sábado, 25 de agosto de 2012

A poderosa vitamina D

A poderosa vitamina D

Novos estudos revelam que ela Combate doenças como Diabetes e hipertensão e até ajuda a emagrecer. o problema é que está em quantidade insuficiente em metade da população mundial

Mônica Tarantino e Monique Oliveira

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Os livros didáticos disponíveis atualmente ensinam que a vitamina D é essencial na formação dos ossos e dentes. Mas esses textos precisarão ser reformulados para acrescentar uma longa lista de benefícios descobertos recentemente, que revelam que a substância faz muito mais pelo organismo do que se imaginava. Ela ajuda a emagrecer, fortalece o sistema de defesa do organismo, auxilia na prevenção e tratamento de doenças como a diabetes e a hipertensão e está associada a uma vida mais longa – para falar somente de alguns de seus efeitos positivos. Por essa razão, a vitamina tornou-se a mais nova queridinha dos médicos em todo o planeta. Muitos já estão solicitando a seus pacientes que meçam sua concentração no corpo e façam sua reposição se assim for necessário.
Um dos achados mais reveladores – e que ajuda a sustentar a nova atitude dos médicos – surgiu de um trabalho de cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Eles sequenciaram o código genético humano para averiguar quais regiões do DNA apresentavam receptores para a vitamina. Receptores são uma espécie de fechadura química só aberta por chaves compatíveis – nesse caso, a vitamina D –, para liberar o acesso e a ação do composto à estrutura à qual pertencem.
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O time de Oxford descobriu nada menos do que 2.776 pontos de ligação com receptores de vitamina D ao longo do genoma. “A pesquisa mostra de forma dramática a ampla influência que ela exerce sobre nossa saúde”, concluiu Andreas Heger, um dos coordenadores do trabalho, publicado pela revista “Genome Research”. Isso quer dizer que sua presença faz uma bela diferença na forma como trabalham os genes. “Todas as células mapeadas possuem receptores diretos da vitamina”, explica o dermatologista Danilo Finamor, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A outra comprovação inquestionável do poder abrangente da vitamina no corpo humano veio de uma ampla revisão de trabalhos científicos realizada pela Sociedade Americana de Endocrinologia cujo resultado foi divulgado há dois meses. “Ela age no coração, no cérebro e nos mecanismos de proliferação e inibição de células, entre outros sistemas”, disse à ISTOÉ o bioquímico Anthony Norman, professor da Universidade da Califórnia (EUA), um dos maiores estudiosos do tema e integrante do comitê responsável pela compilação de dados a respeito do assunto. “A vitamina D também atua nos músculos, que são as únicas estruturas capazes de dar mais estabilidade aos ossos”, diz o ortopedista André Pedrinelli, do Hospital Santa Catarina, de São Paulo.
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Muito do que se sabe a respeito dos novos benefícios da substância é referente à diabetes tipo 2, que hoje exibe proporções epidêmicas no mundo. Trabalhos demonstram que níveis baixos da substância estão relacionados a uma disfunção ligada à origem da doença chamada resistência à insulina. A insulina é o hormônio que permite a entrada, nas células, da glicose circulante no sangue. No caso da diabetes tipo 2, ela não consegue cumprir sua função corretamente e o resultado é o acúmulo de glicose na circulação sanguínea, o que caracteriza a enfermidade.
Uma das pesquisas a evidenciar a relação vitamina D-diabetes tipo 2 foi feita pelo cientista Micah Olson, da Universidade do Texas (EUA). Ele mediu os níveis da vitamina, de glicose e de insulina no sangue de 411 crianças obesas e 87 não obesas. “As obesas com níveis mais baixos do composto tinham maior grau de resistência à insulina”, disse. Em adultos, dá-se o mesmo. No mês passado, estudo publicado na revista “Diabetes Care” mostrou que pessoas com pequena quantidade da substância apresentavam 32 vezes mais resistência à insulina do que a média dos voluntários avaliados.
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A informação do papel da vitamina no desenvolvimento da enfermidade mudou a conduta médica. A endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo, membro da Sociedade Americana de Endocrinologia, por exemplo, é uma das que já indicam sua reposição, se for preciso. “Quando comecei a pedir dosagens, vi que cerca de 70% dos pacientes estavam com carência ou insuficiência da substância”, diz.
Também já existe um consenso científico de que, quanto mais obesa a pessoa, menos vitamina D ela apresenta. Não está claro, porém, se a obesidade por si só diminui a presença da vitamina no organismo ou se é o contrário. Mas, mesmo sem conhecer os mecanismos pelos quais a baixa concentração da substância contribui para o acúmulo de gordura, os médicos estão incluindo sua reposição na lista de estratégias mais recentes na briga contra a balança.
Só por ajudar no controle da diabetes e da obesidade – dois fatores de risco para doenças cardíacas –, a vitamina já poderia ser chamada de aliada do coração. No entanto, descobriu-se que ela combate também a hipertensão, bloqueando a ação de uma enzima envolvida na elevação da pressão arterial. “Por isso, pode ser dada como coadjuvante no tratamento da doença, se for comprovado seu déficit”, afirma Aluízio Carvalho, professor de nefrologia da Unifesp.
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O sistema imunológico é outro beneficiado. “Ela atua como um modulador do sistema de defesa do corpo”, explica a endocrinologista Cláudia Cozer, de São Paulo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. A quantidade certa da vitamina permite que o corpo se defenda melhor, por exemplo, das gripes e resfriados de repetição. “Uma das células beneficiadas por ela são os linfócitos T, que agem sobre as células estranhas e infectadas por vírus”, diz o bioquímico Anthony Norman, da Universidade da Califórnia. Alguns pesquisadores sugerem que a substância pode reduzir a mortalidade por pneumonia entre pacientes internados e ter ação específica sobre o bacilo de Koch, o causador da tuberculose.
Até as complexas doenças autoimunes se revelam sensíveis à vitamina. Essas enfermidades são desencadeadas por uma disfunção do sistema de defesa que faz com que ele comece a atacar o próprio organismo. Se ataca proteínas localizadas nas articulações, deflagra a artrite reumatoide. Se forem células da pele, há vitiligo ou psoríase. Nesse campo, a substância também tem sido vista como uma esperança, inclusive para pacientes de esclerose múltipla, enfermidade autoimune que acomete células nervosas e leva à perda gradual dos movimentos. Já se sabe que o seu avanço é mais rápido em quem convive com níveis baixos da substância, conforme documentou um estudo da Universidade de Maas­tricht, na Holanda, a partir do acompanhamento de 267 pessoas com a doença.
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RECEITA
A médica Cláudia Cozer é uma das que indicam
a reposição da vitamina se for preciso
Na Unifesp, mais de 800 portadores de esclerose múltipla estão recebendo doses do composto, sob responsabilidade do neurologista Cícero Galli Coimbra, um entusiasta do tratamento. “São doentes com déficit comprovado e resistência genética à vitamina”, explica o médico. “É uma terapia eficiente, que precisa ser divulgada”, diz Coimbra, criador do Instituto de Autoimunidade, voltado a esse tipo de tratamento.
Na mesma linha de intervenção segue a Universidade de Toronto, no Canadá. Pacientes com a enfermidade lá tratados apresentaram uma notável diminuição da perda de células nervosas. No entanto, o tratamento é considerado complementar e tem opositores. A terapia convencional da doença é feita com o medicamento interferon-beta, que modula o sistema imunológico.
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TRATAMENTO
O neurologista Cícero Galli coordena pesquisa sobre
o efeito da vitamina no controle da esclerose múltipla
A pesquisa das ligações do composto com o câncer é um campo dos mais desafiadores para os pesquisadores. Em junho, cientistas da Universidade da Carolina do Norte (EUA) anunciaram que pacientes com tumor de pâncreas com maior quantidade de receptores para a substância têm sobrevida maior do que os outros. Antes, eles já tinham sido encontrados pelos cientistas britânicos em áreas associadas à leucemia linfática crônica e câncer colorretal. Há também suspeita de que a vitamina regule genes ligados aos tumores de próstata e pesquisas mostrando doses deficientes em mulheres com câncer de mama. “Um estudo mostrou que o aumento de sua quantidade poderia impedir aproximadamente 58 mil novos casos de tumor de mama e 49 mil novos casos de câncer colorretal a cada ano”, disse à ISTOÉ a médica Archana Roy, da Clínica Mayo (EUA). “Mas outros trabalhos são necessários para esclarecer e comprovar essas relações”, pondera a endocrinologista Ana Hoff, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Embora seja chamada de vitamina, a substância é, na verdade, um pró-hormônio. Ou seja, dá origem a vários hormônios importantes para o corpo. É sintetizada a partir de uma fração do colesterol, transformada sob a ação dos raios ultravioleta B do sol. Ela também está presente em alimentos – principalmente peixes de água fria –, mas sua concentração neles é pequena e seria suficiente para fornecer apenas 20% das necessidades diárias.
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FALTA
No consultório da endocrinologista Maria Fernanda, 70% dos
pacientes tinham quantidade insuficiente da substância
É por essa razão que hoje os especialistas encontram-se preocupados. Ao mesmo tempo que fica cada vez mais clara sua importância para a saúde, o mundo enfrenta uma espécie de epidemia de déficit da substância. Segundo a Organização Mundial da Saúde, metade da população mundial tem menos vitamina D do que precisa. De acordo com a OMS, há insuficiência quando o exame de sangue indica uma concentração menor do que 30 ng/ml (nanogramas por mililitro de sangue). Valores abaixo de 10 ng/ml são classificados como insuficiência grave. Dosagens iguais ou superiores a 30 ng/ml estão na faixa da normalidade, cujo limite máximo é 100 ng/ml.
A enorme deficiência se deve principalmente à pouca exposição ao sol que as pessoas têm atualmente. Para que seja sintetizada na quantidade adequada, recomenda-se a exposição de partes do corpo (braços e pernas, por exemplo) entre 20 e 30 minutos ao sol diariamente, sem filtro solar. Ou, como orienta outra corrente, expor 15% da superfície da pele (equivale a dois braços) pelo menos três vezes por semana, com filtro solar. E, nesse caso, fazer complementação com suplementos receitados a partir da necessidade individual de cada um.
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Essas são as orientações de forma geral. Isso porque as descobertas recentes estão produzindo mudanças nas recomendações das concentrações ideais de acordo com grupos específicos. No ano passado, por exemplo, os americanos elevaram esses valores para a população da terceira idade. Seguindo a tendência americana, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) decidiu aumentar as suas indicações para crianças e adolescentes. “É importante lembrar que, para crianças maiores, a suplementação só será necessária caso a criança não atinja a quantidade de vitamina D recomendada apenas com alimentação e luz solar”, diz Virginia Weffort, do Departamento de Nutrologia da SBP.
A cautela é realmente imprescindível. “Não se deve tomar vitamina D indiscriminadamente”, adverte o endocrinologista Sharon Admoni, do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês. Em dose excessiva, ela causa enjoo, desidratação, prisão de ventre e pode aumentar a quantidade de cálcio, elevando a pressão arterial. Pode também gerar pedras nos rins. “O ideal é que quem faz suplementação seja bem monitorado pelo seu médico e faça exames periódicos de sangue”, diz a médica Ana Hoff. Dessa maneira, só haverá benefícios.
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Fotos: Montagem sobre foto shutterstock,Rogério Cassimiro/Ag. Istoé, JULIO VILELA, Pedro Dias e Gabriel Chiarastelli/Ag. Istoé; Shutterstock, Pedro Dias e Rafael Hupsel/Ag. Istoé; Shutterstock

