segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Os anos ocultos de Jesus

Os anos ocultos de Jesus

O que ele fez antes dos 30 anos? A Bíblia não conta. Mas a história e a arqueologia têm muito a dizer

por Eduardo Szklarz e Alexandre Versignassi
O Novo Testamento contém 27 livros, 7 956 versículos e 138 020 palavras. E uma única referência à juventude de Jesus. O Evangelho de Lucas nos conta que, aos 12 anos, ele viajou com os pais de Nazaré a Jerusalém para celebrar o Pessach, a Páscoa judaica. Quando José e Maria retornavam a Nazaré, perceberam que Jesus tinha ficado para trás. Procuraram o garoto durante 3 dias e decidiram voltar ao Templo, onde o encontraram discutindo religião com os sacerdotes. "E todos que o ouviam se admiravam com sua inteligência" (Lucas 2:42-49).

Isso é tudo. Jesus só volta a aparecer no relato bíblico já adulto, por volta dos 30 anos, ao ser batizado no rio Jordão por João Batista. É quando o conhecemos realmente. Da infância, as Escrituras falam sobre o nascimento em Belém, a fuga com os pais para o Egito - para escapar de uma sentença de morte impetrada por Herodes, rei dos judeus - e a volta para Nazaré. Da vida adulta, o ajuntamento dos apóstolos e a pregação na Galileia, além do julgamento e da morte em Jerusalém. Mas o que aconteceu com Jesus entre os 12 e os 30 anos? Qual foi sua formação, o que moldou seu pensamento nesses 18 "anos ocultos"? Afinal, o que ele fez antes de profetizar na Galileia?

A notícia para quem deseja reconstruir o Jesus histórico é que novas análises dos Evangelhos, documentos históricos e achados arqueológicos nos dão pistas sobre a sociedade da época. E dessa forma podemos chegar mais perto de conhecer o homem de Nazaré. E entender o que passava em sua cabeça.


O pedreiro cheio de irmãos

Uma coisa é certa. Aos 13 anos, Jesus celebrou o bar mitzvah, ritual que marca a maioridade religiosa do judeu. E é bem provável que ele tenha seguido a profissão de José, seu pai. Carpinteiro? Talvez não. "Em Marcos, o mais antigo dos Evangelhos, Jesus é chamado de tekton, que no grego do século 1 designava um trabalhador do tipo pedreiro, não necessariamente carpinteiro", diz John Dominique Crossan, um dos maiores especialistas sobre o tema. Para o historiador, os autores de Mateus e Lucas, que se basearam em Marcos, parecem ter ficado constrangidos com a baixa formação de Jesus. E deram um jeito de melhorar a coisa. Mateus (13:55) diz que o pai de Jesus é que era tekton. E Lucas omitiu todo o versículo.

As mesmas passagens de Marcos e Mateus informam que Jesus tinha 4 irmãos (Tiago, José, Simão e Judas), além de irmãs (não nomeadas). Mas dá para ir mais longe a partir dessa informação. "Se os nomes dos Evangelhos estão corretos, a família de Jesus era muito orgulhosa da tradição judaica. Seus 4 irmãos tinham nomes de fundadores da nação de Israel", diz a historiadora Paula Fredriksen, da Universidade de Boston. "Seu próprio nome em aramaico, Yeshua, recordava o homem que teria sido o braço direito de Moisés e liderado os israelitas no êxodo do Egito, mais de mil anos antes."

Assim, a família teria pelo menos 9 pessoas, mas nem por isso era pobre. Nazaré ficava a apenas 8 km de Séforis - um grande centro comercial onde o rei Herodes, o Grande, governava a serviço de Roma. Com a morte dele, em 4 a.C., militantes judeus se revoltaram contra a ordem política. Deu errado: o general romano Varus chegou da Síria para reprimir os rebeldes. E seu amigo Gaio completou o serviço, queimando a cidade. "Homens foram mortos, mulheres estupradas e crianças escravizadas", diz Crossan. Mas a destruição de Séforis teve um lado positivo: Herodes Antipas, filho do "o Grande", transformou o lugar num canteiro de obras. Isso trouxe uma certa abundância de empregos para a região. Um pequeno boom econômico. Então o ambiente ao redor da família de Jesus não era de privações. "A reconstrução da cidade deve ter gerado muito trabalho para José", diz Paula Fredriksen.

Jesus nasceu no ano da destruição da cidade, 4 a.C. Ou perto disso. O Evangelho de Mateus diz que Jesus nasceu no tempo de Herodes, o Grande (4 a.C. ou antes). Lucas coloca o nascimento na época do primeiro censo que o Império Romano promoveu na Judeia. E isso aconteceu, segundo as fontes históricas romanas, em 6 a.C. A única certeza, enfim, é que "foi por aí" que Jesus nasceu. E que o ódio contra o que os romanos tinham feito em Séforis permeava o ambiente onde ele viveu. "Não é difícil imaginar que Jesus pensou muito sobre os romanos enquanto crescia", diz Crossan.

Na década de 20 d.C., quando Jesus estava nos seus 20 e poucos anos, o sentimento antirromano cresceu mais ainda. Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia cometendo o maior pecado que poderia: desdenhar da fé dos judeus no Deus único.

Mas, em vez de se unir contra o romano, os judeus se dividiram em seitas. Os saduceus, por exemplo, eram os mais conservadores. Os fariseus eram abertos a ideias novas, como a ressurreição - quando os justos se ergueriam das tumbas para compartilhar o triunfo final de Deus. Os essênios viviam como se o fim dos tempos já tivesse começado: moravam em comunidades isoladas, que faziam refeições em conjunto seguindo estritas leis de pureza. Já os zelotes defendiam a luta armada contra os romanos.

Em qual dessas seitas Jesus se engajou na juventude? Não há consenso entre os pesquisadores. Para alguns, porém, existem semelhanças entre a dos essênios e o movimento que Jesus fundaria - ambas as comunidades viviam sem bens privados, num regime de pobreza voluntária, e chamavam Deus de "pai". Essa hipótese ganhou força com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947. Eles trouxeram detalhes sobre uma comunidade asceta de Qumran, que viveu no século 1 e estaria associada aos essênios. O achado ar-queológico não provou a ligação entre Jesus e essa seita. Até porque os essênios eram sujeitos reclusos, ao passo que Jesus foi pregar entre as massas da Galileia e Jerusalém.

Jesus podia não ser essênio. Mas, para alguns estudiosos, seu mentor foi.


João, o mestre

Dois dos 4 Evangelhos começam a falar de João Batista antes de mencionar Jesus. É em Marcos e João. O homem que batizaria Cristo aparece descrito como um profeta que se vestia como um homem das cavernas ("em pelos de camelo") e que vivia abaixo de qualquer linha de pobreza traçável ("comia gafanhotos e mel silvestre").

Para a historiadora britânica Karen Armstrong, outra grande especialista no tema, isso indica que João pode ter sido um essênio. A vocação "de esquerda" que Jesus mostraria mais tarde, inclusive, pode vir da ligação do mestre João com a "sociedade alternativa" dos essênios. "É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus", ele diria mais tarde.

Os Evangelhos não falam de João como mestre de Jesus. Nada disso. Ele apenas reconhece Jesus como o Messias na primeira vez que o vê. Os textos sagrados também informam que ele usava o batismo como expediente para purificar seus seguidores, que deviam confessar seus pecados e fazer votos de uma vida honesta.

Então Jesus aparece pedindo para ser batizado. Na Bíblia, esse é o primeiro momento em que vemos o Messias após aqueles 18 anos de ausência.

Depois de purificado nas águas do rio Jordão, Jesus parte para sua vida de pregação, curas e milagres. A vida que todos conhecem.

Para quem entende esse relato à luz da fé, isso basta. Mas é pouco para quem tenta montar um panorama da vida de Jesus, um retrato puramente histórico de quem, afinal, foi o homem da Galileia que sairia da vida para entrar na Bíblia como o Deus encarnado. E uma possibilidade é que Jesus tenha sido um discípulo de João Batista. Discípulo e sucessor.

