quarta-feira, 24 de junho de 2015

Dieta do DNA

Dieta genética

Como funciona o regime que usa as informações do DNA de cada um para acabar com os quilos em excesso. O que a ciência diz sobre o método e por que ele ainda causa polêmica entre os médicos

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)Uma nova estratégia para perder peso – baseada nas informações contidas no material genético de cada um – está ganhando espaço no Brasil e no mundo. Batizada de dieta do DNA, o método se propõe a ajudar decisivamente no emagrecimento a partir da premissa de que os organismos são únicos e têm sua própria forma de funcionar. Portanto, é preciso que os cardápios sejam desenhados conforme as peculiaridades e necessidades de cada pessoa. Desta forma, informações que dão conta, por exemplo, de como o corpo do indivíduo ­reage à ingestão de um pedaço de carne vermelha, de uma determinada fruta ou de um belo prato de macarrão poderiam fazer toda a diferença quando se quer emagrecer.
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O primeiro passo da dieta é descobrir o perfil genético da pessoa em relação à alimentação. Isto é feito por meio de exames que detectam variações no DNA associadas à maneira como o corpo reage aos alimentos. Há várias versões no mercado. Em linhas gerais, eles fornecem informações sobre a velocidade do metabolismo, a tendência a acumular gorduras e se há deficiência na absorção de proteínas e carboidratos, por exemplo. Alguns também oferecem a possibilidade de serem levantados dados sobre as respostas do corpo aos exercícios. Aqui, são fornecidas informações mostrando se o organismo se beneficia mais do exercício aeróbico ou de força, por exemplo. No laboratório Biogenetika, no Rio de Janeiro, um dos exames genéticos mais realizados é o de Genômica Nutricional, que avalia aspectos da dieta e do exercício. “Os testes são indicados para quem busca uma vida saudável, se interessa pela própria saúde e quer viver bem”, afirma Lia Kubelka, diretora clínica do laboratório.
No Richet, também no Rio de Janeiro, um dos mais pedidos é o Pathway fit. Ele apresenta que alimentos são mais bem digeridos e absorvidos dependendo da composição genética do indivíduo. “Algumas pessoas absorvem melhor glicídios, que compõem açúcares de massas, do que lipídios, que estão presentes em gorduras”, explica o patologista Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do laboratório. “A partir da análise genética, é possível determinar qual tipo de alimento pode ser mais recomendado, estabelecendo a dieta adequada para cada um”, complementa. O Pathway fit é um dos que também entrega dados a respeito das respostas do organismo aos exercícios.
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Uma boa parte dos clientes de clínicas de médicos e de nutricionistas mais badalados do País já está saindo do consultório hoje com a orientação de adotar esta nova dieta. A nutricionista Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro, por exemplo, costuma indicá-lo. “Recomendo para quem quer cuidar da saúde de forma geral, para quem busca melhorar a performance na atividade física e à pessoas com dificuldade no emagrecimento ou mesmo aquelas que querem manter o peso, aperfeiçoando e equilibrando a nutrição”, explica. O médico Theo Webert, do Rio de Janeiro, também aprova o uso do regime. “Ele ajuda a emagrecer. Com os testes, sabemos quanto a dieta deve ter proporcionalmente de ­proteína, carboidratos e gorduras e ainda ver respostas ao metabolismo da cafeína, a intolerância à lactose, indicações que comprometem toda progressão e sucesso de uma dieta”, diz.
A aposta no novo método de emagrecimento é tão grande que, na Inglaterra, foi iniciada recentemente uma experiência pioneira no mundo. O Enable East – comitê formado por estudiosos de saúde pública que dá suporte às ações do NHS, a rede de atendimento daquele país – selecionou 56 pessoas que lutam há anos contra o excesso de peso. Todos estão sendo submetidos aos testes genéticos para que seja possível criar para eles uma dieta mais personalizada. Nenhum toma remédio para emagrecer. Eles serão acompanhados por seis meses após o início do regime alimentar desenvolvido com base em seu DNA. “Nossa esperança é a de que eles terminem o programa mais bem informados a respeito dos fatores que afetam seu peso e, a partir disso, tomem decisões mais fundamentadas na hora de escolher o que comer”, disse à ISTOÉ Julie Constable, coordenadora do projeto.
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O teste ao qual eles estão sendo submetidos é o DNA Fit, da empresa DNAFit Limited. Ele analisa 45 variações genéticas relacionados à capacidade do corpo de reagir aos alimentos e ao treino físico. Entre outras informações, dá respostas a respeito da sensibilidade ao carboidrato e à gordura saturada (presente em queijos, sorvete e maionese, entre outros alimentos) e se há intolerância ao glúten e à lactose.
Toda a Inglaterra está de olho na experiência. Se os resultados forem muito bons, há a possibilidade de o método passar a ser oferecido no sistema público de saúde inglês. “Certamente há muito interesse nos resultados desta iniciativa tanto por parte da Inglaterra quanto de outros países”, afirmou à ISTOÉ David Prescott, diretor da empresa que fabrica o exame genético.
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Usar as informações gravadas no código genético para montar uma dieta parece ser uma escolha lógica. Se o corpo metaboliza mais devagar o carboidrato, a chance de acúmulo de peso é maior. Portanto, no cardápio a ser formulado, reduz-se a ingestão deste nutriente. Mas se é a intolerância ao glúten que está promovendo uma retenção de líquidos, originando um peso mais elevado, deve-se evitar o ingrediente dali por diante.
Além disso, o peso da genética para a obesidade é algo fundamentado pela ciência. Desde 2001, quando foram divulgados os primeiros resultados do Projeto Genoma – sua proposta é a de decodificar todo o genoma humano -, grupos de cientistas ao redor do mundo começaram a usar as informações derivadas da iniciativa para entender melhor a relação dos genes com a obesidade.
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Hoje, sabe-se que nos genes estão guardadas instruções para determinar desde o que o corpo vai aproveitar melhor até se uma pessoa terá mais fome do que a outra. No início do ano, o maior estudo feito sobre o assunto até agora identificou mais de 140 pontos ao longo do genoma associados a várias características do excesso de peso. Foram localizados, inclusive, genes relacionados aos locais onde a gordura vai se acumular e à regulação do apetite. “Nosso trabalho mostrou claramente que a predisposição à obesidade não é resultado de um único gene”, disse Cecília Lindgren, coordenadora do trabalho e professora da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Sobre a eficácia das dietas baseadas nos testes genéticos hoje disponíveis, porém, a ciência ainda não tem uma resposta definitiva. Há trabalhos que apontam em direção promissora, como o do italiano Nicola Pirastu, da Universidade de Trieste, na Itália. Ele aferiu a resposta de 191 obesos submetidos a um teste que examinou 21 genes envolvidos em funções que iam da velocidade do metabolismo à reação à ingestão de açúcar e de lipídios. Cada um dos participantes teve uma dieta desenhada especialmente segundo suas características. Seu peso foi monitorado por dois anos e comparado a um grupo controle, que fez uma dieta comum de restrição calórica. No final, os que fizeram o perfil genético perderam 33% a mais de peso do que os integrantes do grupo controle. Eles também ganharam mais músculos: cerca de 6% mais massa magra do que os demais voluntários. “As conclusões foram muito animadoras. São um bom começo para aprofundarmos as investigações sobre o tema”, disse Pirastu à ISTOÉ.
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Outro, que também indica um potencial animador, foi coordenado pelo pesquisador Ahmed El-Sohemy, professor do Departamento de Ciências da Nutrição da Universidade de Toronto, no Canadá. Ele acompanhou durante um ano a evolução de 138 pessoas, parte delas submetida a testes genéticos. Particularmente, foi avaliado de que forma o organismo reagia ao consumo de cafeína, sódio, vitamina C e açúcar. “Constatamos que as pessoas que foram informadas a respeito de quais seriam suas reações à ingestão dos ingredientes modificaram sua dieta”, informou à ISTOÉ o professor Ahmed. “Por exemplo, aqueles que ficaram sabendo que carregavam genes associados à ingestão de sódio e maior risco para hipertensão arterial reduziram a ingestão de sódio”, disse.
Porém, uma das principais críticas ao uso dos testes genéticos para a formulação de um regime alimentar neste momento é o fato de as evidências científicas a seu favor ainda não serem embasadas por um número significativo de estudos. “Até agora, as informações sobre o DNA não são claras o suficiente para fazer comentários fundamentados”, disse à ISTOÉ o pesquisador Christopher Gardner, da Universidade de Stanford (EUA). Ele é um dos mais respeitados estudiosos do impacto dos nutrientes na saúde humana.
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No Brasil, o médico geneticista Ciro Martinhago, de São Paulo, também adota cautela em relação ao assunto. “Não tenho dúvidas de que existe uma predisposição genética para a obesidade, mas estamos no começo. Ainda há muito o que se descobrir sobre os genes envolvidos no acúmulo e na perda de peso”, afirma. Na opinião da endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade, há outras ressalvas importantes. “Não há dados de longo prazo de indivíduos que modificaram a dieta em decorrência do teste e tiveram benefício após quatro, cinco, dez anos. Além disso, estudos realizados em determinada população não podem ser aplicados a outras, pois as características genéticas são diferentes e os resultados podem também ser distintos.”
Outro ponto colocado por alguns especialistas diz respeito à complexidade da obesidade. “Não é possível definir uma dieta com base apenas na análise do DNA”, diz a endocrinologista Isabela Bussade, do Rio de Janeiro. “A obesidade é uma doença multifatorial”, afirma. Segundo a médica, menos de 1% dos casos são definidos por apenas uma mutação genética. “A grande maioria dos obesos tem uma associação de várias mutações, combinada a fatores externos ambientais”, diz.
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Por isso, na opinião da especialista, os exames genéticos podem ser úteis, mas nunca como os definidores do tratamento, de forma isolada. “A diretriz do tratamento deve ser estabelecida considerando-se o histórico de obesidade do paciente (números de tentativas prévias de emagrecimento, número de fármacos usados e história familiar de obesidade, entre outros fatores), se tem doenças associadas à obesidade e a presença ou não de transtornos alimentares”, explica. “Se todos estes fatores já tiverem sido considerados, o teste genético pode ser aplicado”, afirma.
O pesquisador italiano Nicola Pirastu acredita, entretanto, que é uma questão de tempo para que os testes e a dieta do DNA modifiquem a forma como se trata a obesidade. “Isso acontecerá no futuro, quando tivermos mais informações. Quando falamos de excesso de peso, falamos sobre um sintoma de algo que não estamos verdadeiramente tratando. Com as dietas, estamos tratando algo sem conhecer sua causa. Para um paciente pode ser um problema de fome, ele não consegue parar de comer. Outro pode ser “dependente” de açúcar e de gordura”, disse à ISTOÉ. “No entanto, eles são tratados do mesmo jeito: restrição calórica e alimentação saudável. Mas precisam ser cuidados de forma diferente. E os testes ajudarão nisso, a conhecer melhor cada paciente.”
Fotos: Bruno Poppe, Eduardo Zappia - Ag. Istoé, Stefano Martini, PEDRO DIAS 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Proteína da ervilha