Revista  ISTO É

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

EUA emitem alerta para "tempestade solar do século"

EUA emitem alerta para "tempestade solar do século"

por Luís Manuel CabralOntem
EUA emitem alerta para "tempestade solar do século"
Fotografia © www.nasa.gov
O Congresso dos Estados Unidos alertou os norte-americanos para a necessidade de se prepararem para uma forte tempestade solar, após alerta da NASA.
O Congresso dos Estados Unidos fez um alerta aos norte-americanos para estes se prepararem para aquilo que está a ser denominado como a "tempestade solar do século". Num documento elaborado pelos parlamentares, foi pedido às comunidades locais para se precaverem com os recursos necessários de modo a poderem abastecer as populações com um mínimo de energia, alimentos e àgua em caso de emergência. De igual modo, é destacada a importância de tomar medidas de prevenção adequadas a este tipo de fenómenos, articuladas entre as comunidades vizinhas, uma vez que é necessária uma boa coordenação entre todos.
Segundo avança o jornal espanhol "ABC", o texto do Congresso também cita várias informações elaboradas pela Protecção Civil, pelo regulador de energia eléctrica e pelo Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, explicando a forma de atuar perante estes fenómenos. O objectivo é incentivar as práticas preventivas, bem como definir a natureza da ameça, de forma a que os cidadãos possam estar preparados.
Espanha, Alemanha, França e Reino Unido, são alguns dos países que, tal como os Estados Unidos, já estão a tomar "importantes medidas ao nível da prevenção".
Este mês a NASA alertou para que, em 2013, o Sol chegará a uma fase do seu ciclo onde grandes explosões e tempestades solares serão mais prováveis e deverão afetar o nosso planeta.
O Sol tem ciclos solares com média de 11 anos e atualmente estamos numa fase de aumento da atividade, o que se traduz em maior número de manchas na superfície da estrela. É possível que haja outros ciclos mais longos, mas só existem registos das manchas solares desde meados do século XVIII. Por isso, é difícil fazer previsões sobre a atividade da nossa estrela.
Teme-se sobretudo uma tempestade electromagnética semelhante à de 1859, conhecida por Evento Carrington. Essa erupção foi tão intensa, que os sistemas de telégrafo, na altura incipientes, foram seriamente afetados. Se houvesse redes eléctricas, elas teriam sido destruídas. As auroras boreais foram visíveis em latitudes muito a sul, nomeadamente em Roma.

DN Ciência

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Planeta 'engolido' por estrela alimenta hipóteses sobre possível fim da Terra

Planeta 'engolido' por estrela alimenta hipóteses sobre possível fim da Terra


Estrela engole planeta
Pesquisadores descobriram planeta engolido ao analisarem composição da estrela hospedeira
Astrônomos encontraram evidências de um planeta que teria sido "devorado" por sua estrela, dando fôlego a hipóteses sobre qual poderia ser o destino da Terra dentro de bilhões de anos.
A equipe descobriu indícios de um planeta que teria sido "engolido" ao fazer uma análise sobre a composição química da estrela hospedeira.
Eles também acreditam que um planeta sobrevivente que ainda gira em torno dessa estrela poderia ter sido lançado a uma órbita incomum pela destruição do planeta vizinho.
Os detalhes do estudo estão na publicação científica Astrophysical Journal Letters.
A equipe, formada por americanos, poloneses e espanhóis fez a descoberta quando estava estudando a estrela BD 48 740 - que é um de uma classe estelar conhecida como gigantes vermelhas.
As observações foram feitas com o telescópio Hobby Eberly, no Observatório McDonald, no Texas.

Concentração de lítio

O aumento das temperaturas próximas aos núcleos das gigantes vermelhas faz com que essas estrelas se expandam, destruindo planetas próximos.
"Um destino semelhante pode aguardar os planetas do nosso sistema solar, quando o Sol se tornar uma gigante vermelha e se expandir em direção à órbita da Terra, dentro de cerca de cinco bilhões de anos", disseo professor Alexander Wolszczan, da Pennsylvania State University, nos EUA, co-autor do estudo.
A primeira evidência de que um planeta teria sido "engolido" pela estrela foi encontrada na composição química peculiar do astro.
A BD 48 740 continha uma quantidade anormalmente elevada de lítio, um material raro criado principalmente durante o Big Bang, há 14 bilhões de anos.
O lítio é facilmente destruído no interior das estrelas, por isso é incomum encontrar esse material em altas concentrações em uma estrela antiga.
"Além do Big Bang, há poucas situações identificadas por especialistas nas quais o lítio pode ser sintetizado em uma estrela", explica Wolszczan.
Telescópio Hobby Eberly (Foto Marty Harris)
Telescópio Hobby Eberly, no Observatório McDonald, no Texas
"No caso da BD 48 740, é provável que o processo de produção de lítio tenha sido desatado depois que uma massa do tamanho de um planeta foi engolida pela estrela, em um processo que levou ao aquecimento do astro."