As evidências: tal como João Batista, Jesus via o mundo dividido entre forças do bem e do mal. E anunciava que Deus logo interviria para acabar com o sofrimento e inaugurar uma era de bondade. Em suma: tanto um como o outro eram o que os pesquisadores chamam de "profetas apocalípticos". E se os Evangelhos jogam tanta luz sobre João Batista (Lucas fala inclusive sobre o nascimento do profeta, assim como faz com Jesus), a possibilidade de que a relação deles tenha sido mais profunda é real.

O grande momento de oão Batista na Bíblia, porém, não é o batismo de Jesus. É a sua própria morte. Morte que abriria as portas para o nosso Yeshua, o Jesus da vida real, começar o que começou.


E Yeshua vira Cristo

João Batista podia se vestir com pele de animal e se alimentar de gafanhotos. Mas tinha a influência de um grande líder político. Prova disso é que morreu por ordem direta de Antipas. O Herodes júnior tinha violado o 10º mandamento da lei judaica: "Não cobiçarás a mulher do próximo". Não só estava cobiçando como estava de casamento marcado com a ex-mulher do irmão, Felipe. João condenou a atitude do rei publicamente. E acabou executado.

Mateus deixa claro como Jesus, então já com seus 12 discípulos e em plena pregação, recebeu a notícia: "Ouvindo isto, retirou-se dali para um lugar deserto, apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades". Logo na sequência, o Cristo emenda o maior de seus milagres. Sentido com a fome da multidão que ia atrás dele, pegou 5 pães e dois peixes (tudo o que os apóstolos tinham) e foi dividindo. Passava os pedaços aos discípulos, e os discípulos à multidão. "E os que comeram foram quase 5 mil homens, além das mulheres e crianças" (Mateus 14:21). Horas depois, no meio da madrugada, outro milagre de primeiro escalão: Jesus apareceria para os apóstolos andando sobre as águas.

Esses episódios, claro, são parte da vida conhecida de Jesus (ou da mitologia cristã, em termos técnicos). Mas deixam claro: a morte de João foi importante a ponto de ter sido seguida de dois dos grandes episódios da saga de Cristo.

O filho do pedreiro assumiria o vácuo religioso deixado pelo profeta. Agora sim: Yeshua caminharia com as próprias pernas. E começaria a virar Jesus Cristo. "Ele não só assumiu o manto de João, mas alterou sua doutrina. A diferença interessante entre João Batista e Jesus Cristo é que Jesus ergueu o manto caído de Batista e continuou seu programa mudando radicalmente sua visão", diz Crossan.

Ele continua: "João dizia que Deus estava chegando. Mas João foi executado e Deus não veio". Ou seja: para o pesquisador, Jesus teria ficado tão chocado ante a não-intervenção divina que mudou sua visão sobre o que o Reino de Deus significava.

"João Batista havia imaginado uma intervenção unilateral de Deus. Jesus imaginou uma cooperação bilateral: as pessoas deveriam agir em combinação com Deus para que o novo reino chegasse", diz o pesquisador. Ou seja: não adiantaria esperar de braços cruzados. O negócio era fazer o Reino dos Céus aqui e agora. Como? Primeiro, extinguindo a violência. Mas e se alguém me der um soco, senhor? "Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra" (Lucas 6:29). Depois, amando ao próximo como a ti mesmo, ajudando ao pior inimigo se for necessário, como fez o bom samaritano da parábola famosa... Em suma, a essência da doutrina cristã.


A natividade

Agora, um aparte: chamar de "anos ocultos" apenas a juventude de Jesus é injustiça. O nascimento também é uma incógnita completa. A começar pela data de nascimento: 25 de dezembro era a data em que os romanos celebravam sua festa de solstício de inverno, a noite mais longa do ano. Não porque gostassem de noites sem fim, mas porque ela marcava o começo do fim do inverno. Praticamente todos os povos comemoram esse acontecimento desde o início da civilização - nossas festas de fim de ano, a semana entre o Natal e o Ano-Novo são um reflexo disso. O dia em que Jesus nasceu não consta na Bíblia - foi uma imposição da Igreja 5 séculos depois, para coincidir o nascimento do Messias com a festa que já acontecia mesmo - com troca de presentes e tudo.

"Na verdade, não sabemos nada histórico sobre Jesus antes de sua vida pública, já que os dois primeiros capítulos de Mateus e Lucas [os que relatam o nascimento] são basicamente parábolas, não história", diz Crossan. De acordo com Mateus, José soube num sonho que Maria daria à luz um menino concebido pelo Espírito Santo. Quando Jesus nasce, magos surgem do Oriente e seguem uma estrela que os conduz a Jerusalém. Lá, eles ficam sabendo que o Cristo nasceu em Belém. Seguindo a estrela, os magos chegam à cidade para adorar o menino e lhe regalam com ouro, incenso e mirra. Mas Herodes fica perturbado com o nascimento e manda soldados matarem todos os bebês de até 2 anos em Belém. Assim, José foge com a família para o Egito e depois vai morar em Nazaré, na Galileia, onde Jesus é criado.

"Não há nenhum relato, em qualquer fonte antiga, sobre o rei Herodes massacrar crianças em Belém, ou em seus arredores, ou em qualquer outro lugar. Nenhum outro autor, bíblico ou não, menciona isso", diz o teólogo americano Bart D. Ehrman no livro Quem Foi Jesus? Quem Jesus Não Foi?

No relato de Lucas, o anjo Gabriel vai à casa de Maria, em Nazaré, e lhe avisa que daria à luz um futuro rei. E que o "Filho de Deus" se chamaria Jesus. Maria era uma virgem prometida a José, e o anjo lhe explicou que o filho seria gerado pelo Espírito Santo. Lucas diz que naquela época, "quando Quirino era governador da Síria", um decreto do imperador Augusto obrigou os súditos a se registrar no primeiro censo do Império. Todo mundo devia retornar à cidade de origem para se alistar. Como os ancestrais de José eram de Belém, ele foi com Maria grávida para lá. Jesus nasceu em Belém pouco depois, e foi envolvido em panos na manjedoura. Lá o menino recebeu a visita de pastores e foi circuncidado aos 8 dias, para depois passar a infância em Nazaré.

"Os problemas históricos em Lucas são ainda maiores", diz Ehrman. "Temos registros do reinado de Augusto, e em nenhum deles há referência a um censo para o qual todos teriam de se registrar retornando ao lar dos ancestrais."

Ok, mas afinal por que Mateus e Lucas fazem Jesus nascer em Belém? Bom, de acordo com uma profecia do livro de Miqueias, do Antigo Testamento, o salvador viria de lá. Por que de lá? Porque era a cidade do rei Davi, o mais lendário dos soberanos de Israel.

Depois que o general Pompeu invadiu a Judeia, em 63 a.C., e fez dela província do Império Romano, os profetas passaram a dizer que um rei da linhagem de Davi inauguraria o "reino de Deus". Chamavam essa figura de "o ungido" - já que Davi e outros reis israelitas haviam sido ungidos com óleo. Os Evangelhos foram escritos em grego, o inglês da época. E em grego "ungido" é christos. O Cristo tinha que nascer em Belém. Yeshua provavelmente era de Nazaré mesmo.

Os Evangelhos, por sinal, são obra de autores desconhecidos. É apenas uma convenção dizer que foram escritos por Marcos (secretário do apóstolo Pedro), Mateus (o coletor de impostos), João (o "discípulo amado") e Lucas (o companheiro de viagem de Paulo). Além disso, os escritores não foram testemunhas oculares. "O autor de Marcos escreveu por volta do ano 70. Mateus e Lucas, de 80. E João, no final dos 90", diz Karen Armstrong. E claro: "Eram cristãos. Eles não estavam imunes a distorcer as histórias à luz de suas crenças", diz Ehrman. Afinal, "evangelho" deriva da palavra grega euangélion, que significa "boas novas". O objetivo dos autores não era escrever a biografia de Jesus, e sim propagar a nova fé. Levando isso em conta, chegamos a outra polêmica: os anos considerados como os mais conhecidos da vida de Jesus também são cheios de episódios misteriosos. Vejamos.