Proteína da ervilha



O gastrônomo de nome Apicius, que viveu na Roma do século I, gostava tanto de ervilhas que incluiu inúmeras receitas com esta leguminosa no primeiro livro de culinária da história, chamado De re coquinaria, ou Sobre culinária. Como um bom romano, Apicius conhecia bem os benefícios nutricionais desse alimento — assim como os gregos, chineses, iraquianos e muitos outros povos.
Mais tarde, a ciência acabou confirmando o que os antigos já sabiam: a ervilha é rica em vitaminas A, B e C, além de fibras e proteína vegetal, e é uma grande aliada do processo de emagrecimento. Quem explica a “mágica” da ervilha a favor da perda de peso é a nutricionista Maiara de Oliveira, de São Paulo: “As vantagens da proteína vegetal são a ausência de gordura e a forte presença de fibras. Essas últimas ajudam no funcionamento do intestino e dão uma boa sensação de saciedade, por isso, diminuem a fome”, destaca.
ervilha
Nutrir, aliás, é o que a ervilha faz de melhor, ajudando inclusive a proteger nosso corpo de problemas sérios. Uma pesquisa realizada no México mostrou que ela é rica em coumestrol, um dos componentes mais poderosos na luta contra inflamações e doenças como o câncer de estômago. E vários estudos já demonstraram que esta leguminosa também protege o organismo contra o câncer de próstata e de mama. Por conta das proteínas e fibras, a ervilha ainda ajuda a controlar as taxas de açúcar no sangue, o que faz dela uma aliada também na prevenção do diabetes.
Aliada da saciedade
É claro que não adianta comer essas sementes a toda hora, esperando que o corpo fique saudável e enxuto. Para sentir o efeito Cinderela no organismo, é necessário aliar a ervilha a uma dieta saudável e equilibrada. “Isso, em conjunto com a realização de atividade física, pode contribuir para a redução do peso corpóreo”, observa a nutricionista Irene de Macedo, coordenadora do curso de nutrição do Centro Universitário Senac (SP).
 A Ervilha Ajuda a fortalecer os ossos
As ervilhas fornecem nutrientes que são importantes para a manutenção da saúde óssea. São uma boa fonte da vitamina K, sendo que alguma dessa parte é convertida em K2, que ativa a osteocalcina, a maior proteína não-colagénea dos ossos. A osteocalcina funciona como âncoras nas moléculas de cálcio dentro do osso. Portanto, sem vitamina K2 suficiente, os níveis de osteocalcina são insuficientes e a mineralização óssea é prejudicada.
As ervilhas também servem como uma boa fonte de ácido fólico e uma boa fonte de vitamina B6. Esses dois nutrientes ajudam a reduzir a acumulação de um subproduto metabólico chamado homocisteína, uma molécula perigosa que pode obstruir os níveis de colageno, resultando numa má matriz óssea e osteoporose. Um estudo mostrou que as mulheres na pós-menopausa às quais não foi verificado um défice de ácido fólico, reduziram os seus níveis de homocisteína, simplesmente, completando com ácido fólico, por si só.

