, todos esses aparelhos funcionam montados sobre bases fi xas. Mas robôs de combate dotados de movimento já estão a caminho. Os produtos anunciados pela empresa americana Boston Dynamics, em seu portal (bostondynamics.com) ou mesmo  no YouTube (YouTube.com/Boston- Dynamics), mostram robôs com mobilidade e agilidade surpreendentes. A empresa não os apresenta como armas, mas não é difícil imaginá-los atuando com essa finalidade. 
Chamam a atenção o Atlas e o Petman, robôs antropomórfi cos capazes de mover-se coordenadamente sobre diversos terrenos. Há também o veloz Cheetah e seu sucessor WildCat, de quatro “patas”, que corre a mais de 46 km/h, e o LS3, um robô de carga que também enfrenta terrenos variados.
Responsabilidade difusa
As centenas de ataques realizados por drones americanos no Oriente Médio, nos últimos anos – que mataram pelo menos 450 civis no Paquistão  e no Iêmen –, estimulam uma reflexão mais profunda sobre um cenário de guerra envolvendo os robôs-soldados. No caso dos atuais drones, sempre há pelo menos um controlador humano que aciona os comandos necessários para os aparelhos atirarem. Mesmo aceitando-se esse detalhe, a responsabilização dos culpados pelas mortes de civis parece remota. Nesse ritmo, os casos de assassinatos cometidos por robôs-soldados tenderiam a ficar numa espécie de limbo jurídico. 

Embora o Departamento de Defesa dos EUA tenha formalizado, em novembro de 2012, a diretriz de que comandantes e operadores desses aparelhos deverão manter “níveis apropriados de julgamento humano a respeito do uso da força”, o tema patina na obscuridade. O inglês Noel Sharkey, especialista em robótica da  Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e presidente do Comitê Internacional para o Controle de Armas Robóticas, é um dos que percebem os riscos implícitos nessa situação, tanto em termos jurídicos como éticos e morais. “Se um robô comete um erro, quem é o responsável?”, pergunta. “Certamente não será o robô. Ele poderia levar um balaço no computador e fi car incontrolável. Assim, não há forma de determinar realmente quem é o responsável. Isso é muito importante para o cumprimento das leis de guerra.”
O sul-africano Christof Heyns, relator especial da ONU para execuções extrajudiciais, também é crítico em relação ao tema. “Soldados em batalha podem, legalmente, mirar apenas em combatentes, e não em civis. Um computador conseguirá discernir e fazer o julgamento de valor de que pessoas em trajes civis levando rifl es não são combatentes inimigos, mas caçadores ou soldados se rendendo?” 
A questão levou a HRW a divulgar, em 2012, o relatório Losing Humanity (Perdendo a Humanidade), coescrito com a Clínica de Direitos Humanos Internacionais da Escola de Direito da Universidade Harvard, no qual a entrada de robôs-soldados em guerras é analisada. Um dos pontos polêmicos, segundo os autores, seria a questão de como atribuir às máquinas “condições” de diferenciar civis e combatentes numa zona de confl ito. Cético quanto à defi nição dessas condições, o relatório propõe “um tratado internacional que proibiria em absoluto o desenvolvimento, a produção e o uso de armamentos totalmente autônomos”. 
A ideia estimulou o surgimento, em abril de 2013, da campanha “Stop the Killer Robots”, cujo lançamento, realizado na Câmara dos Comuns, em Londres, contou com a participação de Noel Shar key e de grupos que já barraram o uso de minas e bombas de fragmentação em conflitos, nos quais milita a norte-americana Jody Williams, Nobel da Paz em 1997. A campanha recomenda o “banimento de sistemas de armas capazes de mirar num alvo e tomar decisões que envolvem vida e morte sem que um humano esteja informado disso”. 
Em junho de 2013, Christof Heyns apresentou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU um relatório sobre armas autônomas letais que converge para o mesmo objetivo. Ele quer que os killer robots sejam banidos até que se defi na como regulamentá-los em níveis nacional e internacional.
Regulação necessária
Em outubro, o tema foi debatido no Primeiro Comitê de Desarmamento e Segurança Internacional da Assembleia- Geral da ONU. Egípcios, franceses e suíços ressaltaram que a regulamentação é necessária antes que os robôs guerreiros estejam “desenvolvidos ou posicionados”. Alemanha, Argélia, Áustria, Brasil, EUA e Marrocos deram apoio a essas propostas. Mas especialistas também reivindicaram maior transparência dos governos que já usam sistemas semiautônomos, como o Phalanx dos EUA. 