Órbita incomum

A segunda evidência identificada pelos astrônomos está relacionada a um planeta recém-descoberto que estaria desenvolvendo uma órbita elíptica em torno da estrela gigante vermelha.
Esse planeta tem pelo menos 1,6 vezes a massa de Júpiter. Segundo Andrzej Niedzielski, co-autor do estudo da Nicolaus Copernicus University em Torun, na Polônia, órbitas com tal configuração não são comuns nos sistemas planetários formados em torno de estrelas antigas.
"Na verdade, a órbita desse planeta em torno da BD 48 740 é a mais elíptica já detectada até agora", disse Niedzielski.
Como as interações gravitacionais entre planetas são em geral responsáveis por órbitas incomuns como essa, os astrônomos suspeitam que a incorporação da massa do planeta "engolido" à estrela poderia ter dado a esse outro planeta uma sobrecarga de energia que o lançou em uma órbita pouco comum.
"Flagrar um planeta quando ele está sendo devorado por uma estrela é improvável por causa da rapidez com a qual esse processo ocorre", explicou Eva Villaver da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha, uma das integrantes da equipe de pesquisadores. "Mas a ocorrência de tal colisão pode ser deduzida a partir das alterações químicas que ela provoca na estrela."
"A órbita muito alongada do planeta recém-descoberto girando em torno dessa estrela gigante vermelha e a sua alta concentração de lítio são exatamente os tipos de evidências da destruição de um planeta


BBC Noticias Brasil.

domingo, 8 de julho de 2012

No Amapá, uma Stonehenge amazônica
Um misterioso círculo de pedras gigantes foi descoberto no Amapá. As primeiras escavações levam a crer que os astros regulavam a vida e o cotidiano dos indígenas que o construíram. PLANETA foi lá conferir

Heitor e Silvia Reali, de Calçoene, Amapá
Heitor e Silvia Reali
O espaço interno do círculo não é grande. Nele cabem, no máximo, 300 pessoas. Assim, é possível estimar que em determinados dias do ano, quando os frequentadores chegavam para suas festas e seus rituais, o local poderia abrigar pelo menos o dobro de pessoas, dentro e fora do círculo.
Laços fortes com ancestrais
Como curiosidade, vale dizer que as cerâmicas encontradas são cheias de significado. Por que as peças mais próximas ao centro são decoradas com desenhos de animais aquáticos (peixes e sapos, por exemplo) e as mais afastadas, de animais terrestres, como macacos e aves? Mariana explica que ainda não se pode caracterizar qual grupo indígena construiu o círculo. Sabe-se apenas que tinham uma relação muito forte com os ancestrais. “Talvez esses desenhos indicassem a classe social do morto”, avalia.
A cerâmica é um ponto de inflexão do processo civilizador, tão importante quanto foi a pedra lascada. Por meio dela, os arqueólogos chegam a mais algumas conclusões. As peças desenterradas dali são da fase Aristé (ou Cunani). Esse tipo de utensílio, com pinturas em quatro cores e urnas antropomorfas, pertence a uma tradição ceramista característica dos povos que habitaram a região do Amapá até a Guiana Francesa, há cerca de mil anos.
A construção é, portanto, algo nosso, o que contraria os estudos feitos nos anos 1950 pelos arqueólogos norte-americanos Betty Meggers e Clifford Evans, que já tinham conhecimento desses círculos de pedra. Para eles, as chamadas sociedades complexas da Amazônia eram oriundas de imigrações de índios culturalmente mais avançados, como os dos Andes. Contudo, perguntas intrigantes permanecem no ar. Por exemplo: onde moravam os construtores e os frequentadores do círculo de pedra, se não existem vestígios de aldeias em suas proximidades? De onde os indígenas tiravam comida para nutrir as pessoas que trabalharam na construção desse e dos demais círculos de pedra? E como isso era feito durante os dias dedicados aos rituais sagrados? Viriam eles de muito longe?
O sítio de Rego Grande foi um empreendimento do qual toda a comunidade participou. Devem ter sido necessárias muitos dias e algumas centenas de homens para carregar as pedras até aquele lugar, entalhar a superfície dura, dar-lhe a forma correta, ajustar os encaixes e pôr cada pedra em seu lugar. O espaço interno do círculo não é grande. Nele cabem, no máximo, 300 pessoas. Assim, é possível estimar que em certos dias do ano, quando os frequentadores chegavam para suas festas e rituais, o local poderia abrigar pelo menos o dobro de pessoas, dentro e fora do círculo.
Todas as perguntas mencionadas acima fazem sentido, pois não existem no Amapá as chamadas manchas de terra preta (pequenas faixas de solo fértil em meio à terra pobre e ácida da floresta) comuns em outras partes da Amazônia, que acompanham o curso de rios e igarapés e que em geral resultam do aumento da ocupação humana no local. Esse solo mais fértil se forma a partir do acúmulo de matéria orgânica produzida pelos assentamentos humanos mais densos em solo amazônico.
Alguns estudiosos afirmam que o adensamento populacional não se dá exclusivamente por conta da produção agrícola, mas também pela maior abundância da caça, pesca e coleta de caranguejos. Outros refutam isso, afirmando que tal ocorre apenas no caso de comunidades muito reduzidas, o que não seria o caso do sítio de Calçoene.
Não se sabe exatamente o que se fazia no círculo de pedras de Rego Grande. Nem se sabe se ele era visitado pela totalidade dos integrantes do grupo indígena que o construiu ou somente por alguns indivíduos escolhidos. Tampouco se sabe qual culto ali era praticado ou se ele era simplesmente um observatório astronômico. A única coisa que se sabe com quase certeza é que, para os indígenas que o edificaram, o círculo de pedras era um lugar sagrado
Heitor e Silvia Reali
No alto, um portão de madeira guarda um imenso descampado onde está a casa do guarda-parque. Acima, o pesquisador Evandro em frente à casa do guarda-parque e quartel-general dos pesquisadores do Iepa.

Enigmas visuais
Quem chega ao sítio de Rego Grande depois de um trecho de terra de 18 quilômetros, a partir de Calçoene, percebe que o lugar realmente tem pegada forte. O caminho é cercado por casas esparsas e também por muito pasto e palmeiras que despontam na paisagem. Um portão de madeira guarda um imenso descampado onde está a casa do guarda-parque. Logo a seguir, causa grande impacto a visão do círculo de pedras que domina todo o alto de uma colina. Principalmente se a visita for ao entardecer, quando as sombras se alongam e crescem. Esse é um território de enigmas visuais.
Desde 2006, o círculo de 30 metros de diâmetro com 147 blocos de granito, alguns com 4 metros de altura e peso de até 4 toneladas, vem sendo estudado pela equipe de arqueólogos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), liderada pelos pesquisadores Mariana Petry Cabral e João Saldanha.
Mariana está há sete anos no Amapá, mas ainda não perdeu seu sotaque gaúcho. Ela enfatiza que é provável “que o lugar tenha sido um misto de calendário ou observatório astronômico e de centro ritualístico, mas que até o momento isso permanece apenas no terreno da hipótese”.
Para o meteorologista José Ávila, também pesquisador do sítio Rego Grande, não há dúvida de que o conjunto é um gigantesco calendário e um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil. Desde o final de 2006, esse discurso repercute mais forte quando se considera a posição do maior bloco de pedra ali existente.
Há quase quatro anos, a equipe de pesquisadores comprovou o que já se esperava. Aquele monólito projeta uma sombra no chão, mas ela some no dia do solstício de inverno, 21 ou 22 de dezembro. Nesse dia, quando alcança sua posição mais alta no céu (o chamado zênite), o Sol aparece exatamente acima da pedra, de forma que ela não lança sombra alguma no chão.
Segundo Mariana, a inclinação desse bloco não é um acaso, resultante de passagem dos anos, dos ventos e das queimadas feitas no local. Ela é intencional. “Geólogos que acompanharam os estudos escavaram o terreno e verificaram que havia estruturas de sustentação, calçadas por outras pedras, bem calculadas para os blocos principais, e alinhadas ao solstício e talvez a outros astros.”
Heitor e Silvia Reali
A arqueóloga Mariana Petry Cabral. Ela está há sete anos no Amapá e enfatiza que é provável “que o lugar tenha sido um misto de calendário ou observatório astronômico e de centro ritualístico, mas que até o momento permanece apenas no terreno da hipótese”. As cerâmicas indígenas estudadas por Mariana.

