Biomassa pode prover 20% da energia do mundo sem comprometer alimentação, dizem pesquisadores ingleses
Para chegar a esse resultado, sem aumentar a área usada pela agricultura atualmente, será necessário investir em técnicas para aumentar a produtividade e diminuir o desperdício
Bagaço da cana-de-açúcar usado para a geração de energia elétrica na Usina de Santa Adelia em Jaboticabal, São Paulo (Fernando Cavalcanti)
É possível produzir 20% da energia mundial com biomassa sem prejudicar a produção de alimentos, segundo estudo publicado pelo Centro de Pesquisas do Reino Unido (UKERC, na sigla em inglês). Para isso, porém, será necessário melhorar as técnicas de agricultura, produzindo mais comida em menos espaço.
A madeira foi o primeiro tipo de biocombustível usado pelos seres humanos, milênios antes da descoberta do petróleo. Isso ocorreu, estimam os arqueólogos, há cerca de 300 mil anos, no Paleolítico Superior, quando o homem das cavernas dominou o fogo e passou a usar madeira para cozinhar, se esquentar e afugentar predadores.
E a madeira foi, ainda por muito tempo, o único combustível da humanidade. Hoje ainda é um dos maiores, mas o desmatamento e a emissão de gases que causam o efeito estufa durante a queima fazem com que ela não seja um biocombustível ecológico.
Atualmente, materiais como a cana-de-açúcar, o milho, a batata e alguns tipos de capim servem para produzir combustíveis como o etanol e o bio-diesel; que substituem a energia proveniente de fontes não renováveis, como petróleo e carvão mineral.
Cientistas do Imperial College, em Londres, cruzaram dados de mais de 90% pesquisas feitas no mundo inteiro para chegar aos resultados. "Prover até um quinto da energia global com biomassa é uma ambição razoável se fizermos o melhor uso dos resíduos agrícolas, do material que sobra das culturas", afirma Raphael Slade, principal autor do relatório e pesquisador do Imperial College. Um exemplo é o uso do bagaço de cana de açúcar, que pode gerar açúcar e energia.
Para chegar a esse produção de energia, diz o estudo, não seria necessário aumentar a área que hoje é usada para agricultura. O papel dos governos é essencial para que isso aconteça, já que o apoio a pesquisas que levem ao aumento da produtividade dependem de grandes financiamentos.
O relatório reforça que a possibilidade de produzir esse montante de energia é técnica. Para torná-la prática, é preciso estudar formas de aumentar a produtividade das plantações. As mudanças na dieta de pessoas que vivem em países que estão se desenvolvendo, na Ásia e na América Latina, são vistas como um desafio pelos pesquisadores.
"Quanto mais você quer de bioenergia, mais difícil torna-se conciliar a demanda por proteção alimentar, energética e ambiental", diz Slade.
"A bioenergia vai fazer parte do mix de energias de baixo carbono do futuro", afirma Ausilio Bauen, do Centro de Política Energética e Tecnologia do Imperial College. "Mas garantir que a bioenergia, a produção de comida e as florestas não vão competir por espaço não vai ser simples. Só aumentando a produtividade e fazendo melhor uso do que produzimos poderemos produzir combustível, alimentar a população e conservar o meio ambiente", completa.
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