Yeshua sai da vida para entrar na Bíblia

Talvez tenha sido em busca de audiência que Yeshua rumou com os discípulos da Galileia para Jerusalém, por volta do ano 30 d.C. Depois de 3 anos pregando na periferia, já seria hora de atuar no palco principal.

Jerusalém era o pivô do fermento espiritual judaico, e milhares de judeus iam para lá na Páscoa. Os Evangelhos nos dizem que Jesus causou um tumulto no local, destruindo as banquinhas de câmbio (que trocavam moedas estrangeiras dos romeiros por dinheiro local cobrando uma comissão), já que seria uma ofensa praticar o comércio em pleno Templo de Jerusalém, o lugar mais sagrado da Terra para os judeus. Por perturbar a ordem pública, ele foi condenado à cruz. Parece historicamente sólido, mas o episódio central do Novo Testamento também é fonte de reinterpretações.

No julgamento, por exemplo, a multidão teria pedido que Barrabás, um assassino, fosse solto em vez de Jesus - já que era "costume" da Páscoa. Esse costume, porém, não é mencionado em nenhum lugar, exceto nos Evangelhos. Além disso, Jesus pode não ter sido exatamente crucificado, mas "arvorificado". É a teoria (controversa, é verdade) do arqueólogo Joe Zias, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Suas pesquisas indicam que as vítimas dos romanos eram mais comumente crucificadas em árvores, pregando uma tábua de madeira no tronco para prender os braços do condenado. Seja como for, não há por que duvidar de que ele tenha sido executado. Roma usava e abusava do expediente para tentar manter o controle das regiões que conquistava. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu do século 1, numa só ocasião 2 mil judeus foram executados

A história de Jesus não acaba aí, claro. "Alguns discípulos estavam convencidos de que ele ressuscitara. E que sua ressurreição anunciava os últimos dias, quando os justos se reergueriam das tumbas", diz Armstrong. Para esses judeus cristãos, Jesus logo retornaria para inaugurar o novo reino. O líder do grupo era Tiago, irmão de Jesus, que tinha boas relações com fariseus e essênios. E o movimento se expandiu. Quando Tiago morreu, em 62, Jerusalém vivia o auge da crise política. Em 66, romanos perseguiram os judeus com medo de uma insurgência. Os zelotes se rebelaram e conseguiram manter as tropas do Império afastadas por 4 anos. Com medo de que a rebelião judaica se espalhasse, Roma esmagou os revoltosos. Em 70, o imperador Vespasiano sitiou Jerusalém, arrasou o Templo e deixou milhares de mortos.

"Não temos ideia de como seria o cristianismo se os romanos não tivessem destruído o Templo", diz Armstrong. "Sua perda reverbera ao longo dos livros que formam o Novo Testamento. Eles foram escritos em resposta à tragédia."

Para os pesquisadores, então, os textos sagrados refletem a realidade da Judeia do final do século 1 - e não a do início, a que Jesus viveu de fato. Por exemplo: Barrabás personificaria os sicários, judeus que saíam armados de punhais para matar romanos na calada da noite, como uma forma de vingança pela destruição do Templo. E que por isso mesmo eram assassinos amados pela população.

Quer dizer: Barrabás seria um personagem típico da década de 70 d.C., inserido no episódio da morte de Jesus, fato que aconteceu na década de 30 d.C, num momento em que o ódio aos romanos e o louvor a quem se dispusesse a matá-los não eram tão violentos.

Até a época em que os Evangelhos foram escritos, o movimento de Jesus era apenas um entre as várias seitas judaicas. Os primeiros cristãos se diziam "o verdadeiro Israel" e não tinham intenção de romper com a corrente principal do judaísmo. Mas tudo mudou com a destruição do Templo.

Ela intensificou a rivalidade entre as facções judaicas. "Em sua ânsia por alcançar o mundo gentio (o dos não-judeus), os autores dos Evangelhos estavam dispostos a absolver os romanos da execução de Jesus e declarar, com estridência crescente, que os judeus deviam carregar a culpa", diz Armstrong. João, o Evangelho mais virulento, declara que os judeus são "filhos do Diabo" (João 8:44). Até o autor de Lucas, que tinha uma visão mais positiva do judaísmo, deixou claro que havia um bom Israel (os seguidores de Jesus) e um Israel mau - os fariseus.

A rixa com os fariseus tem lógica, já que eram competidores diretos dos judeus cristãos. "Num extremo do judaísmo estavam os saduceus, a ala mais conservadora. No outro, os essênios, a mais radical. Já os fariseus e os judeus cristãos estavam no meio. Eles lutavam pela mesma coisa: a liderança do povo, que estava entre as duas pontas", diz Crossan.

Não é surpresa, aliás, que os livros do Novo Testamento contenham tantas contradições entre si. "Quando os editores finais do Novo Testamento juntaram esses textos, no início da Idade Média, não se incomodaram com as discrepâncias. Jesus havia se tornado um fenômeno grande demais nas mentes dos cristãos para ser atado a uma única definição", diz Armstrong. Os Evangelhos atribuídos a Marcos, Lucas, Mateus e João seriam finalmente selecionados para o cânon da Igreja. Dezenas de outros evangelhos ficaram de fora.

Só no século 2, quase 100 anos após a morte de Jesus, começam a aparecer relatos sobre ele no centro do Império. Um deles é uma carta do político romano Plínio ao imperador Trajano. Plínio cita pessoas conhecidas como "cristãs" que veneravam "Cristo como Deus". Outra fonte é o historiador romano Tácito, que menciona os "cristãos (...), conhecidos assim por causa de Cristo (...), executado pelo procurador Pôncio Pilatos". Suetônio, que escreveu pouco depois de Tácito, informa sobre uma perseguição de cristãos, "gente que havia abraçado uma nova e perniciosa superstição". Uma "superstição" cuja mensagem convenceria cada vez mais gente, a ponto de, no século 4, o imperador romano em pessoa (Constantino, no caso) converter-se a ela. E o resto é história. Uma história que chega ao seu segundo milênio. Com 2 bilhões de seguidores.


Lost Years

Antes dos 30, Jesus provavelmente teve a mesma formação religiosa dos judeus de sua época. Ou seja: seguia outro Jesus. Outro profeta.


16 anos

O jovem Yeshua (Jesus, em aramaico) tinha 4 irmãos homens e pelo menos duas irmãs mulheres. E cresceu na cidade onde nasceu: Nazaré.


20 anos

Ele pode não ter sido carpinteiro, mas pedreiro. O engano de 2 mil anos seria culpa de um erro de tradução.


28 anos

Na Bíblia, o profeta João apenas batiza Cristo. O mais provável, porém, é que ele tenha sido o grande mentor do jovem Yeshua.


33 anos

Os romanos crucificavam em massa. E também usavam árvores como base. Esse pode ter sido o cenário da morte de Jesus.

Superinteressante Revista

ALQUIMIA: O USO DAS VIBRAÇÕES NA TRANSMUTAÇÃO

ALQUIMIA: O USO DAS VIBRAÇÕES NA TRANSMUTAÇÃO

Os alquimistas são os "filósofos da matéria" e têm por objetivo atingir a compreensão da natureza e dominar (conhecer) suas leis, sendo hoje chamada a alquimia de "a arte de alterar ou utilizar as vibrações". Na concepção alquímica, o Universo originou-se de uma substância única, indiferenciada (matéria prima ou quintessência), a qual polarizou-se em princípios activo e passivo, derivando daí o mundo manifesto. Este azoth alquímico corresponde ao conceito ocultista da luz astral (o mesmo veículo ao qual se referem os médiuns que lidam com cura espiritual ou materializações).

A alquimia surgiu provavelmente no Egipto, como sugere a raiz grega do nome ( khemia = transmutação, fusão, mistura ) e corresponde ao nome copta do Egipto ( Khem = terra negra ), segundo Plutarco. Os árabes ( que invadiram o Egipto em 640 ), incorporaram esse vocábulo na forma Al-Kimiya (transformação através de Alá).