“Os blocos vieram em bruto de outro lugar, mas foram talhados ali. A cinco quilômetros da área, os pesquisadores encontraram cicatrizes em uma pedreira: com certeza, foi dali que retiraram a maioria das pedras”, prossegue Mariana.
Embora sem possuir nenhum dos sofisticados instrumentos astronômicos atuais, o povo que há cerca de mil anos vivia na região de Calçoene estava muito à frente do seu tempo em termos de conhecimentos de astronomia. Ele estudava o céu sempre que surgisse a necessidade de se respeitar um ciclo temporal, como provavelmente detectar a época certa para o plantio e a colheita, festas comemorativas, etc.
Algumas descobertas já são bem concretas: “Está claro que o local era um cemitério indígena, além de lugar para a prática de cerimônias”, relata Mariana. Ela afirma ainda que durante a fase de escavação “foram achados no interior do círculo dois poços funerários, de dois e três metros de profundidade, tampados por uma pesada pedra. Dentro e fora do círculo estavam enterrados muitos potes, vasos e urnas funerárias”.
Heitor e Silvia Reali
O espaço interno do círculo não é grande. Nele cabem, no máximo, 300 pessoas. Assim, é possível estimar que em determinados dias do ano, quando os frequentadores chegavam para suas festas e seus rituais, o local poderia abrigar pelo menos o dobro de pessoas, dentro e fora do círculo.
Laços fortes com ancestrais
Como curiosidade, vale dizer que as cerâmicas encontradas são cheias de significado. Por que as peças mais próximas ao centro são decoradas com desenhos de animais aquáticos (peixes e sapos, por exemplo) e as mais afastadas, de animais terrestres, como macacos e aves? Mariana explica que ainda não se pode caracterizar qual grupo indígena construiu o círculo. Sabe-se apenas que tinham uma relação muito forte com os ancestrais. “Talvez esses desenhos indicassem a classe social do morto”, avalia.
A cerâmica é um ponto de inflexão do processo civilizador, tão importante quanto foi a pedra lascada. Por meio dela, os arqueólogos chegam a mais algumas conclusões. As peças desenterradas dali são da fase Aristé (ou Cunani). Esse tipo de utensílio, com pinturas em quatro cores e urnas antropomorfas, pertence a uma tradição ceramista característica dos povos que habitaram a região do Amapá até a Guiana Francesa, há cerca de mil anos.
A construção é, portanto, algo nosso, o que contraria os estudos feitos nos anos 1950 pelos arqueólogos norte-americanos Betty Meggers e Clifford Evans, que já tinham conhecimento desses círculos de pedra. Para eles, as chamadas sociedades complexas da Amazônia eram oriundas de imigrações de índios culturalmente mais avançados, como os dos Andes. Contudo, perguntas intrigantes permanecem no ar. Por exemplo: onde moravam os construtores e os frequentadores do círculo de pedra, se não existem vestígios de aldeias em suas proximidades? De onde os indígenas tiravam comida para nutrir as pessoas que trabalharam na construção desse e dos demais círculos de pedra? E como isso era feito durante os dias dedicados aos rituais sagrados? Viriam eles de muito longe?
O sítio de Rego Grande foi um empreendimento do qual toda a comunidade participou. Devem ter sido necessárias muitos dias e algumas centenas de homens para carregar as pedras até aquele lugar, entalhar a superfície dura, dar-lhe a forma correta, ajustar os encaixes e pôr cada pedra em seu lugar. O espaço interno do círculo não é grande. Nele cabem, no máximo, 300 pessoas. Assim, é possível estimar que em certos dias do ano, quando os frequentadores chegavam para suas festas e rituais, o local poderia abrigar pelo menos o dobro de pessoas, dentro e fora do círculo.
Todas as perguntas mencionadas acima fazem sentido, pois não existem no Amapá as chamadas manchas de terra preta (pequenas faixas de solo fértil em meio à terra pobre e ácida da floresta) comuns em outras partes da Amazônia, que acompanham o curso de rios e igarapés e que em geral resultam do aumento da ocupação humana no local. Esse solo mais fértil se forma a partir do acúmulo de matéria orgânica produzida pelos assentamentos humanos mais densos em solo amazônico.
Alguns estudiosos afirmam que o adensamento populacional não se dá exclusivamente por conta da produção agrícola, mas também pela maior abundância da caça, pesca e coleta de caranguejos. Outros refutam isso, afirmando que tal ocorre apenas no caso de comunidades muito reduzidas, o que não seria o caso do sítio de Calçoene.
Não se sabe exatamente o que se fazia no círculo de pedras de Rego Grande. Nem se sabe se ele era visitado pela totalidade dos integrantes do grupo indígena que o construiu ou somente por alguns indivíduos escolhidos. Tampouco se sabe qual culto ali era praticado ou se ele era simplesmente um observatório astronômico. A única coisa que se sabe com quase certeza é que, para os indígenas que o edificaram, o círculo de pedras era um lugar sagrado.
Revista planeta
Eram os deuses geométricos?
Novos sítios arqueológicos na Amazônia poderão revelar surpresas sobre o passado dos habitantes da América do Sul antes da chegada dos colonizadores. Os cientistas suspeitam que os geoglifos - figuras geométricas esculpidas na terra - descobertos no Acre e em Rondônia podem ter inspiração divina