A Ervilha Ajuda o seu coração

Além de afetar a saúde óssea, a homocisteína contribui para a aterosclerose através da sua capacidade de danificar os vasos sanguíneos, mantendo-os num estado constante de lesão. Portanto, o ácido fólico e a vitamina B6 existentes nas ervilhas são também favoráveis à saúde cardiovascular. De fato, o ácido fólico é importante para a função cardiovascular.
 Texto: Michelle Freire/ Foto: Marcelo Resende/ Produção: Janaína Resende/ Adaptação: Ingrid Tanii , complementado.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

5 alimentos vilões do câncer

5 alimentos vilões do câncer

Publicado em 28 de Apr de 2015 por Clara Ribeiro 

A alimentação correta tem um peso enorme na prevenção e também no tratamento do câncer. De acordo com a médica nutróloga Andréa Pereira e a nutricionista Márcia Tanaka, ambas do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), as Sociedades Americana e Brasileira de Câncer, baseadas em evidências científicas, indicam alimentos que devem ser evitados, como os cinco citados na lista a seguir

Texto: Karina Fusco / Foto: Shutterstock / Adaptação: Clara Ribeiro
Evite frituras e alimentos com muita gordura
Foto: Shutterstock
1. Alimentos gordurosos
Carne vermelha, leite integral, queijos gordurosos, frios e embutidos, ricos em gorduras saturadas, devem ser evitados na dieta de quem faz tratamento contra o câncer. Frituras em geral como batata, provolone e linguiça, além de salgadinhos, ricas fontes de gorduras trans, também precisam ser eliminados do cardápio. O motivo? Além de contribuir para a obesidade e o aumento nos níveis de colesterol, fazem aumentar os processos inflamatórios no organismo.
2. Bebidas açucaradas
Refrigerantes e sucos artificiais devem ser substituídos por sucos naturais. Isso porque as bebidas artificiais têm muito açúcar refinado, corantes e conservantes e altos níveis sanguíneos dessas substâncias no organismo elevam o risco para o desenvolvimento de câncer. Entretanto, ao optar pelos sucos naturais, não vale encher de açúcar ou de adoçante. Se sentir necessidade de adoçar, opte por adoçante natural stevia, açúcar mascavo ou orgânico. Qualquer um deles em pequena quantidade.
3. Sal
O consumo de sal utilizado no preparo das refeições deve ser limitado a menos de seis gramas ao dia. O excesso do sal aumenta o risco não apenas de câncer, mas também de doenças cardiovasculares, como a hipertensão. Vale substituí-lo por temperos naturais como cebola, alho, ervas aromáticas e especiarias naturais frescas ou secas. Entre estas, boas opções são tomilho, manjericão, coentro, hortelã, erva-doce e cominho. Alimentos salgados ou preservados em sal, como enlatados, salgadinhos industrializadose carnes secas também devem ser evitados por terem uma alta concentração de sódio.

4. Alimentos processados
Frios e embutidos que levam em suas fórmulas conservantes químicos, como os nitritos e nitratos, não devem estar presentes na dieta. No organismo, elas podem se converter em agentes cancerígenos como as nitrosaminas, atingindo principalmente o esôfago e o estômago. As carnes defumadas, assim como o churrasco, precisam ser evitados devido à concentração de alcatrão nesses alimentos, um elemento com potencial cancerígeno.
5. Bebidas alcoólicas
Há evidências científicas de que a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas pode aumentar a incidência de diversos tipos de câncer, como o de cabeça e pescoço e o gastrointestinal. Com o consumo frequente, as mucosas do organismo podem ser agredidas e levar a alterações nas células. Combinadas com o cigarro, crescem ainda mais as chances de desenvolvimento de tumores malignos no organismo.
Deixe o prato mais colorido
Uma dieta alimentar saudável pode reduzir as chances de câncer no intestino e no tubo digestivo em até 40%. Por isso, aumente seu aporte de frutas, verduras, legumes e cereais integrais no menu diário. Divida as frutas em no mínimo quatro porções; cinco porções de legumes e verduras e três opções de grãos.

Pilates pode ajudar no tratamento do AVC

Pilates pode ajudar no tratamento do AVC

Publicado em 29 de Apr de 2015 por Clara Ribeiro 

Através dos exercícios o equilíbrio é refeito e permite que as conexões responsáveis pela sensação de segurança sejam estabelecidas


Pilates pode ajudar no tratamento do AVC
Foto: Shutterstock
O Pilates, técnica conhecida como prevenção e tratamento da coluna vertebral, agrega as teorias de controle motor e técnicas de conscientização corporal. Sendo assim, sua prática favorece o fortalecimento e alongamento dos músculos, aumentando a mobilidade das articulações com movimentos realizados sem pressa e com controle.
O método criado por Joseph H. Pilates durante a década de 20 tem benefícios inúmeros, inclusive para pessoas que sofreram AVC (Acidente Vascular Cerebral). Neste caso a prática contribui para a recuperação dos movimentos, melhora a respiração, postura e coordenação motora. Através dos exercícios o equilíbrio é refeito e permite que as conexões responsáveis pela sensação de segurança sejam estabelecidas e a realização das atividades cotidianas sejam constituídas.
 Publicado em 29 de Apr de 2015 por Clara Ribeiro

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Mitos e verdades sobre a linhaça

Mitos e verdades sobre a linhaça


É difícil imaginar que uma sementinha possa fazer tão bem para a saúde. Mas faz! Veja por que ela passou a ser recomendada pelos médicos para ajudar no controle do colesterol e regular as taxas hormonais. Conheça os mitos e verdades sobre a linhaça

Texto Marcela Carlini / Fonte: Rosângela Cordeiro, nutricionista e gerente de Nutrição do Hospital Adventista Silvestre, Rio de Janeiro. / Foto: Fabio Mangabeira (Escala Imagem)
Linhaça
(Foto: Fabio Mangabeira)



A dourada é mais benéfica para a saúde
Falso: O que diferencia um tipo do outro é apenas sua tonalidade. Entre a linhaça marrom e a dourada podem existir muitos tons, mas a diferença entre elas é muito pequena quando falamos de teor de ômega-3, que é um de seus nutrientes mais importantes. As condições de cultivo e a variedade podem alterar a quantidade de pigmento da casca, porém, internamente, a semente costuma apresentar composições nutricionais muito próximas.
É capaz de reduzir o colesterol
Verdadeiro: A linhaça é um alimento de origem vegetal que protege a saúde do coração, principalmente devido à presença do ômega-3 e de ligninas (uma fibra igual à que encontramos na aveia e emoutros cereais). A função do ômega-3 é de ser um mediador das reações inflamatórias e evitar que as células enferrujem (ação antioxidante), o que garante que as taxas de colesterol ruim (LDL) sejam reduzidas e, consequentemente, diminuam os riscos de a pessoa desenvolver doenças cardiovasculares. Por fim, a semente também tem uma ação hipolipidêmica, ou seja, seu consumo regular é capaz de reduzir a gordura no sangue.
Comer em excesso faz engordar
Verdadeiro: Todo alimento tem sua quantidade calórica específica e é bom lembrar que tudo na alimentação deve ser consumido com equilíbrio e, se possível, com a orientação de um nutricionista. Ainda não se tem comprovada a quantidade específica sobre o consumo da semente de linhaça, principalmente quando associada com sementes oleaginosas, o que acontece na composição da ração humana. Entretanto, numa dieta equilibrada, recomenda-se o consumo de duas colheres das de sopa (15 g) de linhaça por dia, o que equivale a 43 calorias.
O grão in natura é melhor do que a farinha
Falso: Quando se consome a semente inteira (in natura), o organismo dificilmente consegue quebrá-la para o melhor aproveitamento, portanto não é possível aproveitar seus benefícios por completo. Logo, a maneira ideal de ingerir a linhaça é crua, integral e triturada (transformada em farinha) na hora do consumo.
 Pode ser substituída por soja, pois elas têm os mesmos nutrientes
Falso: Tanto a linhaça quanto a soja têm ação fito-hormonal. Porém, cada uma tem propriedades particulares. O consumo, a indicação e a quantidade a ser ingerida devem estar de acordo com a programação alimentar de cada pessoa, para isso, recomenda-se procurar um nutricionista.