O fundador mítico da filosofia alquímica é o egípcio Hermes Trismegistos ( associado ao deus Toth ), mas a lenda cristã a atribui aos anjos, que ensinaram os segredos da natureza a alguns homens ao apaixonarem-se pelas mulheres terrenas.

São quatro os postulados básicos da alquimia:

1)- A unidade do princípio material ( matéria prima primordial );

2)- Evolução da matéria ( todos os elementos são radioativos, uns mais outros menos, de forma que ao longo de milhões de anos, mesmos os átomos considerados estáveis, sofrem transformações análogas à dos elementos instáveis );

3)- Os elementos químicos representam estados de evolução ( sendo o ouro o mais perfeito );

4)- A transformação é o resultado de uma evolução natural ainda desconhecida do homem, a qual é possível reproduzir em laboratório, sendo este trabalho ao mesmo tempo espiritual e material ( ora et labora = reza e trabalha; de onde vem a palavra laboratório = labor + oratório ).

Segundo Frater Albertus, "ervas, animais e metais – tudo cresce a partir da semente". Esta "semente" é denominada spiritus ou astra. Os metais, como seres vivos, podem estar sujeitos a doenças diversas, como comprovam alguns experientes radiestesistas ou radiônicos, inclusive eles podem até 'morrer', e geralmente os metais que empregamos estão realmente mortos, uma vez que perderam seu spiritus. O uso de alguns destes metais 'adoecidos' ou de ligas metálicas cuja combinação se origina de metais de caráteres diversos, pode precipitar o surgimento de diversos males.

Segundo a filosofia alquímica e os princípios da magia, os sete metais planetários são os que mais acumulam spiritus de natureza análoga à "influência" planetária correspondente. Eles apresentam um ritmo energético oscilante, de acordo com a posição do astro a ele associado ( é o "biorritmo" do metal ).

Como o próprio Hahnemann ( fundador da homeopatia ) comprovou, as coisas que são de alguma maneira semelhantes na natureza de suas vibrações características têm afinidade entre si. Isto é conhecido como "Princípio das Correspondências ou Concordâncias". Os florais e a homeopatia baseiam-se em princípios elementares da alquimia herbácea ( alquimia vegetal, que compõe a "Pequena Circulação", em contraposição à alquimia mineral ou "Grande Circulação" ). Em ambos os casos, o princípio ativo é a quintessência dos elementos impregnada num catalisador ( água ou álcool ).

A alquimia é, antes de mais nada, um sistema de autotransformação. O caminho é ao mesmo tempo espiritual e material. Existem duas vias para o pesquisador: a via úmida e a via seca ( ou a do sábio e do filósofo ). Uma é mais rápida do que a outra; no entanto, é muito mais arriscada.

A transmutação ocorre livre na natureza e intriga diversos pesquisadores:

como é possível que uma galinha, cuja ração é absolutamente carente de cálcio, possa gerar ovos, sabendo-se que a descalcificação de seus ossos não responde o suficiente para o processo? Como um pinto recém-nascido pode ter mais cálcio do que a gema que o gerou?

Estes e muitos outros mistérios serão esclarecidos no dia em que o homem se debruçar sobre o conhecimento antigo, sem preconceitos, e estudá-los com afinco, como nos diz Fritjof Cappra ( "O Tao da Física" ).
Fontes para a elaboração deste post:
Eduardo Rocchigiani from Jornal Universus

Fenícios

Fenícios 

As condições geográficas 

Fenícia era uma estreita faixa de terra que se encontrava na planície costeira onde atualmente é o Líbano.

Fenícia é um reino que estabeleceu colônias no sul da Europa e no norte da África do Sul. Sua grande conquista foi o comércio através dos mares.

As cidades-Estado da Fenícia

A rivalidade entre as cidades-Estado impede que os fenícios consigam fundar um reino unificado sob o comando de um só representante, apenas o que conseguiram foi formar uma confederação. Em 2500 a.C. a cidade de Biblos consegue lançar seu comércio e seu poderio por uma grande área do Mediterrâneo. Aproximadamente em 1400 a.C foi a vez de Sidon ter o seu momento de destaque, conservando sua hegemonia com o seu comércio realizado no mar durante muitos anos. Mas foi Tiro que alcançou a supremacia marítima e acessou as rotas mais distantes.

Com o domínio de outros povos como assírios, babilônios e persas, houve a queda dos fenícios.

As atividades econômicas e a sociedade fenícia 



Ao que tudo indica, os fenícios são povos semitas provenientes da Caldéia. Uma das mais importantes influências comerciais e políticas dos fenícios eram os gregos.

O artesanato foi a principal atividade comercial dos fenícios, uma vez que esse povo produzia uma grande quantidade de produtos com um preço agradável como armas, vasos, enfeites, tecidos. O comércio de escravos gerava benefícios lucrativos para os fenícios, no entanto muito escravos eram levados para Fenícia para realizar serviços artesanais.

Os fenícios eram bastante habilidosos na navegação tendo conhecimento de todas as rotas do Mediterrâneo, assim atravessaram o estreito de Gibraltar, que fica entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, e atingiram as Ilhas Britânicas.

Conforme a população fenícia foi crescendo, foram instituídas colônias nas extremidades do Mediterrâneo que serviam como entrepostos de comércio e abastecimento. Os fenícios conquistaram a supremacia comercial do Mediterrâneo e tornaram-se os principais concorrentes dos gregos, etruscos e romanos.

A população fenícia era basicamente constituída de artesões e marinheiros que trabalhavam para as classes ricas de mercadores que viviam do comércio marítimo, tinham o poder político e o domínio das atividades comerciais. Os escravos trabalhavam como remadores e artesões e os mercenários protegiam as embarcações e as muralhas das grandes cidades-portos. 

A religião fenícia

Na Fenícia a religião era politeísta, onde a prática de sacrifícios humanos era comum. Cada cidade tinha o seu Baal (deus) protetor, além disso, eram devotos de outras divindades protetoras dos navios, rotas e comércio.

O alfabeto 

Os fenícios desenvolveram muitas técnicas importantes para o progresso da humanidade. Para facilitar as operações comerciais desenvolveram o alfabeto que foi um marco da história fenícia.

Através do ideograma egípcio criaram o alfabeto fonético com 22 letras, que conseqüentemente seria adaptado pelos gregos e romanos. Outras técnicas também foram aprimoradas pelos fenícios, como as técnicas de navegação e as de conhecimentos geográficos, graças ao fato de explorarem as rotas marítimas.
 
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Zaratustra ou Zoroastro

Profeta persa, fundador do zoroastrismo

Zaratustra ou Zoroastro

Cerca de 630 a.C., Báctria (atuais Afeganistão, Paquistão e noroeste da Índia)
Cerca de 553 a.C., Corasmia (atuais Uzbequistão e Turcomenistão)
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
Os princípios de Zoroastro se encontram presentes nas religiões modernas
Nos dias atuais, depois de estudos lingüísticos e comparações de textos antigos, a maior parte dos pesquisadores chegou à conclusão que Zoroastro deve ter nascido por volta do ano 630 a.C. em Báctria, região da Ásia central ao norte do atual Afeganistão.

Mas não existem registros históricos da data de nascimento e dos locais em que Zoroastro viveu.

Um dos motivos foi sua seita ter sido "apagada" pela conquista do Império Persa por Alexandre, o Grande, e depois, pelos árabes.

Essa região era imensa: num mapa atual ela incluiria, no mínimo, o Irã, o Iraque, o Afeganistão, o Uzbequistão, o Quirguistão, o Turcomenistão, parte do Paquistão e o noroeste da Índia.

Quando os árabes conquistaram a Pérsia e difundiram o islamismo, a religião de Zoroastro, que ali existia desde antes dos persas formarem um império, desapareceu. Há menções a ela nos contos das "Mil e Uma Noites", uma coletânea de histórias passadas de geração em geração na tradição oral e mais tarde transformada em livro.

Ali se pode ler sobre os magos (magi), os adoradores do fogo. Eram considerados ilegais pelos árabes, pois estes admitiam apenas sua própria religião, muçulmana.