“Não estamos tentando deter o avanço da robótica, mas não quero ver robôs equipados com armas letais, operando por conta própria”, afirmou Jody Williams, conferencista do evento. “Temos todo o direito e a responsabilidade de discutir publicamente para onde a guerra está indo.” 
Ainda em outubro, a pressão contra robôs-soldados subiu de tom com a divulgação de um manifesto, assinado por 270 estudiosos e profi ssionais das áreas de computação e de inteligência artificial de vários países, que pede a interrupção no desenvolvimento ou uso de armas que disparem sem intervenção humana.
No entanto, não há unanimidade sobre o tema. Dois professores americanos, Matthew Waxman, da Escola de Direito da Universidade de Columbia, e Kenneth Anderson, da Universidade Americana, alegam que desistir dos robôs soldados seria “desnecessário e perigoso”, pois sistemas autônomos são parte do futuro e, se os governos não os usarem, acabarão nas mãos de grupos terroristas e de regimes rivais. 

Sistemas de armamentos sofisticados poderiam ser úteis  localizando alvos com maior capacidade do que os humanos. Outros pesquisadores dizem que, livres de emoções como vingança ou sede de poder, os robôs-soldados seriam mais adequados para lutar contra exércitos de androides montados por ditadores ou grupos terroristas.
Como se vê, há controvérsia. A preocupação humanista é impor limites precisos à eficiência insensível da inteligência artifi cial. “A perspectiva de entrar numa realidade em que as máquinas recebam explicitamente um mandato para matar humanos deveria fazer todos  pensar”, diz Christof Heyns. “Enquanto a tecnologia avança, precisamos ter algum tempo para garantir que não apenas vidas – mas também a noção de valor da vida humana –, sejam preservadas em longo prazo.”

Revista Planeta

Você é sua senha

Você é sua senha

O uso do reconhecimento biométrico está mudando processos tradicionais e, consequentemente, a vida das pessoas. Mas a biometria também pode engrossar a polêmica sobre os limites da privacidade.


Constantemente você precisa provar e comprovar que é quem diz ser. Embora pareça, essa não é uma questão filosófica. A tarefa é prática e corriqueira: RG, CIC, habilitação, cartões de débito e crédito, crachás corporativos e carteirinhas de mil e uma entidades, que engordam a carteira de todo cidadão, são requisitados para identificar uma pessoa no mundo físico. No ambiente virtual, combinações de usuário e senha funcionam para dar acesso a e-mails, celular, sistemas corporativos, redes sociais e cadastros em lojas online. Lidamos com tantas combinações desse tipo que já se fala de uma nova categoria de estresse: a “fadiga de senhas”.
O grande volume de documentos que carregamos fisicamente e a quantidade de senhas a memorizar fazem qualquer um perder a cabeça – principalmente quando as esquecemos. A solução para driblar a dúvida é o reconhecimento biométrico – que parece apoiado na eficácia do ditado “não se esquece a cabeça porque ela está grudada”. Cada pessoa, afinal, é única. A tecnologia já pode nos reconhecer por isso.
Em questão de segundos, dispositivos modernos são capazes de ler as características de partes do nosso corpo, comparar o que veem com a base de dados que possuem, e atestar a identidade das pessoas previamente cadastradas no sistema. Seja pela impressão digital, pela geometria do rosto, pelo desenho da íris, da retina, do traçado das veias, da palma das mãos, do timbre de voz, pelo próprio DNA, pela dinâmica dos movimentos ao assinar um documento ou, simplesmente, por caminhar.
Entrar na academia ou no trabalho, destravar o celular, tirar dinheiro no banco, votar ou atravessar fronteiras entre países vai cada vez mais passar a depender somente do toque dos dedos, de um olhar, do semblante, do tom da voz e do comportamento de cada um. Mas não é apenas por comodidade que governos e mercado buscaram formas mais seguras e certeiras de identificar quem está do outro lado do balcão, do telefone ou do computador. O maior propósito é reduzir as cada vez mais frequentes falsificações e fraudes que os recursos tradicionais não eliminam.