Regula as taxas hormonais
Verdadeiro: Segundo a pesquisadora canadense Lilian Thompson, as ligninas (fibras) encontradas na linhaça são metabolizadas pelas bactérias intestinais formando substâncias químicas semelhantes aos estrógenos. O estrógeno éum hormônio encontrado no corpo da mulher, responsável pela proliferação e crescimento de células que formam as características sexuais. Assim, ele funciona como um protetor para as células mamárias, podendo prevenir o câncer de mama.
Revista VivaSaúde/ Edição 88


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Camada de ozônio mostra primeiros sinais de recuperação desde a proibição de gases nocivos

Camada de ozônio mostra primeiros sinais de recuperação desde a proibição de gases nocivos

Enfim, algo a comemorar.
A camada de ozônio está mostrando os primeiros sinais de recuperação após anos de destruição, concluiu um estudo das Nações Unidas. 
Os cientistas disseram que a recuperação deve-se, principalmente, a uma ação global conjunta de 1987 que proibiu a produção e utilização, pelo homem, de gazes que produzem o efeito estufa. 
Pela primeira vez em 35 anos, os cientistas foram capazes de confirmar um aumento estatisticamente significativo e sustentado do ozônio estratosférico, que fornece um escudo contra a radiação solar que provoca câncer de pele, danos às culturas e outros problemas. 
Também, o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida parou de crescer. 
"A ação internacional sobre a camada de ozônio é uma grande história de sucesso ambiental ... Isto deve encorajar-nos a apresentar o mesmo nível de urgência e unidade para enfrentar o desafio ainda maior de combate às alterações climáticas", disse Michel Jarraud, secretário-geral do WMO.
Com informações do The Telegraph

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Déficit de sono tem efeito 'dramático' sobre o corpo humano, conclui estudo

Déficit de sono tem efeito 'dramático' sobre o corpo humano, conclui estudo


Foto: BBC
Quantidades insuficientes de sono durante um período prolongado pode ter efeito profundo sobre o funcionamento do corpo humano, segundo pesquisadores britânicos.
Um experimento concluiu que a atividade de centenas de genes no organismo de voluntários foi alterada quando eles dormiram menos de seis horas por noite durante uma semana.
Em artigo na publicação científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os pesquisadores disseram que os resultados do estudo ajudam a explicar como o sono insuficiente prejudica a saúde.
Doenças cardíacas, diabetes, obesidade e mau funcionamento do cérebro foram vinculados ao pouco dormir.
O processo pelo qual o déficit de sono altera a saúde, no entanto, ainda não é conhecido.
A equipe da Universidade de Surrey, na Inglaterra, coletou amostras de sangue de 26 pessoas após elas terem dormido bastante - até dez horas por noite - durante uma semana.
Na segunda fase do experimento, o mesmo grupo foi submetido a uma semana de sono insuficiente - menos de seis horas por noite. Amostras de sangue foram colhidas novamente.
Ao comparar as amostras, os cientistas observaram que a atividade de mais de 700 genes no organismo dos participantes foi alterada após a mudança no padrão do seu sono.

Configuração química

Cada gene contém instruções para a fabricação de uma proteína. Portanto, os que ficaram mais ativos produziram mais proteínas. Isso alterou completamente a configuração química no corpo dos voluntários.
O relógio natural dos seus organismos também foi perturbado pela falta de sono. A atividade de alguns genes aumenta e diminui no decorrer do dia, mas esse efeito foi enfraquecido pelo déficit de sono.
Falando à BBC, Colin Smith, da Universidade de Surrey, disse que "houve uma mudança dramática na atividade de muitos tipos diferentes de genes".
"Áreas como o sistema imunológico e a forma como o organismo reage a danos e estresse foram afetadas", agregou. "Claramente, dormir é essencial para a reconstrução do corpo e a manutenção de um estado funcional. (Caso contrário) vários tipos de danos parecem acontecer, o que pode resultar em doenças. Se não podemos reabastecer ou substituir células, isso leva à (formação de) doenças degenerativas."
O especialista disse que muitas pessoas podem estar vivendo com déficits de sono ainda maiores do que os estudados. Isso significa que essas mudanças nos genes podem ser comuns.
Comentando os resultados do experimento, o pesquisador Akhilesh Reddy, que estuda o relógio biológico humano na Universidade de Cambridge, Inglaterra, disse que o estudo é "interessante".
Para ele, as revelações mais importantes são os efeitos do sono insuficiente sobre inflamações e o sistema imunológico. Ele explicou que é possível estabelecer-se um vínculo entre esses efeitos e problemas de saúde como a diabetes.

Nutricionistas recomendam 'apenas água' em refeições para combater obesidade infantil

Nutricionistas recomendam 'apenas água' em refeições para combater obesidade infantil


Crianças devem ser incentivadas a beber água desde o desmame
Água deve ser a única bebida oferecida a crianças durante as refeições para ajudar a combater a obesidade, sugerem nutricionistas.
Um grupo de cientistas disse que bebidas açucaradas são calóricas e com pouco, ou nenhum, valor nutricional, e que as pessoas perderam o "hábito de beber água" durante as refeições.
O aviso dos nutricionistas veio no momento em que o Public Health England, uma agência do Departamento de Saúde da Grã-Bretanha, se prepara para publicar seus planos para cortar o consumo de açúcar no país. O plano deve propor a introdução de um "imposto de açúcar" sobre refrigerantes.
Cientistas falando antes do anúncio da Public Health England, argumentaram que não existem soluções fáceis para atacar a obesidade.
No entanto, eles concordaram em relação às bebidas açucaradas.
"É um simples conselho aos pais: incentivem seus filhos a beber água", disse Susan Jebb, da Universidade de Oxford.
"Uma vez que eles desmamarem, a mensagem deve ser 'crianças devem beber água'. Leite pode, mas esse deve ser o foco da nossa mensagem."
Tom Sanders, chefe do departamento de ciências nutricionais e diabetes do hospital King's College de Londres, disse: "Crianças devem adquirir o hábito de beber água. O problema é que as pessoas não bebem mais água. Eu acredito que as famílias devem colocar água na mesa, e não refrigerante, que deve ser apenas um agrado."

Açúcar e calorias

O grupo de especialistas disse que o principal impacto do açúcar na saúde é como fonte de calorias que podem levar à obesidade. Além disso, o açúcar pode aumentar o risco de problemas cardíacos e da diabetes tipo 2.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de que a ingestão de açúcares não ultrapasse 10% do consumo diário de calorias de uma pessoa - e de que os governos trabalhem com uma meta de 5% para a população.
Os limites devem ser aplicados a todos os açúcares adicionados aos alimentos, assim como o açúcar natural presente no mel, melados, sucos de fruta e concentrados de frutas.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

As várias causas da obesidade

As várias causas da obesidade

Comidas que viciam, falha no sistema de compensação neurológico e fatores genéticos mostram por que é tão difícil manter o peso




A cada ano aumenta a quantidade de obesos e de pessoas com excesso de peso no mundo. E, pior, esse número crescente não é mais uma particularidade de países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), metade da população adulta brasileira está acima do peso. A mudança no padrão de alimentação – aumento no consumo de comidas industrializadas – e a vida sedentária são os principais fatores de sobrepeso.