Dessa forma, Zaratustra ou Zoroastro passou à história como um profeta cuja doutrina foi superada. No entanto, estudiosos afirmam que muitos dos princípios teológicos das religiões modernas, como a separação entre o bem e o mal, já haviam sido delineadas por Zaratustra, 600 anos antes de Cristo e 1.200 anos antes de Maomé.

Os ensinamentos de Zaratustra só foram registrados depois de sua morte - a única exceção é o Gatha, livro de hinos que teria sido escrito por ele. O nome Zaratustra significa "homem dos velhos camelos". Seu pai se chamava Porushaspa, cuja tradução é "aquele dos cavalos de raça com patas anteriores brancas" e deve ter sido um sacerdote, de um clã de criadores de animais - assim está escrito no Avesta, o livro sagrado dos ensinamentos de Zaratustra.

Destinado, ainda bem jovem, a seguir as pegadas do pai e a se tornar também um sacerdote, o rapaz não concordou. Aos 20 anos ele abandonou sua terra e partiu em peregrinações. O Avesta (e aí começa a lenda) conta que ele se encontrou com um anjo e teve uma visão. Viu a luta cósmica entre as forças do bem e as do mal, da ressurreição dos mortos no dia do juízo final e da vida após a morte no paraíso ou no inferno.

Depois disso, Zaratustra passou anos meditando antes de começar a pregar em Báctria. No zoroastrismo, Ormuz Mazda ou Ahura Mazda, era o deus do bem, criador do universo e a encarnação da justiça; Arimã era o senhor do mal, das sombras e da morte. Acreditava-se que essa luta entre o bem e o mal iria durar até o final dos tempos. O deus Mazda era adorado sob a forma de fogo em altares ao ar livre.

As pessoas o escutavam sem muito interesse, e ele sofria dura oposição dos sacerdotes e dos nobres. Conseguiu poucos seguidores que o acompanharam em suas viagens para divulgar seus ensinamentos. Foi para Corasmia, um imenso reino que se estendia do mar de Aral até o Golfo Pérsico: Samarcanda e Bukhara (no atual Uzbequistão), Kandahar e Cabul (no atual Afeganistão) eram algumas de suas cidades mais famosas.

O xá (rei) Vistapia gostou das idéias de Zaratustra e se converteu à nova fé. Foi um sucesso decisivo. O profeta pôde iniciar sua obra e fez construir, diante das portas da capital, o Templo do Fogo. No altar ao ar livre, os sacerdotes cantavam hinos e doutrinavam as pessoas. Não era mais necessário sacrificar animais para conseguir a graça divina. Bastava ser honesto e trabalhador.

Mas logo os sacerdotes começaram a se rebelar: queriam voltar à antiga religião. Começou uma grande guerra em que Vistapa foi morto e Zaratustra perdeu seu protetor. No combate final, o profeta foi surrado com bastões e não resistiu aos ferimentos: já tinha mais de 77 anos.

Segundo a lenda, a doutrina de Zaratustra havia sido escrita com tinta de ouro em 12 mil couros de boi e estava guardada na biblioteca real de Persépolis, que foi totalmente queimada pelos soldados de Alexandre, o Grande, 200 anos depois.

Uol Educação

sábado, 8 de outubro de 2011

O poder secreto dos animais

O poder secreto dos animais
Cães telepatas, gatos capazes de prever a morte das pessoas, elefantes que sabem quando um terremoto irá acontecer. Os animais percebem muito mais do que nossos sentidos conseguem captar. A ciência reconhece isso, mas ainda não consegue explicar


POR LUIS PELLEGRINI
Já ouviu falar do gato Oscar? Há alguns anos ele virou uma celebridade mundial. Não por conta do seu pelo macio ou focinho perfeito, mas por sua capacidade de prever com precisão a morte de pessoas. Isso acontece ainda hoje, na clínica Steere House, em Providence, Rhode Island (Estados Unidos), um lugar para idosos com doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson. Ali, Oscar costuma deitar-se ao lado ou sobre o peito de pacientes que dali a pouco passarão para o outro lado da vida. E ele não erra nunca.
Trazido de um abrigo de animais, Oscar cresceu na unidade para dementes da Steere House. A clínica adotou há anos um programa em que animais são levados para a companhia dos pacientes, a fim de que estes tenham manifestações de afeto e amizade. Cerca de seis animais residem ali, promovendo conforto aos pacientes. Mas só Oscar demonstrou a capacidade especial de perceber qual paciente morreria em breve.
Cerca de seis meses depois, médicos e enfermeiras da clínica notaram que o gato fazia sua própria ronda entre os pacientes. Ele cheirava e observava os doentes, e às vezes escolhia um deles para ir deitar-se. Para surpresa geral, os pacientes com quem Oscar dormia vinham a falecer cerca de duas a quatro horas depois de sua chegada.
The New England Journal of Medicine/AFP
Nesta página, o gato Oscar, capaz de prever o momento da morte das pessoas. Cavalos e cachorros, como todos os animais superiores, parecem possuir capacidades psíquicas particulares que podem nos ser muito úteis.
Um dos primeiros casos anotados referia-se a uma paciente que tinha um coágulo na perna. Oscar aninhou-se em volta de sua perna e ali permaneceu até a mulher falecer, cerca de duas horas depois. Outro caso exemplar foi o do médico que havia feito um prognóstico de morte iminente, baseado nas condições do paciente: Oscar simplesmente se afastou, fazendo com que o médico acreditasse que o dom do gato houvesse desaparecido. Dez horas depois, Oscar aproximou-se novamente do doente e se aninhou junto dele. A morte do paciente ocorreu cerca de duas horas depois - um intervalo muito longo para o prognóstico inicial do médico.
A precisão de Oscar, que até agora conta com muitas dezenas de casos comprovados, levou o pessoal que trabalha na clínica a instituir um novo e incomum protocolo: toda vez que ele dorme com um paciente, os parentes deste são notificados de sua morte iminente. Na maioria das vezes, a família do paciente não presta atenção ao fato de que Oscar está presente na hora da morte; em algumas ocasiões, entretanto, quando é afastado do quarto a pedido dos parentes, o gato fica andando de um lado para o outro em frente à porta, miando em protesto. Quando permanece, Oscar fica com o doente até que este venha a exalar seu último suspiro - momento em que o gato se levanta, dá uma olhada e parte silenciosamente.
TUDO SE PASSA COMO SE OS ANIMAIS TIVESSEM UM MAPA MAGNÉTICO NA CABEÇA, UM "RADAR" FUNCIONANDO O TEMPO TODO, CAPAZ DE CONDUZIR SEUS PASSOS EM SITUAÇÕES CRÍTICAS. UMA ESPÉCIE DE GPS BIOLÓGICO
Várias foram as hipóteses formuladas para explicar os poderes de Oscar. Os gatos conseguem cheirar as substâncias químicas que são eliminadas pelas pessoas pouco antes de morrer? Os gatos simplesmente são ótimos observadores, melhores do que os próprios médicos? Os gatos possuem algum sentido ou sensibilidade especial, que não conseguimos explicar, mas que realmente funciona? Serão donos de algum poder paranormal? Nenhuma resposta definitiva foi encontrada até agora, e, na clínica Steere House, Oscar continua tranquilamente a desempenhar o seu papel.
Oscar, no entanto, está longe de ser o primeiro e único animal a manifestar capacidades extraordinárias e inexplicáveis. Todos os animais, algumas espécies mais particularmente, possuem capacidades de percepção que superam em muito àquelas humanas. A tal ponto que seus feitos, observados um sem-número de vezes, em todos os tempos e lugares, fazem com que se confundam e se percam os limites entre a ciência e a magia. Nas últimas décadas, um cientista famoso pesquisou o complexo universo das estranhas percepções dos animais e construiu a respeito uma teoria unitária. Esse homem é Rupert Sheldrake, escritor e biólogo inglês, que explicou os resultados de sua pesquisa no livro Dogs that know their owners are coming home (Cachorros que sabem que seus donos estão chegando em casa).
LUIS PELLEGRINI