Mil e uma vantagens
Em muitas áreas a biometria está alterando processos e a vida das pessoas. Vários bancos brasileiros já oferecem leitores de impressão digital nos terminais e caixas automáticos. Os ônibus da cidade de São Paulo vão ganhar leitores digitais em breve, para evitar o uso indevido dos passes mensais e semanais criados pelo prefeito Fernando Haddad. O Estado do Rio de Janeiro convive há oito anos com cédulas de identidade com chip biométrico. O Rio é um parâmetro para os planos federais de um novo Registro de Identidade Civil (RIC) baseado em autenticação biométrica.
Em 2014, mais de 22 milhões de eleitores brasileiros vão votar sem precisar de cédula, graças à tecnologia biométrica. O cadastramento vai continuar até que todos os 141 milhões de eleitores se identifiquem aos mesários unicamente por meio de seu corpo.
Pelo mundo afora, a adoção da biometria se multiplica. O novo Google Glass promete fazer o reconhecimento facial de pessoas em meio à multidão. Num gesto que ainda pretende ser vanguardista, a Apple adotou o reconhecimento de impressão digital no modelo de iPhone 5S, recentemente lançado, tateando o mercado em busca de aceitação para esse mecanismo e abrindo espaço para mais transações financeiras pelo celular. E os demais fabricantes estão seguindo o rastro.
A Índia, onde a maioria da população não possui documentos, aposta em um cadastro único nacional dos cidadãos promovido pela Unique Identifi cation Authority of India, baseado na leitura da íris e das digitais. As duas tecnologias e a topografia da face foram escolhidas também pela nova norma mundial de emissão de passaportes, número 9303, definida pela Organização Internacional de Aviação Civil para controlar a migração em aeroportos. Rússia, China e vários países da União Europeia já começaram a transição para o novo modelo.
O Barclay Wealth, braço para gestão de patrimônio do banco britânico Barclays, adotou o reconhecimento de voz e reduziu a zero a taxa de 25% dos telefonemas fraudulentos que conseguiam passar pelos sistemas de segurança. O banco Supervielle, da Argentina, conseguiu evitar grandes perdas financeiras no pagamento de aposentadorias com o uso de leitores de impressão digital. Um grande volume de dinheiro era retirado indevidamente em nome de pessoas já falecidas. As perdas evitadas, apenas no primeiro ano, foram duas vezes maior do que os gastos com a adoção da tecnologia.
Embora a leitura das digitais ainda seja o recurso biométrico mais usado pelos sistemas de segurança, a modalidade sofre de certo estigma. “Nós, latino-americanos, estamos acostumados a entregar nossas digitais ao governo para tirar documentos. Mas nos Estados Unidos, China e países da Europa o cadastro das digitais está limitado aos criminosos, imigrantes e funcionários do governo. Possui uma conotação negativa”, comenta Juan Carlos Tejedor, diretor de vendas para a América Latina, da Lumidgm, fabricante norte-americana de leitores de digital.
Para Tejedor, a evolução das tecnologias biométricas já reduziu a taxa de falsos positivos e falsos negativos – quando as ferramentas não identificam você como sendo você, ou reconhecem outra pessoa ou uma prótese sem vida como sendo você. Essa melhoria dos mecanismos de reconhecimento biométrico permitiu a massificação do uso, principalmente em ambientes não controlados, como um caixa eletrônico, onde não há supervisão de ninguém.
Um estudo realizado pela Ericsson com 5 mil usuários de smartphones em dez grandes cidades do mundo – incluindo São Paulo, Pequim, Nova York e Londres – comprova a repulsa. Dos entrevistados, 52% preferem usar as digitais para se livrar de senhas, 48% preferem o reconhecimento de íris e 72% acreditam que os celulares biométricos se tornarão uma norma em 2014.
Byung Wha Lim, diretor de tecnologia da Ubkey, fabricante sul-coreana de dispositivos de leitura da íris, aponta também as vantagens de usar o rosto em vez das mãos. “Mais de 15% da população mundial não tem digital – seja por não ter mãos ou por doenças. A pele suja ou transpirada pode dificultar a leitura e em setores que usam luvas é inviável. Já a íris todos têm, mesmo os deficientes visuais, e seu reconhecimento é mais prático”, afirma.