Ao longo dos anos, com o aumento da obesidade e da preocupação sobre o tema, foram desenvolvidos muitos estudos para se combater esse mal. É muito aceita a hipótese de que a obesidade pode ser uma doença sem uma única causa, mas várias. Predisposição genética, meio ambiente, vírus e distúrbio alimentar estão entre os fatores que podem desencadear um quadro de obesidade.
Uma teoria é de que a obesidade pode ser hereditária. Pesquisas feitas pelo Consórcio de Investigação Genética de Traços Antropométricos (Giant), que conta com mais de 400 cientistas de 280 instituições de pesquisa ao redor do mundo, mostraram novos determinantes genéticos relacionados ao alto índice de massa corpórea (IMC) e à distribuição de gordura no corpo.
No primeiro estudo sobre o IMC, os cientistas identificaram 32 regiões que podem estar associadas ao IMC, 18 das quais nunca haviam sido relacionadas à obesidade antes. Uma das novas variantes descobertas está no gene que faz a codificação para um receptor de proteína que responde a sinais vindos do estômago e influencia no nível de insulina e no metabolismo. Outra variável fica próxima a um gene conhecido por codificar proteínas que afetam o apetite.

Embora se diga que o efeito de cada variante seja modesto, os voluntários que têm mais de 38 delas eram, em média, de 6 a 9 quilos mais pesados que os que tinham 22 variantes ou menos. É importante lembrar que a expressão dessas variantes é muito pequena quando se quer determinar se, no futuro, uma pessoa será obesa. Tanto fatores genéticos quanto ambientais interferem no peso.
No segundo estudo foram encontrados 13 determinantes genéticos que influenciam a distribuição de gordura corporal, a razão cinturaquadril. De acordo com essa razão, o fato de a gordura ser armazenada na região do abdômen aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Por outro lado, ao se estabelecer o quadril ou coxas, ela pode ser benéfica, nos protegendo desses males.
Vírus da obesidade
Já pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acreditam que a obesidade seja transmitida de pessoa para pessoa como se fosse uma infecção. Não por acaso, os cientistas apelidaram a doença de “infectobesidade”, causada pelo adenovírus 36, uma variação do vírus associado ao resfriado. O estudo foi feito com 124 crianças de 8 a 18 anos e constatou-se que 54% delas eram obesas. Dezenove crianças apresentavam o adenovírus 36 e, desse total, 78% tinham quadro de obesidade.
Outra observação foi que as crianças que portavam o vírus pesavam, em média, 22 quilos a mais que aquelas que não o tinham. Os cientistas alertam que esse excedente pode significar um aumento no risco de outras doenças, como problemas cardíacos, diabetes e doenças no fígado.
A ideia de uma causa viral para a obesidade foi levantada uma década atrás por Nikhil Dhurandhar, professor do Centro de Pesquisa em Biomedicina de Pennington, nos Estados Unidos. Ele notou que os frangos que morriam durante uma epidemia de gripe (causada pelo adenovírus) na Índia, nos anos 1980, eram mais gordos, ao invés de serem magros, perfil esperado de um organismo doente.
42% de obesos
Pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, estimam que a epidemia de obesidade na América do Norte não vai parar até que pelo menos 42% dos adultos estejam obesos. O estudo de matemática modular, que levou em consideração dados de 40 anos do estudo Framingham Heart sobre doenças cardiovasculares, foi publicado no periódico PloS Computational Biology.


Gordura vicia
Além da predisposição genética e de um vírus da obesidade, evitar essa doença se torna muito difícil, já que alimentos extremamente gordurosos e deliciosos estão ao nosso alcance a toda hora. Um artigo que saiu no periódico Nature Neuroscience dá uma outra perspectiva do porquê é tão difícil deixar de comer alguns pratos e alimentos gordurosos, mas muito palatáveis. Em uma experiência com ratos foi constatado que aqueles que se alimentavam de comida gordurosa apresentavam um déficit nos receptores de dopamina D2, hormônio que está associado à sensação de prazer e satisfação.
No experimento, os ratos foram divididos em três grupos: um que só se alimentava de ração, um que tinha acesso limitado a comidas gordurosas e um que poderia comer todos os alimentos gordurosos que quisesse. Depois de 40 dias, os ratos que tinham acesso ilimitado à gordura ganharam muito mais peso se comparados aos demais roedores. “O desenvolvimento da obesidade em ratos com acesso ilimitado à comida palatável está muito associado à piora do sistema de recompensa do cérebro”, escrevem os cientistas.
Os pesquisadores afirmam que déficits similares no sistema de recompensa do cérebro foram reportados em ratos viciados em drogas, como cocaína injetável. Logo, essa deficiência de receptores de dopamina D2 pode levar ao exagero na comilança, contribuindo para a obesidade.
Por que as dietas falham?
Segundo cientistas da Universidade da Pensilvânia, seguir uma dieta de emagrecimento faz com que o cérebro fique mais sensível ao estresse e busque recompensas calóricas, como comidas gordurosas. Um experimento feito com ratos mostrou que o nível de cortisol, hormônio relacionado ao estresse, é muito maior naqueles que perderam peso em relação ao grupo de controle. Foi constatado que houve mais episódios de descontrole alimentar e ganho de peso nos roedores que passaram por dieta.

Descontrole com a comida
De fato, a oferta de comida extremamente palatável aumenta cada vez mais. Indústrias trabalham muito com produtos que priorizem a praticidade e o sabor acentuado. Esse tipo de alimento geralmente contém muitas substâncias que, em excesso, fazem mal ao organismo, levando ao ganho de peso, ao aumento de colesterol e de triglicérides, entre outros problemas. “A oferta de alimentos palatáveis de alta caloria favorece episódios de transtorno alimentar compulsivo periódico. Mas também a questão da aprendizagem influi”, diz Hermano Tavares, médico psiquiatra e coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Segundo ele, existe a necessidade de uma figura que zele pela boa alimentação das crianças e pelo aprendizado alimentar. E hoje, em razão do ritmo de vida e da inserção da mulher no mercado de trabalho, é mais difícil encontrar lares com tal figura de autoridade. “Às vezes, as pessoas comem de maneira equivocada porque não foram ensinadas como se alimentar de maneira apropriada”, argumenta. Além disso, há estudos que mostram que há doenças que têm fatores contribuintes de origem intrauterina. Maus hábitos alimentares podem comprometer a saúde do bebê no período em que ele está na barriga da mãe.
Tavares aponta que a reeducação alimentar seria um bom modo de combater a obesidade. Isso porque ela pode estar associada a outras dependências, como a ansiedade. É possível combater a ansiedade com psicoterapias e medicamentos, mas ainda assim é necessário ter um hábito alimentar saudável. O psiquiatra observa que uma linha de pesquisa da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, batizado de Academia Nutricional, para estimular a reeducação alimentar.
A Academia Nutricional funcionaria como um colégio, com aproximadamente 3 anos de duração, e se fundamentaria em cinco pilares. O primeiro diz respeito a experimentar novos sabores e alterar, numa taxa de 3% ao mês, o cardápio da pessoa. Já o segundo pilar se basearia na conscientização dos benefícios que cada alimento traz ao corpo. No terceiro momento, o nutricionista agiria como um negociador, que tiraria algum alimento do prato do paciente e o substituiria por um mais saudável. O quarto pilar seria alimentar um bichinho virtual (representação do aluno), como modo de trabalhar a conscientização e a honestidade consigo mesmo. O último fundamento é a formação de comunidades para estimular a boa alimentação e a experimentação de novos sabores.
Tavares afirma que esse método de reeducação alimentar pode ser muito eficaz, já que se está lidando com um comportamento praticado por anos. “É preciso de métodos muito criativos para se promover uma mudança comportamental. Tudo, claro, num ambiente afetivo, porque ele facilita essa mudança. A brincadeira do bichinho virtual pode envolver mais respostas afetivas”, argumenta.
Paladar da mãe influencia na dieta do filho
Estudo publicado no periódico Proceedings of Royal Society B mostrou que a alimentação da mãe na gravidez pode influenciar no paladar do filho. O experimento foi feito com dois grupos de ratos: um em que as mães se alimentavam de comidas com sabores mentolados e cerejas, e outro em que elas tinham uma dieta branda. Os filhotes do primeiro grupo tinham um glomérulo (região do cérebro responsável pelo odor) maior. É a primeira evidência de que os odores no útero podem alterar o modo como o cérebro se desenvolve. Acredita-se que todos os mamíferos desenvolvam seu paladar do mesmo modo.