Por Fabíola Musarra
Foto: Diego Gurgel
O desmatamento no sudeste do Acre já revelou 270 geoglifos indígenas. O tamanho dos aterros sugere que as antigas sociedades amazônicas eram mais numerosas do que se supunha.
Equipes multidisciplinares do Brasil, dos Estados Unidos, da Finlândia e do Reino Unido estão pesquisando na Amazônia o passado dos povos que habitaram a região muito antes da formação da maior floresta do planeta. Baseados em imagens aéreas, os cientistas estudam centenas de geoglifos - imensas figuras circulares, quadradas, retangulares, octogonais ou com outras formas geométricas desenhadas no solo do Acre, de Rondônia, do sul do Amazonas e do norte da Bolívia. A análise dessas colossais estruturas de terra sugere que uma civilização maior e mais desenvolvida do que se supunha já vivia na região antes do Descobrimento do Brasil.
A versão histórica predominante é de que a Amazônia era povoada por pequenas tribos de índios, que viviam em terra firme, em locais distantes dos rios. No entanto, as fotografias aéreas e as imagens de satélite desmistificam essa teoria, pois mostram que os geoglifos foram erguidos tanto em solo firme quanto em terrenos próximos aos rios. A descoberta também coloca em xeque a teoria de que os povos amazônicos viviam em sociedades simples, que nada produziam de perene além de cerâmicas.
O questionamento sobre as "limitações materiais" das culturas amazônicas começou na década de 1990, quando o geógrafo e paleontólogo Alceu Ranzi, ao sobrevoar a região, viu várias dessas estruturas. Ao constatar que estava diante de um fenômeno regional e as vastas construções eram artificiais, batizou-as com o nome de geoglifos, cujo significado quer dizer desenho na terra. Hoje, sabe-se que os geoglifos amazônicos foram erguidos a partir da escavação de um fosso. A terra escavada ia sendo colocada cuidadosamente na parte externa e formava uma mureta. Desse modo, criava-se um desenho geométrico, em alto e baixo relevo.
Trata-se de uma construção engenhosa. Os aterros geométricos desenhados na terra têm de 113 a 200 metros de largura e de 30 centímetros a 5 metros de profundidade. Em 1977, foram vistos pela primeira vez no Acre, quando o arqueólogo Ondemar Dias fez um levantamento deles no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica, do qual participaram Ranzi e o arqueólogo Franklin Levy.
Na ocasião, a equipe identificou 8 geoglifos circulares, mas a pesquisa não foi divulgada. Entre 1986 e 1999, Ranzi identificou 24 novas estruturas. A descoberta só foi possível devido ao desmatamento da região nos últimos 40 anos. Até a década de 1970 os grandes projetos agropecuários não haviam invadido a Amazônia Ocidental, a floresta estava intacta e os geoglifos permaneciam escondidos pela copa de árvores, o que impossibilitava a observação.
Em 2000, as pesquisas se intensificaram, assim como os sobrevoos para a obtenção de fotos aéreas visando ao registro. Imagens de satélite e do Google Earth permitiram a localização de novos geoglifos sem a necessidade de usar aviões. Hoje, graças às novas tecnologias, já foram identificadas 270 construções. Contudo, os pesquisadores afirmam que, em razão da dificuldade de se observar a Amazônia via satélite, os geoglifos encontrados podem ser apenas 10% do total existente na região
Rituais religiosos
Os pesquisadores ainda não sabem qual a finalidade dessas imensas obras dos antigos povos amazônicos. Alguns acreditam que tinham um significado simbólico ou religioso. Outros acham que a remoção da vegetação que realizaram pode ter tido algum tipo de função militar. De qualquer modo, descobrir quais foram as culturas amazônicas responsáveis pela construção dos geoglifos faz parte dos objetivos dos projetos multidisciplinares em andamento.
Outra incógnita é a grandiosidade das estruturas do Acre. Para Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida (EUA), os geoglifos tinham finalidades cerimoniais. Uma das razões de sua monumentalidade seria a comunicação com seres superiores. "Não temos inferências para afirmar que os geoglifos estavam alinhados ou direcionados para algum corpo celeste", diz Denise Pahl Schaan, pesquisadora do CNPq e coordenadora do grupo de pesquisa Geoglifos da Amazônia Ocidental.
"As imensas valetas serviam para circundar um espaço aberto interno que era usado para encontros, rituais religiosos e moradia em alguns casos", prossegue Denise. Segundo ela, os construtores dos geoglifos constituíram as primeiras sociedades sedentárias do Acre. Eles habitaram a região há mais de 2.000 anos e, possivelmente, foram povos agricultores.
Os maiores inimigos dos geoglifos são as plantações de cana, o pisoteio do gado, as máquinas agrícolas, os assentamentos de terra e as estradas.
Co-organizadora do livro Geoglifos - Paisagens da Amazônia Ocidental, Denise lembra que, em 1887, o então governador de Manaus (AM) ordenou ao coronel Antonio Labre subir o Rio Madeira e encontrar uma rota por terra em meio aos entrepostos de produção de borracha no Rio Madre de Diós e algum ponto navegável do Rio Acre. Ao seguir por terra até o Rio Acre, Labre passou por várias vilas da etnia araona (da família linguística tacana).
Na fronteira do Estado, o militar encontrou uma vila povoada por umas 200 pessoas e ficou impressionado com a sua organização social. Ali aprendeu que aqueles povos adoravam deuses de formato geométrico, esculpidos em madeira. As efígies eram mantidas em templos no meio da floresta. O pai dos deuses tinha forma elíptica e chamava-se Epymará. "Labre não descreveu os templos, mas tudo nos leva a cogitar sobre as possíveis funções religiosas dos geoglifos, encontrados não muito longe das antigas aldeias araonas", comenta Denise.
Savana
A ocorrência de geoglifos no Acre também é um forte indicativo de ausência da floresta. Posteriormente, a mata ocupou e recobriu a paisagem cultural dos povos construtores dos aterros. Denise diz que é provável que na região existissem áreas abertas, de savana, mas os cientistas ainda não têm certeza. Por isso, coletaram amostras para realizar análises que deverão esclarecer o assunto. O material está sendo analisado no Reino Unido, na Universidade de Exeter.
Para realizar as pesquisas, os cientistas recorrem ao sensoriamento remoto, técnica que utiliza imagens de satélites, fotografias aéreas e sobrevoos com pequenos aviões, além de um georradar da Universidade Federal do Pará. "A disponibilidade de imagens de satélite tem sido fundamental para os nossos estudos, assim como softwares para cruzamento de dados culturais e geográficos, como o ArcGis. Além das imagens gratuitas do Google Earth, o governo do Acre nos fornece imagens do satélite Formosat", afirma Denise.
Os cientistas também visitam os sítios identificados para tirar medidas, fazer coletas e registros. O estudo contribui para novas interpretações sobre como os antigos amazônidas viviam e como era a sua organização sociopolítica. "Esse conhecimento é fundamental para subsidiar programas de preservação do patrimônio arqueológico da região", explica Denise.
Apesar de sua relevância, os geoglifos estão ameaçados. Seus maiores inimigos são as plantações de cana, o pisoteio do gado, as máquinas agrícolas, os assentamentos de terra e as estradas, que já danificaram muitos deles.

Revista Planeta

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração




Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração

Especiarias são capazes de dobrar o valor medicinal da sua refeição




 

Alimentos funcionais ou nutracêuticos são aqueles que colaboram para melhorar o metabolismo e prevenir problemas de saúde. Algumas ervas e especiarias são capazes de dobrar ou mesmo triplicar o valor medicinal da sua refeição. A nutricionista Roseli Nascimento ajuda a desvendar quais são os ingredientes que dão uma forcinha a mais para o coração. 
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Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração - Foto: Getty Images
Salsa: A salsa possui flavonóides que agem como antioxidantes naturais. Isso significa que eles são capazes de neutralizar os radicais livres antes que possam causar danos às células. A salsa também é fonte de ácido fólico, uma vitamina que ajuda a reduzir risco de câncer e aterosclerose. A vitamina K, que ajuda a regular a capacidade de coagulação do sangue também está presente na salsa
Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração - Foto: Getty Images Alho: O alho traz benefícios extraordinários para a saúde do sistema cardiovascular. Estudos demonstram que o consumo de alho ajuda a regular a pressão arterial. Ele faz isso através de vários mecanismos diferentes, incluindo a estimulação do óxido nítrico nas paredes dos vasos sanguíneos, o que ajuda a relaxá-los. O alho também inibe a formação de placas e reduz os níveis do colesterol considerado ruim e sua fixação na parede das artérias. O ingrediente contém alicina, que parece funcionar como um relaxante das células nervosas que se contraem com a passagem do fluxo de sangue
Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração - Foto: Getty Images Manjericão: Rico em flavonoides, como a orientina e a vicenina, o manjericão é uma erva eficaz na prevenção de danos às células. É fonte de vitamina K, ferro, cálcio, vitamina A, manganês, magnésio, vitamina C e potássio. O tempero faz bem para o coração porque ajuda a evitar a formação de placas nas artérias, além de combater os radicais livres. O magnésio, por exemplo, ajuda a relaxar os vasos, o que facilita a circulação sanguínea
Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração - Foto: Getty Images Canela: Curiosamente, a canela diminui o açúcar no sangue, atuando em vários níveis diferentes. Ela ajuda a retardar o esvaziamento do estômago, reduzindo o aumento acentuado de glicose no organismo após as refeições, e melhora a eficácia ou sensibilidade à insulina. A canela também aumenta as defesas antioxidantes do corpo, que agem contra os radicais livres
Conheça ingredientes funcionais que fazem bem ao coração - Foto: Getty Images Gengibre: Sua raiz é cheia de propriedades que deixam o organismo longe de enjôos, gases, infecções e inflamações. Além disso, o sabor picante do gengibre fortalece a circulação sanguínea
Cebola: Meia cebola crua ou seu equivalente em polpa é capaz de aumentar o HDL (o colesterol bom) em 30%. Ela previne doenças cardiovascules, é antioxidante, antialérgico, anti-inflamatório, além de dissolver gorduras.