Fotos: Shutterstock
Há, em todo o mundo, inúmeros episódios de animais que, afastados de suas casas ou dos seus donos pelas causas mais diversas, encontram o caminho de casa até mesmo depois de anos de busca e de perigosas viagens. Sheldrake fala disso em seu livro, examinando casos de cães, gatos, cavalos e pássaros que conseguem voltar a seu domicílio, pouco importando a imensa distância que parecia tornar o feito praticamente impossível. A conclusão das suas pesquisas é que são de pouco ou nenhum valor o olfato e a memória visual dos lugares que os animais cruzaram. Em muitos casos, era na verdade impossível tomar consciência dos espaços percorridos - por exemplo, no caso de viagens aéreas ou de trem (e pensemos que os citados animais escolheram meios e estradas totalmente diversas daquelas usadas durante a viagem de ida). Tudo se passa como se os animais tivessem um mapa magnético na cabeça, um "radar" funcionando o tempo todo, capaz de conduzir seus passos em situações críticas. Uma espécie de GPS biológico.
Existem também capacidades particulares dos animais que, além de nos deixar atônitos, podem nos ser muito úteis. Por exemplo, alguns cães preveem os ataques epiléticos nas pessoas, capacidade estudada e demonstrada em estudo conduzido pelo neurologista Adam Kirton, do Children's Hospital, de Alberta, Canadá, em 2004. O estudo, realizado com 60 cães, demonstrou que 15% deles são bastante precisos na previsão de uma crise epilética do próprio dono, sem necessidade de treinamento. Há vários casos em que o animal, mesmo estando a grande distância do dono, corria subitamente em direção a ele quando o mesmo estava na iminência de ter um ataque.
Essa virtude extraordinária parece ligada unicamente ao grau de conhecimento afetivo, por parte do cão, da pessoa que apresenta esse problema. Para alguns cientistas, isso provavelmente deriva da capacidade olfativa que os animais possuem: antes de um ataque epilético, o corpo humano poderia sofrer alterações fisiológicas que levariam a mudanças na sudorese e na composição química do suor, modificações que os cães conseguiriam perceber, ou melhor, cheirar. Mas trata-se realmente apenas de olfato?
A mais conhecida capacidade paranormal dos animais é, sem dúvida, a de prever terremotos e outros importantes cataclismos geológicos. Em 2004, horas antes do tsunami que devastou o litoral de vários países asiáticos, elefantes nas proximidades de praias na Indonésia e no Sri Lanka começaram a manifestar sinais de grande inquietação. Vários arrebentaram as correntes que os prendiam e fugiram para o alto de colinas, como que prevendo que as áreas estavam prestes a serem inundadas.
A MAIS CONHECIDA CAPACIDADE PARANORMAL DOS ANIMAIS É A DE PREVER TERREMOTOS E OUTROS CATACLISMOS GEOLÓGICOS
Na Europa e na China, zonas sujeitas a abalos sísmicos, todos prestam atenção quando animais em cativeiro - como aqueles trancados em zoológicos - mostram sinais de inquietação. Desde a antiguidade há relatos que falam dessa capacidade de previsão dos animais, que, bem antes do momento da catástrofe, começam a comportar-se de maneira estranha, mostrando um forte desejo de abandonar a casa do dono e fugir para longe, como se previssem, ao mesmo tempo, salvar a própria pele e avisar às pessoas de que não é mais o caso de permanecer naquele lugar.
Acima, Bastet, a deusa-gata dos egípcios. À direita, dois elefantes da Indonésia fotografados horas antes do tsunami de 2004. Eles entraram em agitação e fugiram para o alto das colinas. Abaixo, os golfinhos são um dos animais mais dotados de sensibilidade e inteligência.
LUIS PELLEGRINI

O gato, animal mágico no antigo Egito
No Egito dos tempos faraônicos, matar um gato era um crime punido severamente, não importando se essa morte fosse provocada ou acidental. Mas quando um gato morria naturalmente, conta o historiador Heródoto, as pessoas da casa choravam em luto, como se tivessem perdido um membro da família. O gato era embalsamado e ritualmente sepultado. Os egípcios o chamavam Myu, uma evidente onomatopeia. O gato era venerado em muitas outras regiões do país, sobretudo em Bubastis, cidade do Baixo Egito, onde a principal divindade era Bastet, a deusa com cabeça de gato.
Assim como a própria Bastet, o gato era inimigo das serpentes. Seu culto era muito difundido também em Tebas e Mênfis. Nos arredores dessas cidades foram descobertos cemitérios de gatos contendo cerca de 200 mil múmias desses animais. Parece que o gato macho era animal consagrado ao Sol e ao deus Osíris, e a gata, à Lua e à deusa Ísis.
O gato, cuja pupila sofre variações que lembram as fases da Lua, costumava ser comparado à esfinge, por conta da sua natureza secreta e misteriosa e por sua sensibilidade aos fenômenos elétricos e magnéticos. Além disso, sua posição "enrolada" e seu hábito de dormir dias inteiros faziam dele, aos olhos dos sacerdotes, a imagem ideal do meditador, mostrada como exemplo aos neófitos. No Livro dos Mortos egípcio o gato é chamado Matu, quando combate contra Apófis, a serpente píton dos pântanos, símbolo das forças maléficas e traiçoeiras. Afirmava-se, também, que o gato possuía nove almas e gozava de nove vidas sucessivas.
Romeo Gacad/AFP
A psicóloga de animais Beatrice Lydecker, autora do livro What the animals tell me (O que os animais me ensinaram), defende a ideia de que o esforço que os animais fazem para se comunicar conosco é muito maior do que podemos perceber. Para ela, a maioria das mensagens que eles nos mandam escapa totalmente à nossa atenção. Para Beatrice, os animais não se comunicam conosco verbalmente, e sim por intermédio de percepções extrassensoriais. Ela cita os resultados de uma série de testes que demonstrariam como uma pessoa pode se comunicar com seu animal preferido usando uma linguagem não verbal e visualizando aquilo que deseja. Essa opinião é compartilhada também pelos zoólogos Maurice e Robert Burton, autores da enciclopédia Inside the animal world (Por dentro do mundo animal), que trata de comportamento animal. A obra narra vários exemplos extraordinários de telepatia animal.
Por seu lado, o pesquisador norte-americano J.B. Rhine, considerado o pai da parapsicologia científica, já afirmava que experimentos bem controlados sobre a percepção extrassensorial dos animais confirmavam a evidência e sugeriam que a capacidade dos animais de transmitir e receber mensagens telepáticas é uma propriedade adquirida do organismo animal e precede a consciência sensorial.

Revista Planeta

Cerveja ou barriga sarada As duas juntas não dá

Cerveja ou barriga sarada
As duas juntas não dá

Tomada em grandes quantidades, de forma regular,
ela provoca a dilatação permanente do abdômen

Jorge Butsuem
Ana Lima
A noção de que as intermináveis rodadas de cerveja ou chope provocam o aumento da barriga não é lenda nem invenção de esposas implicantes. É a pura – e amarga – verdade. Não que o chope ou a cerveja sejam excepcionalmente calóricos. Ocorre que a ingestão de qualquer bebida alcoólica em grandes quantidades acaba por inchar o abdômen. Ninguém bebe litros de uísque ou vodca numa única noite, mas de cerveja, sim. Quando essa ingestão é feita de forma regular, a dilatação se torna permanente, o estômago fica maior – e lá se vai a barriga rumo ao horizonte. Some-se a isso o fato de que a cerveja ou o chope costumam ser acompanhados de tira-gostos que são verdadeiras bombas calóricas – torresmo, lingüiça frita, queijo à milanesa etc. – e tem-se o cenário perfeito para uma rotunda barriga do tipo espanta-namorada. Esse efeito perverso ocorre principalmente entre os homens. Alguns hormônios sexuais masculinos estimulam as células gordurosas localizadas na barriga.
Certos hábitos alimentares também contribuem para a barriga que teima em pular para fora da calça. Um deles é comer muito de uma única vez. O organismo tem um limite de absorção de calorias por refeição. Assim, tudo o que não é aproveitado vira gordura, principalmente no abdômen. Outro mau costume é comer muito à noite. A digestão é mais lenta nesse período e a tendência de acumular gordura e formar os pneuzinhos é maior.