Novos modos de emagrecer
Em busca de combater o sobrepeso com mais eficácia, muitos métodos de emagrecimento estão sendo reformulados. Entre eles está a contagem de calorias. Os Vigilantes do Peso do Reino Unido implantaram recentemente o sistema ProPoints, em que os alimentos ganham pontuação por suas características e seu modo de preparo e não pela quantidade de calorias que possuem (antigo método).
Pesquisas realizadas pela própria instituição constataram que o sucesso em emagrecer não diz respeito somente à contagem de calorias, mas quão rápido nosso corpo processa os nutrientes. Por exemplo, de acordo com o antigo sistema, uma barra de chocolate e um bife tinham a mesma pontuação. Mas o corpo pode queimar 25% mais energia digerindo proteínas e fibras (carne) que processando açúcares e gordura (chocolate).
O ProPoints trabalha com uma meta de consumo de pontos diários, baseada em gênero, idade, peso e altura. Ao mesmo tempo, há um bônus de pontos por semana que podem ser gastos em qualquer dia, como preferir. Então, a pessoa, caso tenha um jantar ou uma festa, não precisa se limitar tanto pela dieta. Por enquanto, a medida do ProPoints só foi implantada no Reino Unido. Mas possivelmente, em breve, será utilizada pelo Vigilantes do Peso do Brasil.
Outro método de emagrecimento que tem sido posto em xeque são os exercícios físicos. Estudos recentes mostram que, a partir de um certo ponto, o corpo para de queimar energia e começa a querer repô-la, fazendo com que a pessoa coma mais e engorde. Um experimento realizado na Universidade de Louisiana, nos Estados Unidos, analisou quatro grupos de mulheres com sobrepeso durante 6 meses. No primeiro, elas se exercitavam 72 minutos por semana. No segundo, por 136 minutos. Já o terceiro grupo, por 194 minutos. As mulheres membros do último seguiam sua rotina normal, sem exercícios adicionais.
No final do estudo, os pesquisadores não constataram nenhuma diferença significativa de perda de peso entre aquelas que se exercitaram em relação ao grupo de controle. Os cientistas sugerem que isso aconteceu em virtude de um sistema de “compensação” do corpo, pois aquelas que se exercitaram compensaram as calorias gastas comendo mais, como uma forma de auto-recompensa.
Obsessão por comer
O transtorno alimentar compulsivo periódico (TCAP) é um distúrbio em que, por muitos episódios, a pessoa perde o controle e come até passar mal ou até a comida acabar. Grande parte dos pacientes com esse transtorno tem sobrepeso e cerca de 30% dos obesos têm esse comportamento. “A perda de controle com a comida não é obesidade. Ela é frequentemente associada a outras formas de perda de controle, como jogo, sexo, compras”, explica Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório dos Transtornos por Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP. Esse descontrole é mais comum do que se pensa. Imagine uma noite mal dormida, estresse no trânsito, período de pressão no trabalho somados a um jejum de 12 horas. Depois desse dia, quando for a uma churrascaria, tente se controlar. “A tendência de perder o controle está associada a fatores genéticos e ambientais”, conclui.
Texto: maira@planetanaweb.com.br
Revista planeta

Você é o que você come

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40 Anos de desordem alimentar


Terra onde, em se plantando, tudo dá, o Brasil cumpriu nas últimas décadas o vaticínio:  tornou-se celeiro do mundo. Nos anos 1970, surfou na onda da Revolução Verde e adotou o fertilizantes, a monocultura e a agricultura mecanizada. Quarenta anos depois, a onda virou tsunami: somos um exportador gigante de grãos e de carne. Mas e a busca por uma alimentação mais equilibrada?
A expansão do agronegócio e a cultura extensiva dos alimentos mecanizados e fertilizados também deixam um gosto imprevisto na boca dos brasileiros. O passivo ambiental legado por esse modelo industrial contabiliza erosão e esgotamento dos solos, poluição dos rios e aquíferos, desmatamento e extinção de espécies animais e vegetais. Se é verdade que a superpopulação mundial ganhou, nas últimas décadas, mais acesso a proteínas baratas, é mais que preocupante o número de pesquisas que ligam a indústria de agrotóxicos a doenças – sendo o câncer a principal delas.
Assim como do yin nasce o yang e vice-versa, datam também dos remotos anos 70 a busca por outro alimento. A inspiração veio do Oriente, da macrobiótica, que tem como base o equilíbrio entre sódio e potássio. Na capa de Refazenda, álbum de 1975, Gilberto Gil está sentado em postura de lótus, de quimono azul celeste, comendo com hashi. “Abacateiro, acataremos teu ato, teu recolhimento é justamente o significado da palavra temporão” – cantava. A lembrança veio em boa hora: já nos acostumávamos a comer tudo, de todo lugar, a qualquer tempo.
A partir dos anos 1980 também ampliaram se as lavouras orgânicas, os entrepostos e os restaurantes naturais. Vegetarianos ganharam visibilidade. Nasceram os movimentos mundiais de ecovilas. Surgiram as certificações e as feiras orgânicas, nas quais o alimento passa das mãos do produtor diretamente para as do consumidor. A primeira foi a de Porto Alegre, fundada em 1989, com a presença do ecologista José Lutzenberger (1926-2002).
Na mesma medida do progresso da devastação, ganhou escala e refinamento a produção agroecológica. O arroz biodinâmico Volkmann, por exemplo, cultivado desde 1983 em Sentinela do Sul (RS), é hoje revendido em mais de 800 entrepostos do país. “O mercado nacional acordou para os produtos orgânicos, não precisamos mais exportar”, diz seu produtor, João Batista Volkmann, que acaba de falar sobre “as forças vivas na lavoura de arroz” no I Congresso Internacional de Arroz Orgânico, ocorrido em Montpellier, na França, em agosto.