Yahoo Beleza e saúde

terça-feira, 19 de junho de 2012

Aparições luminosas




Aparições luminosas

Os povos indígenas escandinavos já especularam muito sobre as luzes celestes do Ártico: espíritos de antepassados, presságios divinos, manifestações de entidades do mal. Por milênios as aparições bruxuleantes da aurora boreal permaneceram insondáveis, mas a ciência, aos poucos, vem dissecando o fenômeno


Texto e fotos por Johnny Mazzilli
Noite surreal sobre a vila de Svolvaer, no Arquipélago Lofoten, no Ártico norueguês.

As auroras boreais têm sua origem na atividade solar. Na superfície do Sol, erupções gigantescas, ejeções de plasma, expelem labaredas colossais, com centenas de milhares de quilômetros de extensão, cuja temperatura ronda os 20 milhões de graus Celsius. Essa atividade é constante e acontece em todas as direções. O Sol alterna períodos de maior e menor atividade a cada 11 anos, aproximadamente. Em 2011, uma dessas erupções alcançou 800 mil km de extensão. Além de calor, são expelidas enormes quantidades de partículas atômicas - elétrons, prótons e partículas alfa, que vagam como radiação solar, ou vento solar, em nossa direção.
No norte, as auroras são boreais, e no sul, austrais. São mais vistas no norte, uma vez que há mais ocupação humana até as proximidades do Polo Norte, enquanto no sul, devido à vastidão de águas abertas ao redor do polo, há menos gente para observá-las. Quando ocorre no norte, está acontecendo igualmente no sul. O que pode fazer a diferença entre vê-las ou não é o céu nas regiões polares, frequentemente encoberto.
Foi Galileu quem cunhou a expressão Aurorae borealis, em 1619, em referência a Aurora, a deusa romana do amanhecer, e a seu filho, Bóreas, o representante dos ventos do norte. Já a expressão Aurora australis foi cunhada um século depois pelo navegador inglês James Cook (1728-1779), ao observar as intrigantes luzes durante sua circum-navegação global a bordo das naus Resolution e Adventure, quando alcançou a mais baixa latitude até então (70°10"S), cruzando pela primeira vez o Círculo Polar Antártico.
Observatório gelado
No fim do século 19, o cientista norueguês Kristian Birkeland construiu um dispositivo formado por uma câmara a vácuo e uma esfera e provou que os elétrons eletricamente estimulados eram guiados para as regiões polares da esfera. Hoje, cientistas como os holandeses Rob Stammes e Th erese van Nieuwenhoven perscrutam o céu dia e noite para analisar o fenômeno, instalados na pequena vila pesqueira de Laukvik, nas Ilhas Lofoten, localizadas dentro do Círculo Polar Ártico, no norte da Noruega.
Rob e Th erese são responsáveis por um centro de vanguarda de monitoramento, pesquisa e observação de auroras boreais, o Polar Light Center. Mesmo a luz do dia, que impossibilita a observação visual do fenômeno, não é problema para a dupla de pesquisadores, amantes inveterados da "grande dama da noite" - como diziam os samis, os povos indígenas na Lapônia, no norte da Escandinávia.
Os cientistas podem verificar se uma aparição ocorre, com ou sem luz, através de uma parafernália de equipamentos. Mesmo à noite, a intensidade do fenômeno pode ser baixa ou o tempo pode estar fechado, mas os instrumentos sempre permitem saber se algo está ou não ocorrendo. "Viemos da Holanda para Laukvik por conta das particularidades geográficas e climáticas deste local. Este é um posto de observação estratégico privilegiado", diz Therese. Para financiar a base, os pesquisadores oferecem uma modesta estrutura de hospedagem aos viajantes e aos aficionados nas luzes mágicas. Afinal, a ciência das auroras boreais ainda tem que avançar.
As Ilhas Lofoten, na Noruega, já oferecem hospedagens para turistas e viajantes
Didático, Rob explica que "as partículas atômicas deslocam-se muito mais lentamente do que a luz solar, que se move a 300 mil km/segundo, levando, todos os dias, oito minutos para alcançar a Terra. O vento solar precisa de mais tempo: em média, três dias para atingir nossa atmosfera", diz. Ao se aproximarem da Terra, as partículas colidem com a atmosfera, se dispersam, são imediatamente atraídas pelo magnetismo dos polos e "reorganizadas" em forma de anéis em torno das regiões polares. Com o impacto, é liberada energia luminosa. Processo semelhante se dá nos antigos tubos de televisão. Rob explica também que, quando um de seus instrumentos detecta uma explosão solar mais ou menos alinhada em direção à Terra, ele sabe que em aproximadamente 72 horas haverá uma aurora boreal.
Analisando a intensidade da explosão solar, ele pode deduzir a magnitude aproximada da aurora e classificá-la em uma escala de intensidade de 0 a 9. O efeito luminoso ocorre geralmente em torno de 200 km de altitude, mais comumente na coloração verde, devido à emissão de átomos de oxigênio nas altas camadas atmosféricas. Quando a tempestade é mais intensa, camadas mais baixas da atmosfera são atingidas, em torno de 100 km acima da superfície do planeta, produzindo a tonalidade vermelho-escura pela emissão de átomos de nitrogênio.
Quanto mais intensa a erupção solar, maior a ejeção de partículas, mais potente é o vento solar e maior magnitude tem a aurora boreal. E, quanto maior sua magnitude, mais o anel formado em torno das regiões polares se alarga - nessas circunstâncias, a aurora pode ser vista de latitudes mais baixas. Há poucos meses ela foi observada de lugares incomuns, na Alemanha, Bélgica, Dinamarca e norte dos Estados Unidos, em uma das maiores erupções solares dos últimos seis anos. Em 1956, uma aurora boreal teria sido supostamente avistada no Egito.
Luzes humanas
Nas manifestações mais intensas, as auroras podem causar danos a instrumentos eletrônicos, interferindo em sua precisão e causando possíveis riscos em setores sensíveis, como a navegação aérea e as telecomunicações, através de alteração do movimento de bússolas, da ação de radares e da queima de células solares em satélites artificiais. No entanto, até hoje são raros os danos significativos relatados. A atividade humana também é lamentavelmente capaz de desencadear o fenômeno: um teste atômico denominado Starfish Prime, realizado pelos Estados Unidos em 9 de julho de 1962, que detonou uma bomba nuclear a aproximadamente 400 km de altitude, gerou uma aurora artificial que iluminou durante sete minutos o céu sobre o Oceano Pacífico.
A aurora não é exclusividade terrestre, ocorrendo em Vênus, Marte, Júpiter e Saturno e até mesmo em luas de Júpiter. Apesar de Vênus ser destituído de campos magnéticos, assim mesmo o fenômeno ocorre, a partir da ionização de partículas da atmosfera venusiana pelos ventos solares, que assolam a fervente superfície do planeta a mais de 400 km/h. Em 2004, uma sonda espacial detectou uma aurora boreal em Marte.

A observação gerou uma interessante pesquisa e o material foi publicado no ano seguinte. O campo magnético de Marte é notadamente mais fraco que o terrestre, e havia certo consenso de que a ausência de um campo forte tornaria impossível a ocorrência do fenômeno - assim como em Vênus, que nem campo magnético tem. O consenso era equivocado: verificou-se que tanto em Marte como em Vênus a dinâmica do fenômeno é bastante semelhante à terrestre. Como Marte tem sempre seu lado diurno voltado para a Terra, a aurora boreal marciana jamais pode ser observada daqui; isso é possível somente por meio de sondas espaciais que vasculharam a face noturna do Planeta Vermelho.