É bom saber que, para diminuir a barriga, não bastam exercícios abdominais. Estes a fortalecem, reduzindo a flacidez, mas não a eliminam. Só os exercícios aeróbicos, como bicicleta, corrida, caminhada e natação, são capazes de queimar as gorduras localizadas na barriga. O ideal é conciliar as duas atividades. 

Revista Veja

Aumento do nível de colesterol bom diminui risco de infarto e derrame em pacientes com diabetes

Aumento do nível de colesterol bom diminui risco de infarto e derrame em pacientes com diabetes

Pesquisa foi feita com mais de 30.000 pacientes, acompanhados por 8 anos

O LDL previne a formação da arterosclerose O LDL previne a formação da arterosclerose (Thinkstock)
O aumento dos níveis de colesterol bom, o HDL, reduz o risco de ataques cardíacos e derrames em pacientes com diabetes, afirma estudo publicado nesta sexta-feira na edição online do American Journal of Cardiology.
Realizada pelo Centro para Pesquisas de Saúde (Kaiser Permanente Center for Health Research, pertencente a uma organização sem fins lucrativos), que tem unidades nas cidades de Atlanta (Geórgia), Portland (Oregon) e Honolulu (Havaí), nos Estados Unidos, é a maior pesquisa observacional já realizada. Foram examinados registros de saúde de 30.067 pacientes com diabetes que passaram pelo Centro entre 2001 e 2006.

Saiba mais

POR QUE O HDL FAZ BEM?
O colesterol é importante para o organismo pora sintetizar vitaminas e hormônios, mas eles não circulam livremente pelo sangue. Para fazer isso, é preciso que se juntem às lipoproteínas, como a  HDL (sigla para high density lipoproteins, ou lipoproteínas de alta densidade) e a LDL (low density lipoprotein, lipoproteínas de baixa densidade). A LDL impede que a LDL forme placas de gordura nas artérias que dão origem à arterosclerose, diminuindo ou obstruindo o fluxo sanguíneo, provocando infartos ou derrames.
A opção do estudo por pacientes com diabetes deve-se ao fato de que a doença, em alguns casos, aumenta os riscos de problemas cardiovasculares em até 87%, de acordo com um estudo de 2008. Dos pacientes estudados, 61% não apresentaram mudanças no nível de colesteral, 22% tiveram um aumento de pelo menos 6,5 miligramas por decílitro de sangue (medida padrão para a medição do colesterol), e em 17% os níveis de HDL caíram a mesma quantia.
Depois da medição, os pacientes foram acompanhados por 8 anos para ver se foram hospitalizados por causa de um infarto ou derrame. Resultado: os pacientes que tiveram o HDL aumentado sofreram 8% menos ataques cardíacos e derrames que os pacientes que não apresentaram mudanças no nível do colesterol, enquanto aqueles que tiveram redução nos níveis de HDL sofreram 11% mais infartos e derrames.
“A pesquisa representa uma boa notícia aos pacientes de diabetes, que já têm um maior risco de problemas cardiovasculares”, diz Suma Vupputuri, coautora do estudo e pesquisadora do Kaiser Permanente. “Ela mostra que aumentar o HDL pode ser uma boa estratégia para evitar infartos e derrames.” Também representa mais uma evidência da relação entre o HDL e as doenças cardiovasculares — neste caso, uma influência benéfica. Já se sabia que o LDL, o colesterol ruim, aumenta o risco de problemas cardíacos, mas a relação do LDL nunca foi clara.

Como aumentar o HDL, o bom colesterol

Até agora, poucas medicações foram capazes de aumentar o HDL, e as que fizeram isso apresentaram vários efeitos colaterais. As pessoas podem aumentar seus níveis de HDL sem medicação, alterando o estilo de vida: é preciso se manter dentro do peso ideal, consumir alimentos saudáveis, abandonar ou evitar o tabagismo e praticar exercícios. Segundo a American Diabetes Association, os níveis de HDL devem ser de pelo menos 50 miligramas por decilitro de sangue nas mulheres e de 40 nos homens. Níveis acima de 60 protegem contra doenças cardíacas.

Revista veja

As várias causas da obesidade

As várias causas da obesidade
Comidas que viciam, falha no sistema de compensação neurológico e fatores genéticos mostram por que é tão difícil manter o peso


Por Maíra Lie Chao
 
Shutterstock
A cada ano aumenta a quantidade de obesos e de pessoas com excesso de peso no mundo. E, pior, esse número crescente não é mais uma particularidade de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade da população adulta brasileira está acima do peso. A mudança no padrão de alimentação – aumento no consumo de comidas industrializadas – e a vida sedentária são os principais fatores de sobrepeso.
Ao longo dos anos, com o aumento da obesidade e da preocupação sobre o tema, foram desenvolvidos muitos estudos para se combater esse mal. É muito aceita a hipótese de que a obesidade pode ser uma doença sem uma única causa, mas várias. Predisposição genética, meio ambiente, vírus e distúrbio alimentar estão entre os fatores que podem desencadear um quadro de obesidade.
Uma teoria é de que a obesidade pode ser hereditária. Pesquisas feitas pelo Consórcio de Investigação Genética de Traços Antropométricos (Giant), que conta com mais de 400 cientistas de 280 instituições de pesquisa ao redor do mundo, mostraram novos determinantes genéticos relacionados ao alto índice de massa corpórea (IMC) e à distribuição de gordura no corpo.
Embora se diga que o efeito de cada variante seja modesto, os voluntários que têm mais de 38 delas eram, em média, de 6 a 9 quilos mais pesados que os que tinham 22 variantes ou menos. É importante lembrar que a expressão dessas variantes é muito pequena quando se quer determinar se, no futuro, uma pessoa será obesa. Tanto fatores genéticos quanto ambientais interferem no peso.
No segundo estudo foram encontrados 13 determinantes genéticos que influenciam a distribuição de gordura corporal, a razão cinturaquadril. De acordo com essa razão, o fato de a gordura ser armazenada na região do abdômen aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Por outro lado, ao se estabelecer o quadril ou coxas, ela pode ser benéfica, nos protegendo desses males.
Vírus da obesidade
Já pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acreditam que a obesidade seja transmitida de pessoa para pessoa como se fosse uma infecção. Não por acaso, os cientistas apelidaram a doença de “infectobesidade”, causada pelo adenovírus 36, uma variação do vírus associado ao resfriado. O estudo foi feito com 124 crianças de 8 a 18 anos e constatou-se que 54% delas eram obesas. Dezenove crianças apresentavam o adenovírus 36 e, desse total, 78% tinham quadro de obesidade.
Outra observação foi que as crianças que portavam o vírus pesavam, em média, 22 quilos a mais que aquelas que não o tinham. Os cientistas alertam que esse excedente pode significar um aumento no risco de outras doenças, como problemas cardíacos, diabetes e doenças no fígado.
A ideia de uma causa viral para a obesidade foi levantada uma década atrás por Nikhil Dhurandhar, professor do Centro de Pesquisa em Biomedicina de Pennington, nos Estados Unidos. Ele notou que os frangos que morriam durante uma epidemia de gripe (causada pelo adenovírus) na Índia, nos anos 1980, eram mais gordos, ao invés de serem magros, perfil esperado de um organismo doente.
42% de obesos
Pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, estimam que a epidemia de obesidade na América do Norte não vai parar até que pelo menos 42% dos adultos estejam obesos. O estudo de matemática modular, que levou em consideração dados de 40 anos do estudo Framingham Heart sobre doenças cardiovasculares, foi publicado no periódico PloS Computational Biology.
Maíra Lie Chao