Mudança de hábito
Nesses últimos 40 anos, a vida nas cidades mudou. As mulheres entraram no mercado de trabalho e o hábito de comer na rua se consolidou. Substituímos os alimentos tradicionais, com hidratos de carbono complexos, fibras, vitaminas e minerais, por outros com hidratos de carbono de absorção rápida: alimentos processados, refrigerantes, salgadinhos com alto teor de gordura saturada e gordura trans – a chamada junk food, a comida pré-fabricada turbinada por produtos químicos. Mais de 80% dos brasileiros, de todas as idades, seguem, hoje, dieta inadequada. Ao mesmo tempo, com a melhoria na distribuição de renda e o aumento da prosperidade, o consumo per capita de bovinos atingiu 37,5 quilos em 2010, 5% a mais do que em 2009, apesar de uma alta de 38% no preço.
Fiéis às nossas raízes, felizmente continuamos comendo o tradicional feijão com arroz, uma mistura proteica rica em minerais e vitaminas. Mas ingerimos carne vermelha em excesso, e apenas um em cada dez brasileiros se alimenta com frutas, legumes e verduras recomendáveis. Acrescente-se a isso doses excessivas de gordura saturada, sal e açúcar – este, usado e abusado no cafezinho, alimento mais ingerido no país. As informações são da Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009).
As calorias baratas que lotam os supermercados contribuem com números recorde de doenças relacionadas à alimentação. “Há hoje mais obesos e pessoas com sobrepeso no mundo do que famintos. Os custos para o sistema de saúde e o comprometimento da qualidade de vida são imensos: será que as empresas não têm nada a ver com isso?”, pergunta o professor da FEA-USP Ricardo Abramovay, autor de Muito Além da Economia Verde. “Estamos plantando uma bomba-relógio nos corpos das crianças do mundo inteiro”, afirma Raj Patel, autor de Stuffed & Starved – The Hidden Battle for the World Food System (Cheios & Famintos – A Batalha Secreta Pelo Sistema Mundial de Alimentos), de 2007. “Hoje, os mexicanos tomam mais Coca-Cola que leite. O resultado é que um em cada dez mexicanos está diabético.”

De volta para casa
Diante da pressão das mudanças climáticas e do agravamento do desequilíbrio ambiental, o país parece estar se sensibilizando. Os conceitos de agroecologia, consumo responsável, bem-estar animal, segurança alimentar e nutricional, economia e finanças solidárias – que cada vez mais povoam nosso universo – esboçam um cenário em que sociedade, governo e empresas percebem ser necessário reorientar a alimentação do brasileiro.
A agricultura familiar – responsável por mais da metade da comida que chega à nossa mesa, embora represente não mais que um quarto das propriedades agrícolas – vem sendo impulsionada pelo governo. O Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) determina que pelo menos 30% dos recursos repassa dos para a alimentação escolar sejam aplicados na agricultura familiar. Em 2011, isso significou R$ 1 bilhão em frutas, legumes e verduras, que substituíram alimentos industrializados e levaram comida saudável às crianças.
O cenário se amplia com o recente decreto que instituiu, em agosto, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Em seu artigo IV, ele aponta para uma “transição agroecológica: processo gradual de mudança de práticas e de manejo de agroecossistemas, tradicionais ou convencionais, por meio da transformação das bases produtivas e sociais do uso da terra e dos recursos naturais, que levem a sistemas de agricultura que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica.”

Comer comida
“Coma comida”, aconselha o jornalista norte-americano Michael Pollan, autor de Em Defesa da Comida, de 2008 – campeão entre os mais vendidos segundo The New York Times. Diante da desordem alimentar dos Estados Unidos, onde o modelo turbinado chegou ao paroxismo, diz ainda: “Não muita, e principalmente legumes e verduras. A comida mais confiável é a da sua mãe. Coma só aquilo que sua bisavó reconheceria como alimento. Evite processados e, sempre que possível, troque o supermercado por uma feira de produtores orgânicos, onde poderá comprar alimento de época, no pico de sua qualidade nutricional, num clima de confiança.”
Para ele, o alimento possibilita a comunhão entre espécies. Como o italiano Carlo Petrini, criador do Slow Food, Pollan vê na cultura nosso melhor guia e considera as dietas tradicionais de cada região as mais adequadas para a saúde – a nossa e a do planeta. Não por acaso, a alimentação foi incorporada ao patrimônio imaterial da Unesco, por ser expressão da identidade dos povos, em um mundo assustadoramente padronizado. Tanto que cerca de 800 alimentos correm risco de desaparecer no mundo, dezenas deles no Brasil. Com eles sumiria também parte da nossa diversidade cultural – uma dívida irreparável para com as gerações que ainda habitarão este planeta.
 
Agroecologia premiada
O prêmio mais importante da agricultura orgânica mundial acaba de ser entregue à doutora Ana Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil. O One World Award, da International Federation of Organic Agriculture Movements, escolheu essa agrônoma de 92 anos pelo impulso que deu à agroecologia ao criar um paradigma alternativo ao da agricultura industrial. Ana foi receber o prêmio na Alemanha, pessoalmente, em setembro.
“Vivi numa época em que a agricultura química e a monocultura praticamente não existiam. O plantio único trouxe uma avalanche de doenças, aplacadas somente por agrotóxicos. Se continuar assim, em 20 ou 30 anos estará tudo deserto”, disse ao receber outra homenagem, o Prêmio Trip Transformadores 2010. Para Ana, ao contrário do que se diz, a terra viva pode gerar safras até cinco vezes maiores que as da agricultura convencional. “O adubo químico é basicamente formado por três elementos, e a planta necessita de 45”, ensina.
Nascida numa família de agricultores da Áustria e naturalizada brasileira, Ana lecionou por quatro décadas na Universidade Federal de Santa Maria (RS), cidade onde criou três filhos e escreveu vários livros. Por mais de 30 anos viveu num sítio em Itaí (SP), que comprou com o solo tomado por voçorocas e sem nascentes, mas recuperou e fez florescer. Mora hoje com a família em São Paulo (SP).
 

40 Anos de desordem alimentar


Terra onde, em se plantando, tudo dá, o Brasil cumpriu nas últimas décadas o vaticínio:  tornou-se celeiro do mundo. Nos anos 1970, surfou na onda da Revolução Verde e adotou o fertilizantes, a monocultura e a agricultura mecanizada. Quarenta anos depois, a onda virou tsunami: somos um exportador gigante de grãos e de carne. Mas e a busca por uma alimentação mais equilibrada?
A expansão do agronegócio e a cultura extensiva dos alimentos mecanizados e fertilizados também deixam um gosto imprevisto na boca dos brasileiros. O passivo ambiental legado por esse modelo industrial contabiliza erosão e esgotamento dos solos, poluição dos rios e aquíferos, desmatamento e extinção de espécies animais e vegetais. Se é verdade que a superpopulação mundial ganhou, nas últimas décadas, mais acesso a proteínas baratas, é mais que preocupante o número de pesquisas que ligam a indústria de agrotóxicos a doenças – sendo o câncer a principal delas.
Assim como do yin nasce o yang e vice-versa, datam também dos remotos anos 70 a busca por outro alimento. A inspiração veio do Oriente, da macrobiótica, que tem como base o equilíbrio entre sódio e potássio. Na capa de Refazenda, álbum de 1975, Gilberto Gil está sentado em postura de lótus, de quimono azul celeste, comendo com hashi. “Abacateiro, acataremos teu ato, teu recolhimento é justamente o significado da palavra temporão” – cantava. A lembrança veio em boa hora: já nos acostumávamos a comer tudo, de todo lugar, a qualquer tempo.
A partir dos anos 1980 também ampliaram se as lavouras orgânicas, os entrepostos e os restaurantes naturais. Vegetarianos ganharam visibilidade. Nasceram os movimentos mundiais de ecovilas. Surgiram as certificações e as feiras orgânicas, nas quais o alimento passa das mãos do produtor diretamente para as do consumidor. A primeira foi a de Porto Alegre, fundada em 1989, com a presença do ecologista José Lutzenberger (1926-2002).
Na mesma medida do progresso da devastação, ganhou escala e refinamento a produção agroecológica. O arroz biodinâmico Volkmann, por exemplo, cultivado desde 1983 em Sentinela do Sul (RS), é hoje revendido em mais de 800 entrepostos do país. “O mercado nacional acordou para os produtos orgânicos, não precisamos mais exportar”, diz seu produtor, João Batista Volkmann, que acaba de falar sobre “as forças vivas na lavoura de arroz” no I Congresso Internacional de Arroz Orgânico, ocorrido em Montpellier, na França, em agosto.