Aurora em Hov, nas Ilhas Lofoten. Prótons e elétrons do vento solar, atraídos pelo magnetismo dos polos, adquirem luminosidade esverdeada em contato com o oxigênio da atmosfera.
Em segundos, as cores da aurora mudam em Gimsoya.

As auroras de Saturno podem se estender por vários dias, ao contrário das terrestres, que duram um punhado de horas. Júpiter e Saturno são planetas com campos magnéticos muito mais fortes do que os da Terra, o que potencializa o fenômeno. Por meio do telescópio Hubble vêm sendo observadas auroras em ambos os planetas. Algumas luas de Júpiter, especialmente Io, são fontes poderosas de auroras, através de correntes elétricas que transitam pelo campo magnético, geradas pelo mecanismo de dínamo relativo ao movimento contrário entre a rotação do planeta e a translação de suas luas.
Além de ser um palco privilegiado de observação de auroras boreais, o arquipélago de Lofoten é um dos centros mais antigos da pesca de bacalhau, devido à Corrente do Golfo, que nasce no Golfo do México, atravessa o Atlântico como um rio dentro do oceano e se dispersa na costa da Noruega. Suas águas, muito mais quentes do que as do Mar do Norte, deslocam também enormes massas de ar quente, que aquecem toda a região. Essas condições únicas tornam as ilhas o destino migratório milenar do bacalhau do Atlântico.
Lofoten também é um paraíso cênico cuja beleza selvagem encanta navegadores e turistas descolados que se aventuram naquelas paragens. A beleza dos barcos coloridos ancorados nas vilas pesqueiras, a luz quente e oblíqua e os picos pontiagudos dão ao arquipélago uma atmosfera bucólica e marinheira. Grandes picos rochosos em toda parte completam a paisagem grandiosa, às vezes ameaçadora. Uma linha costeira caprichosamente recortada forma incontáveis baías, ilhas, istmos e estreitos, que em conjunto oferecem abrigo para a fixação do homem defronte de um mar por vezes assustador.
Em 1981, um agricultor descobriu cacos de louça enterrados numa ilha. As escavações dos arqueólogos revelaram a maior moradia viking já descoberta, hoje reconstruída e transformada no Museu Lofotr, que mantém vivas algumas tradições da época, como a produção de pães, a forja de espadas e a tecelagem, sempre sob a precária luz amarelada de lamparinas alimentadas por óleo de fígado de bacalhau. Foi com os barcos abarrotados de bacalhau seco que os guerreiros vikings, exímios negociantes e (hoje se sabe) hábeis fazendeiros, se lançaram em grandes conquistas, cortando mares desconhecidos, sob um céu onde bruxuleavam luzes misteriosas.


Revista Planeta

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Fibras ajudam a emagrecer

Novos estudos provam que o consumo de alimentos ricos em fibras auxilia e muito quem precisa emagrecer além de fortalecer o sistema imunológico. Paula Desgualdo


Elas estão ocultas na consistência crocante de uma cenoura e no sabor levemente adocicado de uma maçã. Na soja e na lentilha, aparecem aos montes. E ainda emprestam suas qualidades ao arroz integral, à aveia, à linhaça e às folhas. Diferentemente de micronutrientes como a vitamina C, que dá aos alimentos um toque cítrico, as fibras não alteram o sabor da comida — interferem muito mais na textura.
Você certamente já ouviu falar dos seus benefícios, especialmente para o bom funcionamento do intestino. Agora a ciência acaba de revelar outro megafavor que as fibras prestam à nossa saúde: ajudam a esvaziar pneus do abdômen. "Quanto maior o consumo de fibras, menor o acúmulo de gordura visceral, que fica entre o intestino e outros órgãos abdominais", garante Jaimie Davis, professora do Departamento de Medicina Preventiva na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. A constatação vem de um estudo que ela acaba de apresentar na China, no I Congresso Internacional de Obesidade Abdominal.
Já Huaidong Du, cientista do Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio Ambiente, na Holanda, fez outro trabalho que confirma a relação entre as fibras e a circunferência abdominal. "Consumir mais de 10 gramas por dia durante um ano reduz um pouco menos de 1 centímetro de barriga", conta. Essas são duas novíssimas evidências do elo entre o consumo de fibras e a eliminação do tecido adiposo — tanto aquele escondido entre os órgãos como o que impede que o botão da calça se feche. Para desvendar o complexo mecanismo por trás da redução da barriga, no entanto, é preciso entender todas as benfeitorias que elas realizam corpo adentro. A partir de agora, você abocanhará uma cenoura ou uma maçã com muito mais satisfação.
Acompanhe o raciocínio da nutricionista Ana Maria Pita Lottenberg, do Hospital das Clínicas de São Paulo: "Pessoas que consomem mais alimentos ricos em fibras tendem a ingerir menos gorduras e calorias, o que leva a um controle do peso e, consequentemente, à redução da circunferência abdominal". Mas a explicação — que provavelmente você já ouviu antes — não é a única para justificar o fato de elas murcharem os pneus.
"As fibras formam uma goma em contato com água e tornam a digestão mais lenta, fazendo com que o açúcar seja absorvido de maneira gradual", acrescenta a nutricionista Giane Sprada Mira, da Universidade Federal do Paraná, entregando uma chave importante para o enigma. E por que isso é bom? Ora, se não fosse assim, o organismo produziria mais insulina, o hormônio que coloca a glicose dentro das células. E, em excesso, ele favorece o estoque de gordura na região do abdômen — sem falar que libera o caminho para que o diabete se instale.
Da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, vem a prova de que a versão solúvel é capaz, também, de melhorar o sistema imunológico. "As fibras solúveis transformam células de defesa pró-inflamatórias em anti-inflamatórias", detalha Gregory Freund, professor de patologia da instituição. Há quem atribua essa ação a um tipo específico delas, as chamadas de prebióticas — como a inulina e os fruto-oligossacarídeos. "Elas estimulam o crescimento de bactérias benéficas na flora intestinal e bloqueiam a atividade dos micro-organismos danosos", afirma Eline Soriano, da Associação Brasileira de Nutrologia.