Gordura vicia
Além da predisposição genética e de um vírus da obesidade, evitar essa doença se torna muito difícil, já que alimentos extremamente gordurosos e deliciosos estão ao nosso alcance a toda hora. Um artigo que saiu no periódico Nature Neuroscience dá uma outra perspectiva do porquê é tão difícil deixar de comer alguns pratos e alimentos gordurosos, mas muito palatáveis. Em uma experiência com ratos foi constatado que aqueles que se alimentavam de comida gordurosa apresentavam um déficit nos receptores de dopamina D2, hormônio que está associado à sensação de prazer e satisfação.
No experimento, os ratos foram divididos em três grupos: um que só se alimentava de ração, um que tinha acesso limitado a comidas gordurosas e um que poderia comer todos os alimentos gordurosos que quisesse. Depois de 40 dias, os ratos que tinham acesso ilimitado à gordura ganharam muito mais peso se comparados aos demais roedores. “O desenvolvimento da obesidade em ratos com acesso ilimitado à comida palatável está muito associado à piora do sistema de recompensa do cérebro”, escrevem os cientistas.
Os pesquisadores afirmam que déficits similares no sistema de recompensa do cérebro foram reportados em ratos viciados em drogas, como cocaína injetável. Logo, essa deficiência de receptores de dopamina D2 pode levar ao exagero na comilança, contribuindo para a obesidade.
Por que as dietas falham?
Segundo cientistas da Universidade da Pensilvânia, seguir uma dieta de emagrecimento faz com que o cérebro fique mais sensível ao estresse e busque recompensas calóricas, como comidas gordurosas. Um experimento feito com ratos mostrou que o nível de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, é muito maior naqueles que perderam peso em relação ao grupo de controle. Foi constatado que houve mais episódios de descontrole alimentar e ganho de peso nos roedores que passaram por dieta.
Descontrole com a comida
De fato, a oferta de comida extremamente palatável aumenta cada vez mais. Indústrias trabalham muito com produtos que priorizem a praticidade e o sabor acentuado. Esse tipo de alimento geralmente contém muitas substâncias que, em excesso, fazem mal ao organismo, levando ao ganho de peso, ao aumento de colesterol e de triglicérides, entre outros problemas. “A oferta de alimentos palatáveis de alta caloria favorece episódios de transtorno alimentar compulsivo periódico. Mas também a questão da aprendizagem influi”, diz Hermano Tavares, médico psiquiatra e coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Segundo ele, existe a necessidade de uma figura que zele pela boa alimentação das crianças e pelo aprendizado alimentar. E hoje, em razão do ritmo de vida e da inserção da mulher no mercado de trabalho, é mais difícil encontrar lares com tal figura de autoridade. “Às vezes, as pessoas comem de maneira equivocada porque não foram ensinadas como se alimentar de maneira apropriada”, argumenta. Além disso, há estudos que mostram que há doenças que têm fatores contribuintes de origem intrauterina. Maus hábitos alimentares podem comprometer a saúde do bebê no período em que ele está na barriga da mãe.
Tavares aponta que a reeducação alimentar seria um bom modo de combater a obesidade. Isso porque ela pode estar associada a outras dependências, como a ansiedade. É possível combater a ansiedade com psicoterapias e medicamentos, mas ainda assim é necessário ter um hábito alimentar saudável. O psiquiatra observa que uma linha de pesquisa da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, batizado de Academia Nutricional, para estimular a reeducação alimentar.
A Academia Nutricional funcionaria como um colégio, com aproximadamente 3 anos de duração, e se fundamentaria em cinco pilares. O primeiro diz respeito a experimentar novos sabores e alterar, numa taxa de 3% ao mês, o cardápio da pessoa. Já o segundo pilar se basearia na conscientização dos benefícios que cada alimento traz ao corpo. No terceiro momento, o nutricionista agiria como um negociador, que tiraria algum alimento do prato do paciente e o substituiria por um mais saudável. O quarto pilar seria alimentar um bichinho virtual (representação do aluno), como modo de trabalhar a conscientização e a honestidade consigo mesmo. O último fundamento é a formação de comunidades para estimular a boa alimentação e a experimentação de novos sabores.
Tavares afirma que esse método de reeducação alimentar pode ser muito eficaz, já que se está lidando com um comportamento praticado por anos. “É preciso de métodos muito criativos para se promover uma mudança comportamental. Tudo, claro, num ambiente afetivo, porque ele facilita essa mudança. A brincadeira do bichinho virtual pode envolver mais respostas afetivas”, argumenta.
Paladar da mãe influencia na dieta do filho
Estudo publicado no periódico Proceedings of Royal Society B mostrou que a alimentação da mãe na gravidez pode influenciar no paladar do filho. O experimento foi feito com dois grupos de ratos: um em que as mães se alimentavam de comidas com sabores mentolados e cerejas, e outro em que elas tinham uma dieta branda. Os filhotes do primeiro grupo tinham um glomérulo (região do cérebro responsável pelo odor) maior. É a primeira evidência de que os odores no útero podem alterar o modo como o cérebro se desenvolve. Acredita-se que todos os mamíferos desenvolvam seu paladar do mesmo modo.
Maíra Lie Chao

Fotos: Shutterstock
Novos modos de emagrecer
Em busca de combater o sobrepeso com mais eficácia, muitos métodos de emagrecimento estão sendo reformulados. Entre eles está a contagem de calorias. Os Vigilantes do Peso do Reino Unido implantaram recentemente o sistema ProPoints, em que os alimentos ganham pontuação por suas características e seu modo de preparo e não pela quantidade de calorias que possuem (antigo método).
Pesquisas realizadas pela própria instituição constataram que o sucesso em emagrecer não diz respeito somente à contagem de calorias, mas quão rápido nosso corpo processa os nutrientes. Por exemplo, de acordo com o antigo sistema, uma barra de chocolate e um bife tinham a mesma pontuação. Mas o corpo pode queimar 25% mais energia digerindo proteínas e fibras (carne) que processando açúcares e gordura (chocolate).
O ProPoints trabalha com uma meta de consumo de pontos diários, baseada em gênero, idade, peso e altura. Ao mesmo tempo, há um bônus de pontos por semana que podem ser gastos em qualquer dia, como preferir. Então, a pessoa, caso tenha um jantar ou uma festa, não precisa se limitar tanto pela dieta. Por enquanto, a medida do ProPoints só foi implantada no Reino Unido. Mas possivelmente, em breve, será utilizada pelo Vigilantes do Peso do Brasil.
Outro método de emagrecimento que tem sido posto em xeque são os exercícios físicos. Estudos recentes mostram que, a partir de um certo ponto, o corpo para de queimar energia e começa a querer repô-la, fazendo com que a pessoa coma mais e engorde. Um experimento realizado na Universidade de Louisiana, nos Estados Unidos, analisou quatro grupos de mulheres com sobrepeso durante 6 meses. No primeiro, elas se exercitavam 72 minutos por semana. No segundo, por 136 minutos. Já o terceiro grupo, por 194 minutos. As mulheres membros do último seguiam sua rotina normal, sem exercícios adicionais.
No final do estudo, os pesquisadores não constataram nenhuma diferença significativa de perda de peso entre aquelas que se exercitaram em relação ao grupo de controle. Os cientistas sugerem que isso aconteceu em virtude de um sistema de “compensação” do corpo, pois aquelas que se exercitaram compensaram as calorias gastas comendo mais, como uma forma de auto-recompensa.
Obsessão por comer
O transtorno alimentar compulsivo periódico (TCAP) é um distúrbio em que, por muitos episódios, a pessoa perde o controle e come até passar mal ou até a comida acabar. Grande parte dos pacientes com esse transtorno tem sobrepeso e cerca de 30% dos obesos têm esse comportamento. “A perda de controle com a comida não é obesidade. Ela é frequentemente associada a outras formas de perda de controle, como jogo, sexo, compras”, explica Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP. Esse descontrole é mais comum do que se pensa. Imagine uma noite mal dormida, estresse no trânsito, período de pressão no trabalho somados a um jejum de 12 horas. Depois desse dia, quando for a uma churrascaria, tente se controlar. “A tendência de perder o controle está associada a fatores genéticos e ambientais”, conclui.

Revista Planeta