Mudança de hábito
Nesses últimos 40 anos, a vida nas cidades mudou. As mulheres entraram no mercado de trabalho e o hábito de comer na rua se consolidou. Substituímos os alimentos tradicionais, com hidratos de carbono complexos, fibras, vitaminas e minerais, por outros com hidratos de carbono de absorção rápida: alimentos processados, refrigerantes, salgadinhos com alto teor de gordura saturada e gordura trans – a chamada junk food, a comida pré-fabricada turbinada por produtos químicos. Mais de 80% dos brasileiros, de todas as idades, seguem, hoje, dieta inadequada. Ao mesmo tempo, com a melhoria na distribuição de renda e o aumento da prosperidade, o consumo per capita de bovinos atingiu 37,5 quilos em 2010, 5% a mais do que em 2009, apesar de uma alta de 38% no preço.
Fiéis às nossas raízes, felizmente continuamos comendo o tradicional feijão com arroz, uma mistura proteica rica em minerais e vitaminas. Mas ingerimos carne vermelha em excesso, e apenas um em cada dez brasileiros se alimenta com frutas, legumes e verduras recomendáveis. Acrescente-se a isso doses excessivas de gordura saturada, sal e açúcar – este, usado e abusado no cafezinho, alimento mais ingerido no país. As informações são da Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009).
As calorias baratas que lotam os supermercados contribuem com números recorde de doenças relacionadas à alimentação. “Há hoje mais obesos e pessoas com sobrepeso no mundo do que famintos. Os custos para o sistema de saúde e o comprometimento da qualidade de vida são imensos: será que as empresas não têm nada a ver com isso?”, pergunta o professor da FEA-USP Ricardo Abramovay, autor de Muito Além da Economia Verde. “Estamos plantando uma bomba-relógio nos corpos das crianças do mundo inteiro”, afirma Raj Patel, autor de Stuffed & Starved – The Hidden Battle for the World Food System (Cheios & Famintos – A Batalha Secreta Pelo Sistema Mundial de Alimentos), de 2007. “Hoje, os mexicanos tomam mais Coca-Cola que leite. O resultado é que um em cada dez mexicanos está diabético.”

De volta para casa
Diante da pressão das mudanças climáticas e do agravamento do desequilíbrio ambiental, o país parece estar se sensibilizando. Os conceitos de agroecologia, consumo responsável, bem-estar animal, segurança alimentar e nutricional, economia e finanças solidárias – que cada vez mais povoam nosso universo – esboçam um cenário em que sociedade, governo e empresas percebem ser necessário reorientar a alimentação do brasileiro.
A agricultura familiar – responsável por mais da metade da comida que chega à nossa mesa, embora represente não mais que um quarto das propriedades agrícolas – vem sendo impulsionada pelo governo. O Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) determina que pelo menos 30% dos recursos repassa dos para a alimentação escolar sejam aplicados na agricultura familiar. Em 2011, isso significou R$ 1 bilhão em frutas, legumes e verduras, que substituíram alimentos industrializados e levaram comida saudável às crianças.
O cenário se amplia com o recente decreto que instituiu, em agosto, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). Em seu artigo IV, ele aponta para uma “transição agroecológica: processo gradual de mudança de práticas e de manejo de agroecossistemas, tradicionais ou convencionais, por meio da transformação das bases produtivas e sociais do uso da terra e dos recursos naturais, que levem a sistemas de agricultura que incorporem princípios e tecnologias de base ecológica.”

Comer comida
“Coma comida”, aconselha o jornalista norte-americano Michael Pollan, autor de Em Defesa da Comida, de 2008 – campeão entre os mais vendidos segundo The New York Times. Diante da desordem alimentar dos Estados Unidos, onde o modelo turbinado chegou ao paroxismo, diz ainda: “Não muita, e principalmente legumes e verduras. A comida mais confiável é a da sua mãe. Coma só aquilo que sua bisavó reconheceria como alimento. Evite processados e, sempre que possível, troque o supermercado por uma feira de produtores orgânicos, onde poderá comprar alimento de época, no pico de sua qualidade nutricional, num clima de confiança.”
Para ele, o alimento possibilita a comunhão entre espécies. Como o italiano Carlo Petrini, criador do Slow Food, Pollan vê na cultura nosso melhor guia e considera as dietas tradicionais de cada região as mais adequadas para a saúde – a nossa e a do planeta. Não por acaso, a alimentação foi incorporada ao patrimônio imaterial da Unesco, por ser expressão da identidade dos povos, em um mundo assustadoramente padronizado. Tanto que cerca de 800 alimentos correm risco de desaparecer no mundo, dezenas deles no Brasil. Com eles sumiria também parte da nossa diversidade cultural – uma dívida irreparável para com as gerações que ainda habitarão este planeta.
 
Agroecologia premiada
O prêmio mais importante da agricultura orgânica mundial acaba de ser entregue à doutora Ana Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil. O One World Award, da International Federation of Organic Agriculture Movements, escolheu essa agrônoma de 92 anos pelo impulso que deu à agroecologia ao criar um paradigma alternativo ao da agricultura industrial. Ana foi receber o prêmio na Alemanha, pessoalmente, em setembro.
“Vivi numa época em que a agricultura química e a monocultura praticamente não existiam. O plantio único trouxe uma avalanche de doenças, aplacadas somente por agrotóxicos. Se continuar assim, em 20 ou 30 anos estará tudo deserto”, disse ao receber outra homenagem, o Prêmio Trip Transformadores 2010. Para Ana, ao contrário do que se diz, a terra viva pode gerar safras até cinco vezes maiores que as da agricultura convencional. “O adubo químico é basicamente formado por três elementos, e a planta necessita de 45”, ensina.
Nascida numa família de agricultores da Áustria e naturalizada brasileira, Ana lecionou por quatro décadas na Universidade Federal de Santa Maria (RS), cidade onde criou três filhos e escreveu vários livros. Por mais de 30 anos viveu num sítio em Itaí (SP), que comprou com o solo tomado por voçorocas e sem nascentes, mas recuperou e fez florescer. Mora hoje com a família em São Paulo (SP).
Planeta Ipanema