Mil e um riscos
A comodidade da identificação biométrica é um alento para a vida atarefada e superconectada de hoje. Já virou um instrumento para empresas reduzirem golpes, roubos de informação e custos operacionais – proporcionando menos ligações para as centrais de relacionamento de clientes que esqueceram suas senhas, menos despesas de envio de novas senhas e novos cartões. Mas é claro que não é a solução para todos os males.
Para começar, apesar de precisa, a identificação biométrica não é 100% infalível: os falsos positivos e negativos ainda existem e as próteses sempre podem ser melhoradas. “Existe também uma corrente grande de críticos ao uso da biometria que sustentam que o governo não tem o direito à informação do que nossos corpos revelam sobre nós. E uma vez nas mãos do governo, a informação pode ser utilizada para uma grande variedade de propósitos”, diz Alexandre Freire, consultor de segurança da informação e docente do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O maior temor é que a tecnologia sirva para vigilância eletrônica em massa. Além disso, as bases de dados governamentais são permeáveis, e essas informações podem chegar às mãos do setor privado.
Um exemplo palpável aconteceu em agosto. Um acordo de cooperação técnica entre o Tribunal Superior Eleitoral e a empresa transnacional de análise de crédito Serasa Experian foi publicado no Diário Oficial da União. O TSE anunciou que abriria dados da ficha cadastral dos eleitores para a Serasa Experian, que, em troca, forneceria mil certificados digitais ao tribunal. Houve tantos protestos que o convênio foi suspenso alguns dias depois. A controvérsia abalou o projeto federal do novo Registro de Identidade Civil.
Outra iniciativa polêmica é a da rede britânica de supermercados Tesco, que está adotando o reconhecimento facial para identificar clientes logo de cara e enviar aos seus celulares ofertas sob medida. Diferentemente dos governos que estabelecem medidas compulsórias aos cidadãos, espera-se que a empresa obtenha o consentimento dos clientes para integrar um cadastro. Senão, é pura invasão de privacidade.
De qualquer forma, a linha que separa a comodidade da privacidade é cada vez mais tênue na sociedade moderna. Como sempre, as novas soluções trazem novos problemas que, nesse caso, não são tão facilmente eliminados com a ponta dos dedos ou um olhar.
Revista Planeta

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Nova droga trata câncer de mama sem queda de cabelo





Foto: Divulgação


A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou um medicamento para o tratamento do câncer de mama que não causa queda de cabelo e provoca menos efeitos colaterais do que a quimioterapia tradicional. A ação é possível porque o remédio atua diretamente no tumor, em vez de afetar todas as células do corpo. De acordo com os organizadores do estudo, trata-se da primeira droga com esse mecanismo aprovada no país.
O medicamento trastuzumabe entansina (também chamado de T-DM1) é indicado para um tipo de câncer de mama avançado, identificado como HER2 positivo, que corresponde a 20% de todos os casos da doença. Seu uso deve ocorrer quando o tratamento convencional não apresentar mais resultados. Além de evitar os efeitos colaterais da quimioterapia, ele aumenta em 50% o tempo de sobrevida.
"A droga tem um efeito casado. Ela possui um anticorpo e um quimioterápico. Por ser extremamente potente, esse quimioterápico não poderia ser aplicado sozinho porque seria muito tóxico ao organismo. O que acontece é que o anticorpo conduz o quimioterápico até o interior da célula tumoral e libera o medicamento lá dentro", explica José Luiz Pedrini, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos coordenadores do estudo do medicamento no Brasil. O mecanismo do remédio é conhecido como "cavalo de troia".
Segundo o médico, a pesquisa, realizada em vários países, incluiu cerca de 100 brasileiras. "Há pacientes que começaram a participar do estudo em 2011 e seguem vivas. "Sem essa opção, elas sobreviveriam por cerca de seis meses porque não teriam outra alternativa de tratamento"", explica.
Uma das razões para o melhor prognóstico é que o novo medicamento pode ser usado por mais tempo do que a quimioterapia tradicional. "Os medicamentos já existentes podem ser aplicados por, no máximo, oito sessões, por causa da toxicidade. Por ser menos agressiva, a trastuzumabe entansina pode ser utilizada por tempo indeterminado", afirma o médico. A aplicação da droga é feita a cada 21 dias.Embora o remédio possa aumentar a sobrevida das pacientes, o tumor de mama do tipo HER2 positivo continua sendo incurável.
Nova opção
Coordenadora da oncologia clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), Maria del Pilar Estevez Diz classificou a droga como uma opção "interessante" de tratamento e afirmou que o Icesp passará a utilizá-la. ""A gente ganha uma linha de tratamento com menos efeitos colaterais, que propicia maior qualidade de vida às pacientes"", diz.
A aprovação da trastuzumabe entansina foi publicada pela Anvisa no mês passado. O medicamento deverá estar disponível no mercado em três meses. Novos estudos vão verificar se o medicamento também é eficaz e seguro se utilizado em fases iniciais da doença. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Fórmula da juventude' reverte envelhecimento em animais