Segundo a especialista, o produto da fermentação das prebióticas no intestino está relacionado ainda à produção de natural killers, as células que estão na vanguarda do batalhão de defesa do organismo. Ah, sim, para aproveitá-las, invista na banana, na alcachofra, na cevada, no alho, na cebola e no centeio.
Outra enorme vantagem das fibras solúveis, de maneira geral, é a sua atração pelas moléculas de colesterol. "A betaglucana, cuja principal fonte é a aveia, se liga a essas gorduras dentro do intestino e inibe sua absorção", diz Mariana Del Bosco, nutricionista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Então, junto com os sais biliares, colesterol e fibras solúveis, unidos, acabam eliminados nas fezes. Isso obriga o fígado a usar mais moléculas de colesterol para produzir a bile, mantendo-as afastadas da corrente sanguínea. O resultado é um corpo mais protegido das doenças cardiovasculares, como infartos e derrames. Antes de se perguntar onde estão escondidas essas substâncias poderosas, saiba que o bom e velho feijão é uma excelente fonte — servido com arroz integral, então, só faz potencializar o consumo diário de fibras totais.
Se por um lado o altruísmo das fibras é duradouro, não podemos dizer o mesmo desses compostos em si. A passagem delas pelo organismo tem período restrito. "Por definição, trata-se da parte comestível das plantas ou carboidratos que são resistentes à digestão e à absorção no intestino delgado", resume Mariana Del Bosco. Quer dizer: elas entram, cumprem o seu papel e vão embora, sem mergulhar na circulação como vitaminas e minerais. Por isso mesmo, embora presentes nos alimentos, o correto seria nem sequer classificá-las como nutrientes.
Recentemente, pesquisadores descobriram que essa passagem fugaz pelo corpo rende bons frutos inclusive aos pulmões e ao estômago — comer fibras ajudaria a afastar a doença pulmonar obstrutiva crônica e a gastrite. E mesmo na hora do adeus elas continuam agindo em seu favor. "Além de aumentar o bolo fecal, melhorando o funcionamento do intestino, as fibras varrem as toxinas acumuladas nesse órgão que, se ficassem muito tempo em contato com suas paredes, facilitariam o desenvolvimento de tumores", afirma a nutricionista Daniela Jobst, em São Paulo.
Seguir os preceitos da boa saúde, investindo em porções de frutas, verduras e legumes todos os dias, é o melhor caminho para atingir a recomendação diária de fibras, de 25 gramas — hoje há quem defenda um valor de até 35 gramas! Como nem todo mundo consegue alcançar essa cota, vale apostar nos alimentos que levam doses extras da substância, como pães e massas integrais e iogurtes suplementados de fibras solúveis ou com cereais.
Note que, para que qualquer item seja considerado fonte de fibras, ele deve ter, no mínimo, 3 gramas desse ingrediente por 100 gramas de alimento. "Os produtos industrializados ricos em fibras são um complemento a dietas pobres em fibras dos vegetais propriamente ditos", comenta Eline Soriano. "Mas é importante lembrar que, muitas vezes, eles são enriquecidos com um único ingrediente e deixam a desejar em relação ao resto", pondera. Em sua forma natural — ou seja, nas frutas, nos cereais e nas hortaliças —, as fibras sempre vêm bem acompanhadas de uma série de substâncias fundamentais para uma saúde equilibrada.
Os especialistas insistem que uma dieta adequada e a prática de atividade física, aliás, são parte essencial tanto do processo de emagrecimento como da busca por qualidade de vida. Uma coisa, porém, é certa: as fibras podem não ser uma solução única para os seus problemas — nada, afinal, é —, mas as suas fontes são, também, as melhores escolhas para um cardápio saudável.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PRESERVE OS SEUS TELÓMEROS E ABRANDE O ENVELHECIMENTO
Os telómeros são as estruturas que estão implantadas nos terminais dos cromossomas. Quanto mais curtos forem os cromossomas mais aumenta o risco de envelhecimento acelerado e de doenças crónicas como o cancro e as doenças cardiovasculares. Há 8 conselhos para preservar os telómeros.  Os telómeros são as estruturais terminais nos cromossomas que se encurtam cada vez que estes se dividem, até ao ponto em que já não é possível haver mais divisão celular (limite de Hayflick) ou seja, não há lugar a mais rejuvenescimento. Não podemos modificar a idade mas podemos e devemos agir sobre os factores que contribuem para preservar o comprimento dos telómeros. 
Permaneça magra
As pessoas obesas têm telómeros mais curtos que as magras. Mas há esperança pois os obesos que perdem peso vêm os telómeros alongar-se; quanto mais massa gorda se perde maior é o alongamento dos telómeros.
Exercício físico
Um estudo com 2401 participantes demonstrou quanto mais exercício físico as pessoas praticam, mais se alongam os seus telómeros. Isto vem mostrar o interesse da actividade física regular para prevenir o envelhecimento.
Diminuir o stress oxidativo e a inflamação silenciosa
O stress oxidativo está relacionado com as agressões por radicais livres de oxigénio às membranas celulares e aos organelos das células. Estes radicais são exacerbados pelo fumo, sol, poluição, álcool, abuso de medicamentos, exposição aos pesticidas e a metais pesados. O stress oxidativo acompanha-se sempre de inflamação ! As pessoas com maior stress oxidativo e inflamação são as que têm os telómeros mais curtos. De notar que as substâncias naturais como o açafrão, as vitaminas C e E, o selénio e o zinco diminuem estas reacções aumentando o comprimento dos telómeros.
Vitamina D
Segundo um estudo em 2160 mulheres entre os 18 e os 79 anos, as que tinham os níveis mais elevados de vitamina D eram as que tinham os telómeros mais longos, equivalendo a menos 5 anos de envelhecimento celular.
Folatos (vitamina B9)
Os folatos (vitamina B9) fornecem substâncias apelidadas de grupos metilo os quais servem de percursores às bases azotadas que entram na composição do ADN e dos telómeros. Um estudo acaba de demonstrar que as pessoas com taxas elevadas de folatos têm telómeros mais longos. Encontramos esta vitamina nos espinafres, na couve, e nos espargos entre outros.
Suplementação com multivitaminas
Segundo um estudo publicado em Junho 2009 com 586 mulheres entre os 35 e 74 anos, as que consumiam mais vitaminas tinham em média mais 5.1% de comprimento nos telómeros.
Reencontre o equilibrio
O comprimento dos telómeros tem sido associado, em diversos estudos, ao stress crónico e à depressão. Segundo a laureada Dr.ª Elizabeth Blackburn, certas formas de meditação podem evitar os efeitos do stress e controlar os níveis de cortisol e insulina. Vida Sã
Finalmente, um estilo de vida sã, que compreenda um regime rico em legumes e frutos, uma actividade física regular, a prática de relaxamento, ioga ou meditação está associado a maiores telómeros, em todos os estudos.  


publicado por Anti-Envelhecimento

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cátaros, a morte em nome de Deus




Cátaros, a morte em nome de Deus

Há oito séculos, a guerra contra a heresia dos cristãos cátaros abalou o sul da França. Os ecos das suas ideias ainda podem ser ouvidos nos dias de hoje.



Por Luis Pelegrini Fotos: Lamberto Scipioni, do Languedoc-Roussilon, França


Muralhas do centro histórico de Carcassone, considerada uma das mais belas cidades medievais em todo o mundo. Estas muralhas abrigaram uma das principais comunidades cátaras durante os séculos 12 e 13.

O catarismo - uma das mais importantes heresias que sacudiram o mundo cristão na Idade Média - encontrou na decadência institucional da Igreja Católica terreno fértil para germinar e crescer. Há 800 anos, no início do século 13, o papa Inocêncio III lamentava a situação do seu pontificado: as igrejas estavam desertas, a crise de vocações reduzia o número de sacerdotes, os fiéis mostravam desconfiança e pouco interesse pelas sagradas escrituras e pelas questões da Santa Madre Igreja. O clero estava entregue ao luxo, à corrupção política, ao tráfico de influências e, em muitos casos, à luxúria e à devassidão.


A coisa vinha de longe, desde quando, havia 3 ou 4 séculos, no seio da Igreja, o poder espiritual começou a se confundir com o temporal e muitos papas e altos prelados passaram a ser escolhidos não mais por sua vocação e virtudes, e sim por pertencerem a famílias da nobreza detentora do poder. Poucas décadas antes, o papa Bento IX (1032-1048) herdara o título por ser sobrinho do papa João XIX. Acusado de estupros e assassinatos, ele foi descrito por São Pedro Damião como "um banquete de imoralidade, um demônio do inferno sob o disfarce de um padre" que organizava orgias patrocinadas pela igreja. Em seu último ato de corrupção como papa, Bento IX decidiu que queria se casar e vendeu seu título para seu padrinho por 680 quilos de ouro.

Inocêncio III, por seu lado, tentou moralizar a Igreja. Em 30 de maio de 1203, ele escreveu ao escandaloso arcebispo de Narbonne, no sul da França, uma carta contundente na qual afirmava sem meias palavras que o seu estilo de vida o tornava maldito aos olhos de Deus. O alto prelado, titular de uma das arquidioceses mais ricas e vastas da França, tinha abandonado quase completamente o ofício de padre para viver na esplêndida abadia de Montearagón, onde habitava com a viúva de seu irmão, com quem tinha tido dois filhos. Tudo isso de forma escancarada, diante de todos, sem se preocupar com o escândalo. Embora, naqueles tempos, os critérios que definiam um escândalo eclesiástico fossem bem outros. De fato, boa parte do alto clero na época vivia assim, à exceção de uns poucos bispos e abades que, obstinadamente, mantinham a fé nos votos proferidos.

As notícias sobre os desmandos da Igreja corriam por toda parte, enquanto, ao mesmo tempo, em vários lugares da Europa, pipocavam movimentos heréticos. Eram quase sempre caracterizados por interpretações esdrúxulas e divergentes dos evangelhos e capitaneados por líderes carismáticos e milagreiros, que se mostravam abertamente contrários à autoridade papal.