Em busca de novas Terra
Sempre se achou, ao longo da história, que só havia um planeta como a Terra no universo. Mas logo talvez haja outra Terra. E outra. E mais outra.
Por Timothy Ferris
Foto de Dana Berry (ilustração)
Foto de Dana Berry (ilustração)
Entre os quatro planetas do sistema Gliese girando em torno de uma estrela menos brilhante que o Sol a 20 anos-luz, estão os Gliese 581 e (em primeiro plano) - com o dobro da massa da Terra - 581 d, que talvez tenha água em estado líquido.
As candidatas mais promissoras talvez sejam as estrelas anãs, menores que o Sol. Há uma profusão dessas estrelas, e suas vidas são longas e estáveis, emitindo um fluxo constante de radiação para qualquer planeta dotado de vida que esteja orbitando nas zonas habitáveis do sistema. Quanto menos brilhante é a estrela, mais próximas ficam as zonas habitáveis, de modo que a observação dos trânsitos pode dar resultados em bem menos tempo. Um planeta mais próximo também exerce uma atração gravitacional mais forte sobre a estrela, o que torna mais fácil confirmar sua presença com a técnica Doppler. Na verdade, o planeta mais promissor já encontrado - a "super-Terra" Gliese 581 d, com massa sete vezes maior que a do nosso planeta - orbita na zona habitável de uma estrela anã vermelha que tem apenas um terço da massa de nosso Sol.
Caso planetas similares à Terra sejam achados no interior das zonas habitáveis de outras estrelas, um telescópio espacial específico, projetado para detectar sinais de vida, poderia no futuro captar o espectro da luz emitida por tais planetas e examiná-lo em busca de possíveis "bioassinaturas", como a presença na atmosfera de metano, ozônio e oxigênio. Não seria uma tarefa fácil.
Enquanto se debatem com o intimidante desafio de efetuar análises químicas de planetas que nem sequer conseguem ver, os cientistas empenhados na busca de vida extraterrestre não podem descartar a possibilidade de que ela seja muito diferente daquela que conhecemos. A evolução biológica é tão intrinsecamente imprevisível que até mesmo se a vida surgisse em um planeta idêntico ao nosso na mesma época em que apareceu aqui, a vida nesse planeta certamente seria hoje muito diversa da terrestre.
Como disse certa vez o biólogo Jacques Monod, a vida evolui não apenas em função da necessidade - do funcionamento universal das leis naturais - como também do acaso, da intervenção imprevisível de incontáveis acidentes. O acaso manifestou-se muitas vezes na história de nosso planeta, e de forma dramática no caso das várias extinções em massa, criando assim espaço para o desenvolvimento de novas formas de vida. Alguns desses acidentes parecem ter sido causados pela colisão de cometas e asteróides com a Terra - o mais recente desses acidentes foi o impacto, há 65 milhões de anos, que exterminou os dinossauros. Por esse motivo, os cientistas não buscam apenas por exoplanetas parecidos com a Terra atual mas por aqueles que se assemelhem a versões passadas. "A Terra moderna pode ser o pior modelo para usarmos na busca de vida em outras partes", diz Caleb Scharf, diretor do Centro de Astrobiologia da Universidade Colúmbia.
Não foi nada fácil aos primeiros exploradores fazer uma ideia da profundeza dos oceanos, mapear o lado oculto da Lua ou distinguir indícios da presença de oceanos sob as superfícies congeladas das luas de Júpiter - e também não será fácil encontrar vida nos planetas de outras estrelas. Mas agora temos bons motivos para crer que devem haver bilhões de tais planetas, e eles guardam a promessa de expansão não só do horizonte do conhecimento humano mas também da imaginação humana.
Durante milhares de anos, nós conhecíamos tão pouco a respeito do universo que priorizamos nossas fantasias, em detrimento da realidade. (Como escreveu o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, o misticismo dos visionários religiosos do passado surgiu de uma "intolerável disparidade entre a imensidão de seus desejos e a estreiteza da realidade".) Agora, com os avanços da ciência, tornou-se mais que evidente que a assombrosa criatividade da natureza supera em muito a nossa. E já se descortinam inumeráveis mundos novos, cada qual com sua história.
Caso planetas similares à Terra sejam achados no interior das zonas habitáveis de outras estrelas, um telescópio espacial específico, projetado para detectar sinais de vida, poderia no futuro captar o espectro da luz emitida por tais planetas e examiná-lo em busca de possíveis "bioassinaturas", como a presença na atmosfera de metano, ozônio e oxigênio. Não seria uma tarefa fácil.
Enquanto se debatem com o intimidante desafio de efetuar análises químicas de planetas que nem sequer conseguem ver, os cientistas empenhados na busca de vida extraterrestre não podem descartar a possibilidade de que ela seja muito diferente daquela que conhecemos. A evolução biológica é tão intrinsecamente imprevisível que até mesmo se a vida surgisse em um planeta idêntico ao nosso na mesma época em que apareceu aqui, a vida nesse planeta certamente seria hoje muito diversa da terrestre.
Como disse certa vez o biólogo Jacques Monod, a vida evolui não apenas em função da necessidade - do funcionamento universal das leis naturais - como também do acaso, da intervenção imprevisível de incontáveis acidentes. O acaso manifestou-se muitas vezes na história de nosso planeta, e de forma dramática no caso das várias extinções em massa, criando assim espaço para o desenvolvimento de novas formas de vida. Alguns desses acidentes parecem ter sido causados pela colisão de cometas e asteróides com a Terra - o mais recente desses acidentes foi o impacto, há 65 milhões de anos, que exterminou os dinossauros. Por esse motivo, os cientistas não buscam apenas por exoplanetas parecidos com a Terra atual mas por aqueles que se assemelhem a versões passadas. "A Terra moderna pode ser o pior modelo para usarmos na busca de vida em outras partes", diz Caleb Scharf, diretor do Centro de Astrobiologia da Universidade Colúmbia.
Não foi nada fácil aos primeiros exploradores fazer uma ideia da profundeza dos oceanos, mapear o lado oculto da Lua ou distinguir indícios da presença de oceanos sob as superfícies congeladas das luas de Júpiter - e também não será fácil encontrar vida nos planetas de outras estrelas. Mas agora temos bons motivos para crer que devem haver bilhões de tais planetas, e eles guardam a promessa de expansão não só do horizonte do conhecimento humano mas também da imaginação humana.
Durante milhares de anos, nós conhecíamos tão pouco a respeito do universo que priorizamos nossas fantasias, em detrimento da realidade. (Como escreveu o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, o misticismo dos visionários religiosos do passado surgiu de uma "intolerável disparidade entre a imensidão de seus desejos e a estreiteza da realidade".) Agora, com os avanços da ciência, tornou-se mais que evidente que a assombrosa criatividade da natureza supera em muito a nossa. E já se descortinam inumeráveis mundos novos, cada qual com sua história.
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