Fórmula da juventude' reverte envelhecimento em animais


Foto: BBC
Pesquisadora à frente de estudo diz que medicamento, no futuro, poderia ser usado para garantir melhor qualidade de vida na velhice
Cientistas dos Estados Unidos disseram ter conseguido reverter o processo de envelhecimento em estudos com animais.
Eles usaram um produto químico para rejuvenescer músculos em ratos, em um processo que disseram ser equivalente a transformar um músculo de uma pessoa de 60 anos de idade em um de uma de 20 anos. A força do músculo, porém, não foi recuperada.
O estudo, publicado na revista Cell, identificou um mecanismo totalmente novo de envelhecimento e, em seguida, o reverteu.
Outros pesquisadores afirmaram que se tratava de uma "descoberta animadora".
O envelhecimento é considerado uma via de mão única, mas agora pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard demonstraram que alguns aspectos podem ser revertidos.
A pesquisa teve como foco uma substância química chamada NAD, cujos níveis caem naturalmente com a idade em todas as células do corpo.
Experimentos mostraram que aumentar os níveis de NAD, dando a camundongos uma substância química que eles naturalmente convertem em NAD, poderia reverter os efeitos do tempo.
Uma semana depois da aplicação da medicação em ratos de dois anos de idade, seus músculos se tornaram semelhantes aos de um ratinho de seis meses em termos de função mitocondrial, perda de massa muscular, inflamação e resistência à insulina.
A doutora Ana Gomes, do Departamento de Genética da Escola Médica de Harvard, disse: "Nós acreditamos que esta é uma descoberta muito importante."
Ela argumenta que a força muscular poderia retornar com um tratamento mais longo.

'Envelhecimento agradável'

No entanto, o método não representa uma "cura" para o envelhecimento. Outros aspectos, como encurtamento dos telômeros (que formam a estrutura das sequências genéticas) ou danos ao DNA não podem ser revertidos.
Gomes disse à BBC: "O envelhecimento é multifatorial, não se trata de um componente único a ser corrigido, por isso é difícil de atingir a coisa toda."
O grupo de pesquisa pretende começar os testes clínicos em 2015.
Gomes afirmou que terapias em humanos são uma perspectiva distante.
"Pelo que sabemos até agora não acho que teremos que tomar (a droga) desde os 20 anos de idade até nossa morte."
"Parece que nós podemos começar quando já somos mais velhos, mas não muito velhos a ponto de já estarmos danificados.
"Se começarmos aos 40, provavelmente teremos um envelhecimento muito mais agradável - mas temos que fazer testes clínicos", disse ela.
Para o professor Tim Spector, do Kings College de Londres, a descoberta "é intrigante e emocionante".
"No entanto, é um caminho longo e difícil para que experiências com ratos mostrem efeitos de antienvelhecimento em seres humanos sem efeitos colaterais."
O doutor Ali Tavassoli, da Universidade de Southampton, argumentou: "É importante notar que não foi observada qualquer alteração no próprio rato com o um todo.
"Isso pode acontecer por duas razões. Ou eles precisam ser tratados por mais tempo para que as mudanças que ocorrem nas células afetem todo o organismo, ou alternativamente, as alterações bioquímicas por si só não são suficientes para reverter as mudanças físicas associadas ao envelhecimento."
"Mais experimentos são necessários para verificar qual destes casos é o verdadeiro."